PNE - Lusa
Macau, China, 11 abr (Lusa) - O executivo de Macau deveria agir menos como "uma empresa" e mais como um Governo, lançando políticas a longo prazo em benefício da população e não apenas do setor do jogo, defendeu o académico Larry So.
Mais um mega empreendimento turístico abriu hoje portas em Macau através de investimento norte-americano, elevando para 35 o número de casinos na capital mundial do jogo, com uma área de cerca de 30 quilómetros quadrados, mas o professor da área de assistência social do Instituto Politécnico de Macau (IPM) lamenta que as condições de vida da população não estejam a acompanhar o crescimento económico.
"As classes mais desfavorecidas não estão contentes, apesar de haver muito dinheiro a entrar [em Macau], porque este dinheiro não está a ser investido em benefício destas pessoas. O desenvolvimento da economia não está a beneficiar de todo a população", disse Larry So, em declarações à agência Lusa.
Ao constatar que "existe um grande fosso entre ricos e pobres", o académico salientou que as "condições de vida, especialmente das classes mais desfavorecidas, não estão a acompanhar o desenvolvimento económico", apontando como principais problemas a inflação elevada e o salário médio, que está abaixo da média mundial tendo em conta a paridade do poder de compra.
"Até mesmo a classe média está a ter dificuldade em conseguir comprar uma casa e nos últimos dez anos não foi construída habitação pública, só este ano vão surgir algumas unidades", observou.
Para Larry So, o "Governo não tem estado a fazer muito por uma distribuição equitativa da riqueza", enquanto as "receitas de jogo têm aumentado fortemente nos últimos anos e o Governo tem reservas fortes, tem muito dinheiro, limitando-se a distribuir cheques pela população".
"Só um Governo preguiçoso lança uma política destas, que funciona como um bónus, mas falamos de um Governo e não de uma empresa", disse, realçando que "uma empresa partilha o lucro com os funcionários, mas o Governo não faz negócio com e para a população".
Por isso, o académico considera que esse dinheiro deveria antes "ser investido, por exemplo, em habitação pública e na saúde", lamentando que só recentemente o executivo tenha "apresentado um plano a dez anos para a saúde e que este passe apenas pela construção, não se falando da melhoria da qualidade dos serviços".
"O Governo não tem um plano de desenvolvimento a longo prazo, não tem uma visão a longo prazo que um Governo deveria ter. É muito bom a fazer negócio, mas fazê-lo sem qualquer visão é ser apenas um homem de negócios e não é o que se espera de um Governo", sublinhou.
Esta situação é atribuída pelo académico ao "lobby exercido pela indústria do jogo, e também pelos chamados 'empresários tradicionais', para que não seja investido tanto dinheiro em aumentos salariais, saúde e bem-estar e para que sejam construídas mais infraestruturas, mas em seu benefício e não em benefício da população".
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