sexta-feira, 20 de abril de 2012

Timor-Leste: PR critica artigo de académico de Singapura sobre línguas oficiais



MSE - Lusa

Díli, 20 abr (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, criticou hoje um académico da Universidade Nacional de Singapura por causa de um artigo sobre a opção timorense pela escolha do português e do tétum como línguas oficiais.

Intitulado "Política Linguística de Timor: Um Pedregulho no sapato", o artigo do académico Vitor Richard Savage, professor associado de Geografia na Universidade Nacional de Singapura, classifica o Estado timorense como "marginalizado" e refere que a "questão latente" no país está relacionada com a política linguística.

Numa resposta, enviada à agência Lusa, o Presidente timorense começa por ironizar.

"Já nos chamaram Estado frágil e Estado falhado, mas Estado marginalizado é, sem dúvida, um novo título que acaba de nos ser concedido", refere José Ramos-Horta.

O chefe de Estado timorense lembra que a Constituição de Timor-Leste determina que o tétum e o português são línguas oficiais e as línguas indonésia e inglesa de trabalho.

"Será possível atitude mais aberta e pragmática do que esta?", questiona Ramos-Horta.

No artigo, o académico da Universidade Nacional de Singapura refere que está a ser dada prioridade ao português por ser a língua da elite política e social, considerando que não liga os timorenses ao mundo globalizado, e que Portugal não tem poder político e económico no mundo ou na União Europeia para ser usada a sua língua.

Em relação a esta crítica, o Presidente de Timor-Leste explica que a "liderança e o povo timorense, embora ilhéus, têm uma mentalidade voltada para o exterior, aberta a influências culturais".

"Estamos certamente entre os povos mais poliglotas do Mundo. Uma grande percentagem entre nós usa três a cinco idiomas - uma língua local materna, tétum, indonésio, português e inglês", explica José Ramos-Horta.

No artigo, o Presidente timorense refere também que aconselha sempre os jovens timorenses a terem uma atitude aberta à informação e a aprenderem várias línguas.

"Exorto-os a não terem a atitude provinciana do australiano médio, ou do americano ou britânico, que dominam apenas o inglês", salienta.

Segundo o Presidente, Vitor Savage parece "acarinhar a visão simplista do inglês a abrir, por si, as portas do céu a um Timor-Leste pobre, resolvendo problemas sociais e económicos".

"E, sendo o inglês a chave do futuro de Timor-Leste, presumo que será também o caminho da fortuna para os outros países pobres", acrescenta.

José Ramos-Horta questiona ainda o académico sobre potências económicas que não falam a língua inglesa, como o Brasil, o Japão, a Alemanha e a França, e sobre países com o estatuto de Estados frágeis, onde se fala aquela língua.

"Embora reconhecido ao sr. Richard Savage por nos indicar generosamente caminhos para sairmos da marginalização regional, atrevo-me a desafiar visões anglo-saxónicas centradas na ideia de que o Mundo seria um lugar melhor se nos rendessemos todos à dominância do inglês", refere.

Segundo o Presidente timorense, o inglês é uma "língua importante", quase incontornável, mas o facto de um "idioma ter utilidade regional ou global não conduz inevitavelmente à conclusão" de se dever "abandonar as raízes históricas e culturais e fazê-lo língua oficial".

Ramos-Horta explica também que 31,4 por cento dos timorenses entende a língua inglesa, que 90 por cento da população usa tétum diariamente, que 35 por cento é utilizador fluente do indonésio e que 23,5 por cento fala, lê e escreve português.

"É óbvio que ou o sr. Savage ainda não foi a Timor-Leste ou foi lá de passagem - no estilo aterra e descola a seguir", conclui.

3 comentários:

Anónimo disse...

O Sr. Savage acabou de dar um tiro no pé. Pena é que alguns timorenses anti-língua portuguesa estejam a usar este artigo em favor das ideias que lhes foram, digamos, inspiradas.

Anónimo disse...

Horta no seu melhor, voltou a ser jornalista.
Só Timor que tanta falta tem de cabeças pensantes, chuta assim para Bingo o Horta.
Timor sempre a dar tiros nos pés, mas o Horta Mula Teimosa, vai dar resposta, esperem pelas próximas eleições.
Aqui a Lucrécia sabe que nem tudo o que o Horta diz é para se escrever, mas de vez em quando o rapazito lá vai tendo razão e água mole em cabeça dura de Timorense, tanto bate até que fura.

Beijinhos da Querida Lucrécia

Anónimo disse...

horta, parabéns pelo lúcido comentário.

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