MSE - Lusa
Díli, 20 abr (Lusa)
- O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, criticou hoje um académico da
Universidade Nacional de Singapura por causa de um artigo sobre a opção
timorense pela escolha do português e do tétum como línguas oficiais.
Intitulado
"Política Linguística de Timor: Um Pedregulho no sapato", o artigo do
académico Vitor Richard Savage, professor associado de Geografia na
Universidade Nacional de Singapura, classifica o Estado timorense como
"marginalizado" e refere que a "questão latente" no país
está relacionada com a política linguística.
Numa resposta,
enviada à agência Lusa, o Presidente timorense começa por ironizar.
"Já nos
chamaram Estado frágil e Estado falhado, mas Estado marginalizado é, sem
dúvida, um novo título que acaba de nos ser concedido", refere José
Ramos-Horta.
O chefe de Estado
timorense lembra que a Constituição de Timor-Leste determina que o tétum e o
português são línguas oficiais e as línguas indonésia e inglesa de trabalho.
"Será possível
atitude mais aberta e pragmática do que esta?", questiona Ramos-Horta.
No artigo, o
académico da Universidade Nacional de Singapura refere que está a ser dada
prioridade ao português por ser a língua da elite política e social,
considerando que não liga os timorenses ao mundo globalizado, e que Portugal
não tem poder político e económico no mundo ou na União Europeia para ser usada
a sua língua.
Em relação a esta
crítica, o Presidente de Timor-Leste explica que a "liderança e o povo
timorense, embora ilhéus, têm uma mentalidade voltada para o exterior, aberta a
influências culturais".
"Estamos
certamente entre os povos mais poliglotas do Mundo. Uma grande percentagem
entre nós usa três a cinco idiomas - uma língua local materna, tétum,
indonésio, português e inglês", explica José Ramos-Horta.
No artigo, o
Presidente timorense refere também que aconselha sempre os jovens timorenses a
terem uma atitude aberta à informação e a aprenderem várias línguas.
"Exorto-os a
não terem a atitude provinciana do australiano médio, ou do americano ou
britânico, que dominam apenas o inglês", salienta.
Segundo o
Presidente, Vitor Savage parece "acarinhar a visão simplista do inglês a
abrir, por si, as portas do céu a um Timor-Leste pobre, resolvendo problemas
sociais e económicos".
"E, sendo o
inglês a chave do futuro de Timor-Leste, presumo que será também o caminho da
fortuna para os outros países pobres", acrescenta.
José Ramos-Horta
questiona ainda o académico sobre potências económicas que não falam a língua
inglesa, como o Brasil, o Japão, a Alemanha e a França, e sobre países com o
estatuto de Estados frágeis, onde se fala aquela língua.
"Embora
reconhecido ao sr. Richard Savage por nos indicar generosamente caminhos para
sairmos da marginalização regional, atrevo-me a desafiar visões anglo-saxónicas
centradas na ideia de que o Mundo seria um lugar melhor se nos rendessemos
todos à dominância do inglês", refere.
Segundo o
Presidente timorense, o inglês é uma "língua importante", quase
incontornável, mas o facto de um "idioma ter utilidade regional ou global
não conduz inevitavelmente à conclusão" de se dever "abandonar as
raízes históricas e culturais e fazê-lo língua oficial".
Ramos-Horta explica
também que 31,4 por cento dos timorenses entende a língua inglesa, que 90 por
cento da população usa tétum diariamente, que 35 por cento é utilizador fluente
do indonésio e que 23,5 por cento fala, lê e escreve português.
"É óbvio que
ou o sr. Savage ainda não foi a Timor-Leste ou foi lá de passagem - no estilo
aterra e descola a seguir", conclui.
3 comentários:
O Sr. Savage acabou de dar um tiro no pé. Pena é que alguns timorenses anti-língua portuguesa estejam a usar este artigo em favor das ideias que lhes foram, digamos, inspiradas.
Horta no seu melhor, voltou a ser jornalista.
Só Timor que tanta falta tem de cabeças pensantes, chuta assim para Bingo o Horta.
Timor sempre a dar tiros nos pés, mas o Horta Mula Teimosa, vai dar resposta, esperem pelas próximas eleições.
Aqui a Lucrécia sabe que nem tudo o que o Horta diz é para se escrever, mas de vez em quando o rapazito lá vai tendo razão e água mole em cabeça dura de Timorense, tanto bate até que fura.
Beijinhos da Querida Lucrécia
horta, parabéns pelo lúcido comentário.
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