domingo, 22 de abril de 2012

O DELÍRIO



Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

Um dos sintomas da esquizofrenia europeia é o delírio com que as grandes multinacionais políticas fazem, por estes dias, o que querem das nossas vidas. Com base num experimentalismo que às vezes chega a parecer criminoso, os tecnocratas da 'troika' gerem a vida de milhões de cidadãos como se não houvesse erro que lhes possa ser imputado.

A análise do FMI fez-me ir ao armário à procura de vestes pessimistas que eu não queria estrear. Esses senhores dizem-nos agora, com o ar de quem sempre achou que ia ser assim, que a austeridade vai matar a nossa economia e que o aperto aos bancos vai fazer desaparecer o crédito. Dizem-nos agora, com o ar de quem sempre achou que ia ser assim, o que muita gente anda a dizer desde que desenharam o famoso memorando.

E eu até estou à vontade para falar do assunto porque sempre fui dos que pensaram que é preciso meter na ordem as contas públicas, "custe o que custar". Os senhores com quem eu concordei dizem-me agora que estou errado. E dizem-no como se tivesse sido eu a convencê-los que eles tinham razão.

Por causa das suas experiências, o dinheiro está a desaparecer de Portugal e nem as boas ideias parecem valer um tostão. Todas as conversas de negócios são feitas à volta do dinheiro que não há. É como se os homens de negócios mantivessem a conversa, apenas, porque não querem perder a arte da retórica. Toda a gente fala do que sabe quase não existir.

E neste mundo à parte em que se fala de dinheiro, porque o pouco que existe não sai deste círculo fechado, só existe o medo de que tudo acabe por dar para o torto. Já há consciência de que a multidão de deserdados cresce todos os dias e que cada dia tem menos a perder.

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