domingo, 22 de abril de 2012

Só na Alemanha é que há mais administradores do que em Portugal nas empresas cotadas



Ana Isabel Ribeiro – Dinheiro Vivo

Portugal surge em segundo lugar no ranking europeu dos países em que as principais empresas cotadas têm mais administradores.

Os dados são de 2011 e indicam que os conselhos de administração das empresas do PSI (principal índice da Bolsa nacional) têm, em média, 15,2 membros, entre executivos e não executivos.

Os números são do mais recente relatório anual sobre o governo da sociedade da consultora Heidrick & Struggles, que analisou os relatórios de mais de 400 empresas que integram os principais índices bolsistas europeus.

O relatório compara vários aspetos dos conselhos das grandes empresas europeias, que vão desde a remuneração até à avaliação e composição dos órgãos sociais. A maioria dos dados reporta a 2010.

O prefácio é assinado por António Borges, que foi administrador da Heidrick & Struggles americana antes de integrar o FMI. Borges é hoje consultor do Governo para as privatizações e administrador não executivo da Jerónimo Martins.

Na lista de 15 países só as empresas alemãs estão à frente de Portugal em número de gestores. Neste país há representantes dos trabalhadores nos órgãos sociais. A média europeia é de 12,1 membros por conselho.

"A quantidade em si não diz nada. Pode ser uma coisa boa desde que as pessoas que compõem o órgão possam acrescentar valor", diz Murteira Nabo. Para o gestor, que ainda é chairman da Galp, mau é não existirem pessoas diferenciadas que tenham capacidade de gerar valor acrescentado em comités especializados. A diversidade permite acompanhar a sociedade de forma independente "e contrabalançar o poder que é exercido pelo núcleo duro de acionistas".

Murteira Nabo, que também já foi presidente da Portugal Telecom, é crítico do modelo seguido em várias grandes empresas nacionais. Na Galp, por exemplo, cada um dos dois maiores acionistas tem sete administradores, mas têm todos a mesma opinião - a do acionista que representam. Se é para votarem todos da mesma maneira não vale a pena, defende Murteira Nabo.

O gestor, que na próxima semana vai deixar o cargo de chairman da Galp, reconhece que mudou de opinião e defende, agora, o modelo dualista em Portugal. Este modelo assenta num conselho geral e de supervisão, em que têm assento os representantes dos acionistas, que define a estratégia, e a quem responde uma comissão executiva.

A configuração foi testada no BCP com maus resultados em 2007, mas manteve-se até ao ano passado e ainda é usada na EDP. Para Murteira Nabo, tem vantagens sobre a organização monista que prevalece nas empresas portuguesas: do conselho de administração alargado sai uma comissão executiva com um CEO autónomo do presidente não executivo da empresa.

Na classe empresarial nacional não existe uma cultura de convivência e partilha de poder como nas empresas anglo-saxónicas, o que torna difícil a concertação entre CEO e chairman, realça Murteira Nabo.

O aumento de administradores é uma resposta à exigência crescente de competências específicas ao nível dos conselhos de administração e refletidas nos comités especializados. Mas para a Heidrick & Struggles, a partir de 15 membros, a operacionalidade dos conselhos torna-se difícil de gerir. A média em Portugal está no limite, mas são vários os casos de conselhos de administração que o ultrapassam: BES, Galp, EDP e BCP.

Mas porque são tão grandes os conselhos de administração em Portugal? O diretor executivo do Instituto Português de Corporate Governance, Manuel Agria, avança com uma explicação: a elevada concentração do capital das empresas nacionais em poucos acionistas.

As administrações acabam por ser "um retrato da relação de forças entre os principais acionistas", o que pode explicar um maior número de administradores para assegurar a representação de todos os interesses. Esta leitura faz sentido quando se olha para o recente realinhamento de poderes na Galp em que o reforço do acionista Amorim Energia se traduziu no aumento do número de administradores (de 17 para 21) e na escolha de Américo Amorim para chairman. Manuel Agria refere também o efeito da inclusão dos órgãos de fiscalização e auditoria e de outros comités especializados (risco, estratégia, remuneração), bem como a entrada de administradores independentes.

As empresas nacionais também estão bem posicionadas no top dos salários dos administradores não executivos. Os chairmen foram, em 2010, os quintos com remuneração mais elevada: 369 mil euros por ano, acima da média europeia de 292 mil euros.

Uma das explicações para os níveis mais elevados de vencimentos dos presidentes não executivos verifica-se em várias companhias.

O chairman recebe mais quando já foi CEO da empresa. Esta evolução acontece onde há controlo familiar - Sonae ou Jerónimo Martins -, mas o BPI também é exemplo.

Porém, quando se compara o vencimento médio anual dos administradores na Europa, as empresas nacionais estão a meio da tabela - com 70 mil euros, valor que fica abaixo da média europeia.

Ainda assim, os gestores portugueses estão entre os que mantiveram ou até subiram a remuneração nesse ano face a 2009. E nessa tendência contrastam com a média europeia.

Pela primeira vez em 12 anos, os administradores europeus sofreram uma quebra na remuneração média de 4% para 77 mil euros.

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