Paulo Gaião – Expresso, opinião, em blogues
Dois representantes alemães da Ferrostaal que vendeu os submarinos a Portugal, Johann Friedrich Haun e Hans Peter Muehlenbeck, confessaram num tribunal de Munique em Dezembro de 2011 que a empresa pagou 62 milhões de euros em subornos pela venda dos submarinos a Portugal e à Grécia.
Pelo menos um terço desta quantia de 62 milhões de euros chegou às autoridades dos dois países, disse Joachim Eckert, o juiz do tribunal alemão. O resto terá sido distribuído por uma teia de intermediários. Em troca da confissão, ambos os representantes da Ferrostaal foram condenados a uma pena suspensa de dois anos . A empresa multinacional aceitou pagar por acordo uma multa de 140 milhões de euros ao Estado, cerca de um quarto do valor de um submarino.
Parece óbvio que o Ministério Público alemão, em alguns casos sensíveis mais dependente do poder político do que verdadeiramente autónomo (como ficou demonstrado há uns anos no caso do financiamento ilegal da CDU) fez o acordo para não revolver mais podres e defender o interesse público. Os alemães foram corruptores ativos. E o suborno era prática habitual há muitos anos, aceite pela Ferrostaal (uma empresa presente em mais de 40 países) e pelos governos compradores de equipamentos desde pelo menos 1999, como também disse o juiz do tribunal alemão. Sem comissões, não se fazia negócio.
Na Grécia, o ex-ministro da Defesa está preso desde a semana passada, acusado de corrupção por receber "luvas" na compra de quatro submarinos em 2000 num valor de quase 3 mil milhões de euros. Em Portugal, o caso dos submarinos (duas unidades), comprados no tempo em que Durão Barroso era primeiro-ministro e Paulo Portas ministro da Defesa por quase mil milhões de euros permanece em fase de inquérito há seis anos. Nenhum governante foi até hoje ouvido no processo. Esta semana, o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, disse que não havia verbas para fazer perícias. A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, desmentiu e disse que em seis anos de investigação nunca o MP pediu a realização de quaisquer perícias.
O dinheiro cala a verdade
Não há perícias, mas há contas avaliadas pelos alemães no processo encerrado em Munique. Se um terço de 62 milhões em "luvas" chegou às autoridades gregas e portuguesas, este valor é de 20 milhões 666 mil euros. Pressupondo que as autoridades gregas e portuguesas repartiram o bolo, a questão é saber para que bolsos foram 10 milhões e 333 mil euros chegados a Portugal? (ou pelo menos metade disso porque o valor do negócio grego foi o dobro). Nem tudo está perdido... O processo está aí (para além do das contrapartidas sobreavaliadas da compra dos submarinos) À espera que lhe mexam.
Quando "o dinheiro fala, a verdade cala" (para utilizar a frase na moda citada pelo juiz Carlos Alexandre). Mas o dinheiro deixa sempre rasto. O problema é haver coragem para farejar...
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