terça-feira, 17 de abril de 2012

PRECISAMOS INTEGRAR NOS RELACIONAMENTOS CONCEITOS ALTERNATIVOS DE NOVO TIPO!



Martinho Júnior, Luanda

1 – O Relatório sobre os Índices de Desenvolvimento Humano do PNUD de 2011, que fez uma maior cobertura que os anteriores, não deixa margem para dúvidas em relação aos membros da CPLP: apenas Portugal (41º), Brasil (84º) e Cabo Verde (133º) não integram o quadro do Desenvolvimento Humano Baixo, a cauda dos povos de todo o mundo! (http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3880&lay=pde).

O quadro é confrangedor em relação aos outros componentes da CPLP: São Tomé e Príncipe (144º), Timor Leste (147º), Angola (148º), Guiné Bissau (176º) e Moçambique (184º)!...

… Até a Guiné Equatorial, que concorre à CPLP E tem sido apontada pelo seu regime corrupto e pouco dado à atenção para com o seu próprio povo, pertence aos Índices de Desenvolvimento Médio, ocupando a 136ª posição!...

De todos os componentes da CPLP que possuem os mais baixos Índices que mais se têm potenciado no sentido de sair do último escalão até ao momento, destaca-se Angola, em função de 10 anos de ausência de tiros durante a qual a sociedade tem sido sempre mobilizada para a paz e para uma cultura de diálogo, democracia, (relativa) tolerância e cidadania, o que tem sido acompanhado por um notável esforço de recuperação de suas estruturas e infra estruturas que se reflectem numa melhor qualidade de vida que a que ocorria em tempo de convulsões armadas.

Reconhecendo isso, é preciso todavia reconhecer que os impactos do capitalismo neo liberal que caracterizam a essência do crescimento na “emergência” angolana, têm provocado, ao não privilegiar as questões eminentemente humanas, um aumento abissal das desigualdades, das potencialidades das injustiças sociais e o espectro dum fosso entre uma elite poderosa e o resto da sociedade, situação que a prevalecer poderá vir a acarretar riscos de novo tipo com reflexos na evolução sócio-política do país, tendo em conta os cenários que chegam das mais diversas partes do mundo, desde a volatilização da URSS, até à “primavera árabe” e… aos últimos acontecimentos em África, do Sudão ao Mali e às Guinés!...

Os relacionamentos de Angola com os outros países, em especial os que estão a ser cumpridos no quadro da CPLP, parece começarem a reflectir ênfases que se correlacionam com os impactos internos e as transformações sociais operadas que acima refiro e isso apesar de Angola estar a receber ajudas que se podem considerar de históricas e solidárias, com conceitos alternativos exemplares, tal qual praticamente todos os outros membros da CPLP!

2 – Essa ajuda solidária exemplar é a de Cuba, substancialmente activa nos sectores da educação e da saúde, de Cuba que ocupa o 51º posto da tabela dos Índices de Desenvolvimento Humano, mas é a primeira ao longo de décadas em relação aos países que herdaram as sequelas da “rota dos escravos” no esforço desse tipo de ajudas, apesar dos terríveis constrangimentos que derivam do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, que por seu turno pouco ou nada têm a dizer em termos de educação e saúde, a não ser os péssimos exemplos do que ocorre dentro do seu território, mesmo com os “programas bem intencionados” de Barack Hussein Obama…

O exemplo solidário de Cuba em Angola, se fosse realmente estudado, sentido e bem entendido (a consciência humanística desse exemplo é estimulante, mas as novas elites não conseguem digerir para além do estômago do seu oportunismo), seria suficiente motivação para Angola, nos seus relacionamentos externos.

Angola tem possibilidade de integrar capacidades no âmbito da educação e da saúde que vinculem os entendimentos recíprocos para além dos negócios e dos interesses materiais, capacidades que concedam outra fecundidade aos acordos e ao menos respeitem a intenção de conferir ao homem a prioridade, uma questão essencial para quem possui estratégias salutares de desenvolvimento efectivamente sustentável …

Poderá dizer-se como justificação que Angola não tem ainda, nem para si própria, suficiente “know how” nessas matérias, mas quando há constrangimentos, há sempre possibilidades que se abrem e é a própria Cuba que incentiva ainda essas possibilidades:

- Em relação ao Haiti há acordos entre Haiti, Cuba e Brasil que se estão a tornar por si também exemplares (http://paginaglobal.blogspot.com/2012/02/brasil-assina-acordos-com-cuba-e-haiti.html).

- No que diz respeito à Guiné Bissau, Cuba estabeleceu um acordo comum com a África do Sul, que abre perspectivas adicionais em benefício sobretudo da própria Guiné Bissau (http://expansao.sapo.ao/noticias/internacional/detalhe/guine_bissau_e_africa_do_sul_reforcam_cooperacao; http://www.oje.pt/noticias/africa/guine-bissau-e-africa-do-sul-acordam-aumento-de-cooperacao).

O que caracteriza os relacionamentos externos de Angola neste momento, é precisamente o reflexo da arquitectura patente em sua própria sociedade em função dos impactos mais negativos da globalização capitalista e neo liberal: as novas elites angolanas, egoístas, quantas vezes mal formadas e poucoi dada a estudos, são de tal maneira poderosas que condicionam em benefício de seus interesses tudo o mais!

No caso da Guiné Bissau os acordos foram antes de mais estabelecidos num campo em que Angola também não tem assim tanto “kmow how” quanto isso: na exploração do bauxite!

A questão da reorganização e reforma das Forças Armadas, bem como dos serviços de segurança, é um projecto que reflecte no espectro sócio-político da Guiné Bissau, a mesma visão que está a ser posta em prática em Angola!

Parece que a nível da inteligência ligada às vocações das novas elites atraídas e integradas na globalização capitalista neo liberal, há impedimentos que tornam impossível ir muito mais longe do que se tem ido, tirando partido aliás das lições correntes.

Procurar “lucros”, conforme aos “mercados” é das ideias mais mesquinhas, mais egoístas e mais absurdas que podem haver, principalmente por que se estão a repetir os mesmos erros históricos que têm trazido para a Humanidade e para África muito em particular, a doença crónica do subdesenvolvimento, com todo o seu cortejo de crises!

A exploração, o transporte e o aproveitamento do bauxite, nas duas Guinés e mesmo em Angola, é um campo onde aliás o que torna preponderante a iniciativa é a sincronização de esforços elitistas e sistematizados a partir de “plataformas financeiras” como as de Hong Kong e Macau, a que se juntou a “plataforma financeira” de Luanda (que tem sensivelmente dez anos, os anos da paz angolana), todas elas instrumentos num quadro de iniciativas que, por qualquer das vias (a da China tanto mais), é favorável aos interesses da aristocracia financeira mundial: até pelos métodos de exclusão e não de integração dos seus planos é sintomática essa orientação!

3 – Com todas as turbulências que a sociedade na Guiné Bissau tem vivido sobretudo nas últimas duas décadas, nunca alguém pôs em causa os relacionamentos bilaterais e os acordos (salutares) Guiné Bissau – Cuba, muito pelo contrário.

Pelo poder na Guiné Bissau já passaram dirigentes das mais diversas tendências e com as mais diversas filosofias, mas todos eles são unânimes: o relacionamento histórico existente, ao cultivar uma via de solidariedade e de amor pelo sentido da vida inspirado na própria Revolução Cubana e no Che, é inquestionável e é o mais belo dos exemplos, como acontece aliás em muitos outras paragens com Cuba, do Haiti a Timor, passando por Angola!

Os êxitos que se vão conseguindo entre a Guiné Bissau e Cuba e os esforços na melhoria desses relacionamentos, são sentidos com orgulho por ambos os povos, por ambos os estados, por todos os dirigentes civis ou militares, por todos nós cidadãos dos países mais marginalizados do mundo, como pequenas conquistas que só fazem bem inclusive nos seus efeitos psico-sociais, quando eles são divulgados pelos meios de comunicação pública: mobilizam pela unanimidade, mobilizam pela energia positiva que transmitem, mobilizam pela sua carga emocional e nunca dividem (salvo nos casos patológicos que também os há)!

Foi assim (a título de exemplo):

- Com a formação de 88 médicos guineenses (http://noticias.sapo.ao/lusa/artigo/13498882.html);



4 – Ao apelar para a revisão e reformulação dos relacionamentos de Angola para com a África duma forma geral, com base nos recentes exemplos que antes referi, julgo pois que é preciso lembrar os conceitos alternativos inspirados por Cuba, para que a formulação dos acordos ao menos não comporte a suspeita de Angola alguma vez estar a ser agente de interesses voltados para a exploração de matérias primas e muito pouco mais, um agente neo colonial entre tantos outros, os que se prezam de década após década “vir depenicar o seu naco ao corpo inerte de África”!

Esse apelo é evidente que é também dirigido a todos os membros do CPLP, que nas alturas críticas parecem esquecer, senão mesmo desprezar, o exemplo dos relacionamentos de Cuba que a maior parte deles tem experimentado sempre de forma tão benéfica para seus interesses e sociedade!

A direita portuguesa afecta à OTAN pretenderá um exercício de força para com os militares que fizeram o golpe na Guiné Bissau, um golpe que é necessário que todos condenem, mas que não deve trazer respostas militares e de inteligência que utilizem o tipo de receitas à moda norte americanas, a via da força bruta para impor modelos que são becos sem saída, quando é precisamente com esses sectores que é preciso e urgente o diálogo, o mesmo diálogo que não terá havido suficientemente quando as tensões começaram e se foram avolumando até produzir o clímax que se está a viver!

Só pode haver profilaxia dos traumas da Guiné Bissau, com pelo menos a integração dos conceitos alternativos que se prendem ao sentido da vida, por que afinal eles são a mais expressiva pedagogia prática de relacionamentos salutares entre os estados, as nações e os povos!

PAZ SIM, NATO NÃO! - CUBA PARA A CPLP!

Foto: Recepção ao 1º Ministro da Guiné Bissau, Carlos Gomes Júnior, pelo Vice Presidente de Cuba, Machado Ventura, a 12 de Maio de 2010.

Relembro:
- O que escrevi inspirado na “Operação Carlota” e muito em especial em “Operação Carlota III – III” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/02/operacao-carlota-iii-iii-cuba-para-cplp.html (CUBA PARA A CPLP).

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