segunda-feira, 23 de abril de 2012

Recordações da ativista Ruth First, 30 anos depois, no local onde foi assassinada



Emanuel Novais Pereira, da Agência Lusa

Maputo, 22 abr (Lusa) - Trinta anos após o assassínio de Ruth First, ativista anti-apartheid, o Festival Internacional de Música de Moçambique é dedicado este ano à jornalista, morta na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Depois de um período de exílio na Suíça, onde se refugiou do regime de apartheid na África do Sul, Ruth First mudou-se para Moçambique, em finais da década de 1970, a convite de Aquino de Bragança, para dirigir o Centro de Estudos Africanos, da UEM.

Na tarde do dia 17 de agosto de 1982, durante uma reunião, a sul-africana morreria nas instalações daquele Centro, vítima de uma carta-bomba enviada pelos serviços secretos sul-africanos.

"Almoçámos juntas com as pessoas da reunião e com membros do Congresso Nacional Africano (ANC). Alguns deles estavam com ela na sala. Não morreram, mas ficaram feridos", recordou em entrevista à Lusa a zimbabueana Moira Forjaz, amiga da ativista.

Mais do que uma simples amizade, a zimbabueana vê na ativista uma guia que influenciou o seu percurso de vida, e, por isso, a agora diretora do Festival Internacional de Música de Moçambique dedica a edição deste ano do evento à memória de First.

Hoje com 70 anos, a antiga fotojornalista conta que a professora universitária estava "contente" por viver em Moçambique e que "não imaginava que iria morrer daquela forma".

"Naturalmente, todas aquelas pessoas (opositores ao regime do apartheid) sentiam que havia a possibilidade de perseguição, até a morte. A Ruth tinha este medo. Esteve na prisão e não há dúvidas que aquele período de isolamento, tornou-a mais frágil", lembrou.

"Aqui em Moçambique, ela estava muito à vontade, como não a via há muitos anos. Aliás, estava contente. Gostava de estar aqui", acrescentou.

No regresso à UEM, Forjaz constatou, com desapontamento, que não existe na instituição qualquer evocação da memória de First.

"Acho que é uma pena, porque ela era investigadora do Centro de Estudos Africanos. Estou à espera dessa homenagem, de alguma referência para o facto de ela ter morrido aqui", disse.

No próximo dia 04 de maio, que coincide com a data de aniversário de Ruth First, que completaria 87 anos, Maputo recebe o Festival Internacional de Música, que se vai prolongar por nove dias.

Além da participação de artistas de Moçambique e de Portugal, o festival contará com a presença de músicos dos Estados Unidos, Lituânia, Japão, Polónia e Noruega.

Portugal será representado por Carlos Pinillos e Filipa Castro, bailarinos principais da Companhia Nacional de Bailado, de Lisboa.

O evento terá ainda recitais de piano e um concerto de consciencialização do HIV/SIDA, sendo a edição deste ano dedicada ao ballet.

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