sábado, 28 de abril de 2012

“TIMOR NÃO É UM PAÍS FÁCIL PARA SE TRABALHAR”




Zélia Soares é formada em engenharia agrónoma, com especialização em agronomia tropical. Antes, esteve em São Tomé e Princípe, também uma ilha como Timor-Leste. Em África era o cacau, aqui é o café e em ambos os países nota “um certo abandono das plantações.”

Timor-Leste é um país em que grande parte da população vive da agricultura. E é do campo que provém um dos produtos mais cobiçados e que possivelmente poderia se tornar uma das grandes fontes de rendimento do país...ou não. “A produção de café é muito baixa, cerca de 100 a 300 kg por hectare, quando poderia ser 1000 kg,” lamenta Zélia.

Investir, Formar e Renovar

O Programa de Extensão Rural (PER), numa cooperação multilateral com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), União Europeia e o Instituto de Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), tem como principal objectivo “dar formação aos extensionistas [trabalhadores de extensão rural] do governo. Falta formação ao agricultor timorense e de certa forma pequenos apoios a nivel material,” começa por explicar.

Em Timor-Leste desde 2009, Zélia divide o seu tempo entre a capital Díli, Ermera, Aileu e Fazenda Algarve em Liquiça e a gerir uma equipa de 26 pessoas, todas timorenses.

No entanto grande parte das plantações de café pertencem a familias, que possuem cerca de um ou dois hectares, e que pelo pouco dinheiro que conseguem reunir, não investem muito grande na sua plantação.

“Apesar de se tentar sensibilizar as pessoas para a renovação das plantações com o objectivo de obter um maior rendimento, o período indonésio acabou por habituá-los a somente colher e não havia o cuidado de renovar o cafezal e as plantações em geral,” esclarece. Contudo, durante a renovação do cafezal o dinheiro não abunda e o agricultor tem que ter outra actividade “para uma a diversificação de culturas dentro da plantação de cafés e garantir também um maior rendimento,” completa.

Só o petróleo não chega

“Se Timor quiser continuar a considerar o café como principal produto de exportação, tem que começar a investir bastante,” avisa Zélia. O petróleo não é uma fonte de rendimento eterna e para que a indústria do café cresca tem que começar a haver apoio aos agricultores a nível material mas também em termos de acompanhamento. E dá um exemplo.

“Em 2009, o Governo apoiou um programa em Ermera, subsidiando cerca de 20 hectares. Só desde essa altura deixou de haver um acompanhamento e hoje passo por lá e está exactamente tal como foi encontrado [ao abandono]. Além disso, é preciso lembrar constantemente certas tecnicas agrícolas.”

Zélia Soares lamenta ainda as péssimas estradas, que dificultam todo o trabalho, mas acredita no potencial do país para a indústria do café.

“Timor-Leste não é um país fácil para trabalhar, principalmente nos distritos. Existem condições edafoclimáticas para ter um bom café. Na zona de Turiscai, no distrito de Manufahi, o café arábica é de boa qualidade quando é bem preparado e processado, mas é precisamente neste úlitmo ponto que falha. Ainda há muita coisa por fazer, mas nesse sentido acaba por ser positivo porque é um desafio, uma aprendizagem. E o país é muito bonito!”

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