domingo, 20 de maio de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Angola Avante!

Hoje o tema é duro e sei que há muitos que não gostam, por isso vou ser breve. Mas primeiro vou cumprir a minha promessa de vos contar a estranha história relatada por Chris Two no seu delicioso restaurante em Veneza. Vamos então:

Regressados ao apartamento de Chris Two, ficaram em silêncio, observando-se mutuamente. Depois, sem uma palavra, abraçam-se e beijam-se, prolongadamente. A língua do Anjo percorreu todo o corpo de Chris e este, completamente rendido aos encantos do Anjo, retribuía carícias, beijos e suspiros. Aos poucos, os corpos fundiram-se, primeiro em lentos movimentos, depois em acelerados gestos e finalmente em espasmos loucos e violentos, até que um choque súbito percorreu os dois seres.

Caíram numa estranha sonolência, mistura de prazer e cansaço ofegante, ficando entrelaçados, num sepulcral silêncio, entrecortado por beijos, carícias e suspiros.“Vamos percorrer o Paraíso?” Sussurrou ela ao ouvido dele. “Contigo vou a qualquer lado” murmurou Chris. Olharam-se fixamente, durante um longo período de tempo, acariciando-se. O Anjo abriu as asas cobrindo os dois corpos adormecidos.

No próximo Ampla Cidade vamos ver a visita de Chris Two, guiado pelo anjo feminino de pele castanha, ao Paraíso. Mas agora vamos falar de Angola. Não na perspectiva dos escribas profissionais do medo, que vivem do mito do terrorífico regime angolano, nem na perspectiva dos novos, novíssimos, lambe-botas que vêm das tugas cheios de salamaleques a colocarem-nos nos píncaros, enquanto enchem os bolsos e á boca fechada dizem que se não fossem eles…

Não! Hoje vou falar da Angola independente e democrática (de Cabinda ao Cunene) que construímos com o nosso esforço e persistência. E vou mencionar apenas dois exemplos que ocorreram esta semana (ou na semana passada se isto for publicado depois): A decisão do Supremo em impugnar a nomeação da minha camarada Suzana Inglês para a presidência da Comissão Nacional Eleitoral e a manifestação da UNITA.

Pois é. Vamos começar pela decisão do Supremo. Para os que têm duvidas, bem ou mal intencionadas, aqui está uma evidência do respeito pela Constituição e da vigência da mesma. Aqui, em Angola, a Constituição não é letra morta e faz-se respeitar. E o partido maioritário, o MPLA, acatou a decisão, como acontece em qualquer democracia constitucional de qualquer latitude, deixando os escribas do medo sem tinta para escrever (que é, aliás, a única coisa que têm, a tinta, pois as ideias…). A minha querida camarada Suzana Inglês já não será a Presidente da CNE, tendo este órgão um novo presidente que será nomeado conforme os requisitos da Constituição. E é bonito ver a Lei Constitucional a ser respeitada e cumprida. É uma pequena prova da luta persistente, pela Democracia e pelo Desenvolvimento, encetada pelo Povo Angolano e pelo seu partido maioritário de sempre, o MPLA.

Quanto á manifestação da UNITA, (sábado, dia 19 de Maio), decorreu na mais absoluta das normalidades. Poderiam até acontecer desacatos, tal como acontece, em países centenariamente democráticos Mas saliento a forma civilizada e a naturalidade com que a sociedade angolana aceita a liberdade de manifestação e de expressão. Vivemos, definitivamente num país onde se respira o ar fresco da Democracia Politica. Acabaram-se os tachos e as panelas dos que vivem da mentira do medo. Vão ter que mudar de tema oh escribas e inserirem-se nesta Democracia que se constrói a pulso. De Cabinda ao Cunene!

Antes de terminar queria só referir uma das últimas montagens que de há uns tempos a esta parte se fazem ouvir e ler A questão das Lundas. Presumo que seja pelo facto de a questão de Cabinda ter uma resolução constitucional, as forças do costume orquestraram uma campanha sobre as Lundas. Pois é… Andam por aí a falar das Lundas. Não tenho nada contra a questão de proporem maior autonomia administrativa, é um direito e talvez uma solução para resolver alguns dos problemas que afectam as populações locais, desde que essas medidas sejam devidamente pensadas e inseridas no actual contexto constitucional. Mas dai a andarem a escrever falsidades históricas tipo que a Lunda nunca foi colónia portuguesa e que foi Angola que inseriu a Lunda apos 1975…Ou beberam ou fumaram, ou ambas as coisas e caporroto com mbula dá mau resultado camaradas. A cabeça fica com bué de Kátás!

Vamos lá então esclarecer as situações. Angola situa-se na costa ocidental da África Austral, a Sul da floresta equatorial, entre as latitudes de 4^ 22’e 18^02’Sul e as longitudes de 11^ 41’ e 24^ 05’ Leste, com uma superfície de 1.246.700 quilómetros quadrados, uma costa marítima de 1.650 km de extensão e uma fronteira terrestre com 4.837 km, incluindo Cabinda, incorporada no território nacional depois do Tratado de Simulambuco, em 1835, pelo qual Cabinda tornou-se num protectorado da monarquia portuguesa. Cabinda é banhada a Oeste pelo Atlântico. Faz fronteira com a Republica do Congo (Brazzaville) a Norte e a Nordeste e a Sul com a Republica Democrática do Congo (Kinshasa).

Antes da independência Angola estava administrativamente dividida em 16 distritos: Cabinda, Zaire, Uíge, Luanda, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Malange, Lunda (cuja capital era Saurimo ou Henrique de Carvalho), Benguela, Huambo, Bié, Moxico (cuja capital tinha o mesmo nome), Moçâmedes, Huila, Cunene e Cuando-Cubango (capital Serpa Pinto). Actualmente a nação angolana divide-se administrativamente em 18 províncias: Cabinda, Zaire, Uíge, Bengo, Luanda, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Malange, Lunda Norte (capital Lucapa, que em Utchokwe significa “grande Correia”, mas o nome da cidade deriva dos rios Luachimo e Tchikapa), Lunda Sul (cuja capital é Saurimo, cujo nome deriva de Sá Urimbo, um antigo chefe nativo daquela área, sendo que em Utchokwe urimbo significa cola, ou seiva pegajosa), Benguela, Huambo, Bié, Moxico (cuja capital é Luena), Namibe, Huila, Cunene e Cuando-Cubango (capital Menongue).

Como vimos a região da Lunda, ou Nordeste de Angola, que na última divisão administrativa colonial era o Distrito da Lunda, passa após a independência a ficar dividida em Lunda Norte e Lunda Sul. O Nordeste de Angola estende-se entre os meridianos 17^ 30’e 23^ 15’ Este e os paralelos 7^ e 11^ 30’ a Sul. É uma região limitada por 2 grandes rios, afluente do rio Zaire, o rio Cassai, que limita a Sul e a Leste, estabelecendo a fronteira a Leste com a RDC e o rio Kwango, a Oeste e que limita até á fronteira Norte com a RDC.

Quando os portugueses chegaram ao actual território de Angola, a Africa Equatorial e Austral era dominada por 3 grandes Reinos e Impérios: o Reino do Congo, o Império Lunda e o Império do Monomotapa. Aquele que é hoje o território de Angola pertencia parte ao Reino do Congo e o Nordeste ao Império Lunda. O Reino do Congo abrangia as províncias do Zaire, Uíge, Bengo, Luanda, Kwanza Norte e o norte de Malanje, para além da sua extensão pela actual RDC. Existiam no nosso território os reinos de Malamba e Nalongo, que abrangem parte do Bengo, Malanje e Kwanza Sul, o reino da Kissama, na área costeira do Kwanza Sul, os Reinos do Planalto, durante os seculos XVI a XVIII, em todo o planalto central, o reino de Kassange que abrangia uma pequena parte do Bié, toda a baixa do Kassange, na Província de Malanje e a parte oeste da Lunda Norte, o Imperio Lunda que dominava a Lunda Norte, o Reino Tchokwe que abrangia uma pequena parte da Lunda Norte, toda a Lunda Sul assim como o norte do Moxico e os Reinos do Sudoeste. Quanto ao Reino de Cabinda, como já referi, era um reino tributário do Reino do Congo, que pelo Tratado de Simulambuco, em 1835, tornou-se um protectorado português e que mais tarde a administração colonial insere-o como Distrito no Território de Angola.

O grupo étnico que ocupa o Nordeste de Angola é o Lunda-Kioko ou Lunda-Tchokwe, uma vez que estes consideram-se descendentes dos Kiokos. É um grupo constituído pelas etnias Bakongo ou Kakongo, que habita no extremo nordeste da Lunda Norte, na margem esquerda do rio Cassai, no território Angolano e estendendo-se pela região do Cassai na RDC. O mesmo acontece com os Kamatapas ou Tumatapas, que vivem junto aos Bakongo. A maioria da etnia Lunda vive nas províncias do Cassai e do Catanga, na RDC, tal como o seu Imperador. Os Chinges e os Minungos partilham a parte oeste da Lunda Norte, sendo que os Minungos residem também na parte Oeste da Lunda Sul.

Por sua vez 80% da população do Nordeste é de etnia Tchokwe e estendem-se pela RDC até ao paralelo 5^ a Sul do Equador e pelo Noroeste da Zâmbia, progredindo entre a população ngangela até á fronteira com a Namíbia, para além dos núcleos nas províncias de Malanje, Moxico, Bié e Cuando-Cubango.

Está feito o quadro humano. A conversa já vai longa e não quero estar aqui a referir as riquezas minerais desta região riquíssima, nem vou estar a falar da forma como a Diamang na época colonial administrava estes territórios (será essa a autonomia de que falam os signatários daquele documento mentiroso que andou por ai a ser publicado? Não pertenciam ao Império colonial português mas pertenciam á dinastia diamantífera? Queres ver que são Bilderberg? O meu camarada Martinho Júnior é que trata de forma sábia desse sector da família, matéria complexa, aliás).

De Cabinda ao Cunene! Estamos juntos!

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