quinta-feira, 24 de maio de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Noticias dos states

Nestas coisas que vêm dos states um tipo nunca sabe muito bem o que anda por detrás da notícia. É uma sociedade “muito”, em tudo, muito out e muito in e que apesar de todos os defeitos, mais do que muitos, tem também grandes exemplos de virtudes, muitos mesmo. Tem uma coisa pelo menos que não lhes fica mal: Não necessitam de se por em bicos de pés, como acontece com outros, o que obviamente também os empurra para o lado turvo da arrogância sem limites, a ignorância geográfica (o momento mais alto da carreira de Jorge Sampaio PR de Portugal, foi quando lhe saiu da boca para fora, já não me recorda em que circunstancias, de que o grande problema dos USA era o facto de não saberem nada de geografia) e a mania das grandezas, para além de uma grande paranoia com a segurança, embora esta ultima seja mais devida aos interesses escondidos na industria e comercio da segurança e da defessa, desde a industria militar aos índices NASDAQ, á industria de segurança electrónica e respectivo comercio, com os scanners de dedos, olhos, camaras escondidas, satélites de vigilância, etc.

Pelo menos não são uns pelintras convencidos como os franceses, que inventam uma falsa grandiosidade em tudo, desde o acto sublime de lamber as botas aos alemães até ao facto de se considerarem os senhores absolutos do seu quintal imenso, espalhado pelos continente africano e pelas suas ilhotas do Pacifico. E se os yankees têm os marines e a CIA, eles têm a legião estrangeira e a Securité. Mas não são os franceses que me trazem aqui hoje. São os yankees, mesmo. Só que antes de passar ao assunto, vou continuar com a história do Chris Two. Aqui vai:

No dia seguinte passaram por um Paraíso inabitado, completamente vazio. Perante o espanto de Chris Two, ao ver tanto esplendor e beleza num local sem almas bem-aventuradas, o Anjo explicou: “É um Paraíso criado apenas para as almas dos governantes virtuosos, mas nunca, nunca, foi habitado…” Entraram numa zona do Ocidente onde se situam os chamados Paraísos Centrais, quatro Paraísos vizinhos. Começaram por visitar o Paraíso Grego, onde as bem-aventuradas almas gregas começam os dias num bosque delicioso, gozando de todos os prazeres, ou caminham em prados encantados, cuja norma são os jogos eróticos, terminando os seus dias numa imensa casa que irradia uma luz pura e ouvem-se vozes doces e encantatórias. No terceiro dia de viagem visitaram o Paraíso Romano, um Éden primaveril, rodeado de prados e bosques. As almas bem-aventuradas romanas deliciam-se com jogos eróticos e orgias que se prolongam por longos meses.

Daqui partiram para o Paraíso Gaulês, onde as almas virtuosas dos franceses podem ascender a deuses, desde que em vida tenham sido gaullistas ou neogaullistas, através de um burocrático processo de aperfeiçoamento celestial. Chegaram finalmente ao Paraíso Cristão, onde as almas dos justos vivem com os anjos. Para os cristãos a ida para o Paraíso é a recompensa máxima, por isso as almas que o habitam são profundamente fervorosas. Não é um Paraíso muito tranquilo, pois os cristãos mais fundamentalistas são almas neuróticas

O quarto dia foi todo passado no Paraíso do Norte, uma enorme mansão, que tem como única via de aceso uma ponte tricolor, maravilha da tecnologia nórdica, mas que não pode ser atravessada por anjos a cavalo, pois ficará destruída. Frente á enorme mansão situa-se a Valhala, habitada pelas Valquírias que ofertam cerveja e um hidromel retirado das tetas de uma cabra. Pela manhã, bem cedo, as almas são despertas pelo som da flauta de Ligur, o pastor. Depois, com o canto do galo vermelho, iniciam-se os jogos preferidos das almas nórdicas, a luta corpo a corpo, com armas de ferro. Quando Braga toca a sua lira, os combates cessam e as almas vão fazer os seus curativos, auxiliados por belas virgens e tomar a sua refeição na enorme mansão. Estas refeições consistem em carne de javali, que renasce sobre a faca que o corta em fatias. Os escudos das almas guerreiras são os seus pratos e sobre a mesa jovens virgens dançam e tocam

lira enquanto ao redor da mesa exibem-se em posses eróticas belas prostitutas. Actualmente o Paraíso nórdico tem mais uma andar, dois jardins e um enorme lago com cisnes coloridos. Chama-se Paraíso social-democrata e é aberto a todas as almas social-democratas, sem julgamento. As almas de outros quadrantes políticos são submetidas a um rápido julgamento, para poderem ser admitidas e passam sempre pelo antigo patamar da mansão, antes de poderem ascender ao novo patamar.

Chris e o Anjo permaneceram três dias neste Paraíso, partindo depois para o último dos Paraísos Ocidentais, o Paraíso americano com as suas cinco regiões distintas: Uma a Sul para as almas sul americanas, centro americanas e do Caribe, mais quatro a Norte. O Paraíso Sul-americano é pacífico e liberto de inquietudes. Consiste numa grande mansão, onde as almas bem-aventuradas passam o seu tempo em intermináveis e amenas conversas. É composto por dois níveis: um nível luxuoso, para as almas dos ricos e um nível modesto e austero, para as almas dos pobres. O Paraíso dos indígenas norte americanos é reservado apenas a estes. Situa-se atrás da Montanhas Sagradas. As almas dos justos coroam-se de penas, andam de rostos pintados, fumam longos cachimbos e dançam. O Paraíso dos Canadianos é delicioso e consiste em prados verdejantes, bosques com árvores carregadas de frutos e florestas imensas, onde as almas caçam. È interdito às almas do Quebeque, que vão para o Paraíso dos franceses. Os outros dois Paraísos são dois altíssimos arranha-céus, um para republicanos, Texanos do petróleo, criadores de gado, ricos muito ricos, evangelistas e funcionários da Wall Street. O outro é para democratas, investidores e donos dos sectores de mineração, ricos e ricos muito ricos, proprietários de plantações de amendoins, funcionários da Wall Street e economistas neokeynesianos. Qualquer destes dois Paraísos é vedado aos pobres, que para não se sentirem deslocados permanecem no Inferno, mesmo depois de mortos.

Chris e o Anjo permaneceram cinco dias neste conjunto de Paraísos, antes de deslocarem-se para Oriente.

E enquanto Chris e a sua amiga alada estão nos Paraísos Ocidentais, vou aproveitar para falar de 3 artigos interessantes que li na imprensa norte americana. Qualquer um destes artigos pode ser lido no www.lewrockwell.com de 22/05/12.

O primeiro artigo é de Patrick Buchanan, cofundador e editor do magazine The American Conservative e autor de diversos livros incluindo Where the Right Went Wrong ou Churchill, Hitler, and the Unnecessary War sendo o seu ultimo livro o interessante Suicide of a Superpower: Will America Survive to 2025? O senhor Buchanan, um conservador assumido, refere neste artigo a questão do assassínio de um cidadão negro norte-americano, Trayvon Martin por parte de outro cidadão norte-americano branco, chamado George Zimmerman, um vigilante voluntário. Os acontecimentos ocorreram em Sanford, na Florida, por volta de Fevereiro e são assunto de imprensa. Buchanan assume a defesa de Zimmerman, de uma forma inteligente, contrariando a forma demagógica como estes assuntos são tratados nos media norte-americanos. Numa das passagens do seu excelente artigo, refere em termos bastante críticos a posição do Presidente Obama, que numa atitude eleitoralista de preparação de pré-campanha, disse o que não disse, como se não fosse ele o presidente, alimentando uma falsa questão e fazendo de uma situação que ocorre diariamente na metrópole central do capital e que deve ser tratada pelos tribunais um caso nacional. Quando se necessita de desviar atenções tudo serve…

Recordo agora, o que não tem nada a ver nem com este caso nem com o artigo de Buchanan, a decisão do Tribunal na África do Sul, tomada esta semana, em relação ao assassinato de Eugene Terreblanche, o grotesco líder da facçäo racista bóer, líder da extrema-direita sul-africana. De uma forma racional e inteligente o presidente NZuma afastou qualquer hipótese de exploração polémica de um caso judicial e de forma exemplar os tribunais sul-africanos conduziram o processo, que culminou com a condenação dos dois homicidas. Um exemplo de conduta para Obama e para os states.

O outro artigo que eu vou referir é de Walter Williams, um distinto professor de economia na George Mason University cujos artigos podem ser lidos também no interessantíssimo http://www.creators.com (Creators Syndicate web page). Neste artigo intitulado “Should Black People Tolerate This?” Walter Williams fornece uns dados interessantes sobre a criminalidade nos USA, nesta questão dos grupos raciais. Utilizando as estatísticas do Bureau of Justice Statistics, todos os anos são assassinados 7 mil negros. Em 94% dos casos os homicidas são negros. Entre 1976 e 2011, ocorreram 279.384 vítimas negras de homicídios, sendo 292.621 deste homicídios sido cometidos por outros negros.

Representando a população negra norte-americana 13% da população nacional dos USA, contabilizam no entanto mais de 50% do total de homicídios. O rácio de vitimização dos negros norte-americanos é seis vezes superior ao da população branca e em algumas cidades este rácio chega a 22 vezes. Os negros são assim a maioria das vítimas de crimes violentos, assalto e roubos. A magnitude destes dados trágicos é ainda mais ampliada quando Williams utiliza os dados do Tuskegee Institute, que realizou um estudo que abrange o período de 1882 a 1968: 3.446 negros foram linchados por brancos. Williams refere ainda os dados de negros norte-americanos mortos em combate após a II guerra mundial: 3.075 morreram na Guerra da Coreia e 7.243 na guerra do Vietnam. Nas intervenções militares dos USA depois de 1980 morreram 8.197 negros, o que faz subir o número para 18.515, mortos em guerra. Bastante aquém dos 279.384 assassinados em casa e nas ruas. Um outro dado tragicamente interessante: as jovens mães negras norte-americanas têm mais hipótese em terem um parto bem-sucedido nos campos de batalha do Iraque ou do Afeganistão do que nas cidades de Filadélfia, Chicago, Detroit, Oakland, Newark e outras. Trágica realidade a dos omnipotentes e omnipresentes USA.

Por fim o terceiro e último tema, o café e a cafeina e que tem muita a ver com a minha batalha contra os Tiranos psicopatas que fazem da saúde um novo método de condicionamento da Humanidade. O New England Journal of Medicine publicou um estudo conjunto levado a cabo pelo National Cancer Institute e pelo National Institutes of Health, sobre o consumo de café e a sua relação com doenças cancerígenas, diabetes, respiratórias, cardiovasculares e infecciosas. Estas duas instituições analisaram o comportamento de 402.000 pessoas (229.000 do sexo masculino e 173.000 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 50 anos e 71 anos, durante um período de 13 anos, entre 1995 e 2008. Os participantes do estudo foram divididos em dois grupos: um formado por consumidores de café (até 6 chávenas por dia) e outro por não bebedores e concluiu, depois de um período de observação de mais 4 anos, após o fecho dos estudos, que afinal o café não prejudica a saúde, sendo até benéfico em alguns casos como o cancro no colon. Durante o estudo observaram-se 52 mil mortes sendo mais de 75% observadas nos grupos não bebedores.

Será que um dia destes vão surgir conclusões idênticas sobre o tabaco e vamos ser todos incentivados a fumar?

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