quinta-feira, 24 de maio de 2012

Mário Soares: "A TROIKA FALA DEMAIS, É UMA POUCA VERGONHA”



Expresso

"A troika deve falar apenas com o Governo, dizer o que tem a dizer, ir-se embora e estar calada", defendeu em entrevista à Rádio Renascença o antigo Presidente da República.

O antigo Presidente da República, Mário Soares, voltou a teceu ontem à noite na Rádio Renascença duras críticas à forma como a troika se comporta em Portugal. Em entrevista ao programa "Terça à Noite", defendeu que "a troika fala demais. Sempre falou. E não devia fazê-lo."

"Eu tive cá o FMI, por duas vezes, quando era primeiro-ministro e nunca a senhora do FMI que cá esteve deu alguma entrevista pública. Não é coisa que se faça: chegar a um país e proceder como se fosse um protetorado da troika. Mas o que é que é a troika, valha-me Deus?", questionou-se Soares.

Para o ex-chefe de Estado "a troika são dois ou três senhores que vêm em representação, pagos e bem pagos, do Fundo Monetário Internacional, são outros três ou quatro senhores que vêm em representação da Comissão Europeia e outros três ou quatro senhores que vêm do Banco Central Europeu. Não se dão uns com os outros. Têm conceções diferentes uns dos outros e depois vão fazer conferências e dizer coisas e dar ordens... Eu acho isto uma pouca vergonha."

"É uma ofensa à pátria portuguesa"

Mário Soares defendeu ainda que "a troika deve falar apenas com o Governo, dizer o que tem a dizer, ir-se embora e estar calada. Não tem que dar opiniões públicas. Porque isso é uma ofensa à pátria portuguesa. Somo o país que tem as mais antigas fronteiras da Europa. E nós aceitamos uma coisa dessas? Eu não gosto disto. Se me dissessem agora: 'venha cá ouvir a troika', eu não ia."

Questionado sobre se o Partido Socialista deveria denunciar o acordo assinado com a troika Soares disse que "é preciso ter calma nestas coisas".

"Não sou daqueles que querem a queda do Governo de um momento para o outro, antes pelo contrário. Mas acho que este Governo está a destruir muitas das coisas que nós fizemos durante muitos anos", acrescentou.

Instado a indicar aquele que são, na sua opinião, os maiores problemas do país, Mário Soares, referiu a Justiça porque "não funciona mesmo nada e isso é um grande risco para a democracia".

"Até agora, nessa matéria, não vi nada [a ser feito]. O que se vê é que os criminosos saem e que as pessoas que roubaram ficam impunes", rematou.

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