Martinho Júnior, Luanda
A expressão “veias abertas” foi aplicada por Eduardo Galeano, eminente historiador e escritor uruguaio, ao sintetizar numa notável obra o percurso da América desde os primeiros anos da presença europeia na América até aos nossos dias.
Segundo o Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/As_veias_abertas_da_Am%C3%A9rica_Latina):
“No livro, de 1971, Galeano analisa a história da América Latina desde o período da colonização europeia até a Idade Contemporânea, argumentando contra a exploração económica e a dominação política do continente, primeiramente pelos europeus e seus descendentes e, mais tarde, pelos Estados Unidos.
A exploração do continente foi acompanhada de constante derramamento de sangue índio.
Devido à exposição de eventos de grande impacto para o conhecimento da história do continente, o livro foi banido na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai durante as ditaduras militares destes países”…
… Bem que ele poderia ser recomendado também para ser lido e estudado em África e em Angola.
Será que o presidente venezuelano Hugo Chavez não se importará de o recomendar para este lado do Atlântico, já que teve a ousadia de o recomendar ao presidente Obama!?
Essa é uma das razões que, não o querendo plagiar, uso esse título sugestivo para evidenciar quanto o capitalismo neo liberal está já a prevalecer nos termos do crescimento (e não nos termos do desenvolvimento sustentável) das “emergências” em África!
Por outro lado, é evidente que os tentáculos bancários de determinadas entidades, entre elas os interesses ligados ao BES, têm outros significados, entre eles o que se refere a autênticos mecanismos de inteligência económica!
Vou servindo-me das fotografias de algumas fachadas da nova paisagem urbana de Luanda para melhor os leitores se aperceberem de quem afinal foi ganhando efectivamente a guerra em Angola, estimulando expedientes elitistas que estão intimamente integrados nos processos humanos e sócio-políticos do país…
Os interesses do BES sob a égide de Ricardo do Espírito Santo Salgado do Bilderberg, não pararam de crescer desde que foi definida a geo estratégia que “escorre” por essa via na direcção de África.
É evidente que as presenças de Ricardo Espírito Santo Salgado em 1997 e 1999 nas reuniões de Atlanta e Sintra do Bilderberg, têm que ver com as geo estratégias do BES, que explora sobretudo, desde o início do século XXI, vínculos num “triângulo estratégico” com vértices na Europa, em África e na América Latina (Portugal – Angola – Brasil, como ângulos proeminentes).
É esclarecedor se fizermos uma incursão nos Relatórios de 2010 e 2011, que dão uma ideia quanto o BES progrediu, integrando o pelotão do capital neo liberal que flui na direcção dos “emergentes” do sul, um “triângulo estratégico” (palavras próprias do BES), que pela sua dimensão sugere-nos visionar a versão contemporânea dum comércio de tão má memória como o foi o “comércio triangular” que alimentou o tráfico de escravos no âmbito da primeira globalização que foi historicamente conseguida pelas então potências europeias, há uns séculos atrás!
Em 2010, 67% do total internacional dos “resultados consolidados” do BES foram obtidos no “triângulo estratégico”, outros 47,2% no Reino Unido e 14,7% nos Estados Unidos! (http://services.bes.pt/SitesEstaticos/ValorBES28_PT/04.html):
“A estratégia de expansão internacional tem sido determinante para os resultados, consolidando e aumentando o contributo desta área para o desempenho do Grupo.
Ao longo do ano de 2010, foram dados passos muito significativos no desenvolvimento desta estratégia, sendo de destacar as seguintes realizações:
· aquisição de 40% do capital social do Aman Bank, banco privado com sede em Tripoli (Líbia), tendo o Grupo assumido o controlo da gestão (Abril);
· constituição do Banco Espírito Santo Cabo Verde (Julho);
· assinatura de um memorando de entendimento entre o Banco Espírito Santo, o Banco do Brasil e o Banco Bradesco (Brasil) que visa a definição de uma estratégia comum de desenvolvimento no continente africano, através da BES África – holding do Grupo BES para as participações em entidades financeiras em África (Agosto);
· aquisição de uma participação de 25,1% do capital social do Moza Banco, instituição bancária moçambicana, efectivada já em 20 de Janeiro de 2011;
· compra pela ESAF ao Banco Pastor (Espanha) da totalidade do capital social da Gespastor SGIIC, uma sociedade gestora de investimento colectivo (Dezembro);
· aquisição pelo BES Investimento de uma participação de 50,1% no Execution Holdings Limited, grupo de banca de investimento e corretagem internacional com sede em Londres (Dezembro)”…
… “Em 2010, o BES investiu mais de 100 milhões de euros no reforço da sua presença internacional, destacando-se as operações no Reino Unido, Líbia, Espanha, e Moçambique.
O BES está hoje presente em 23 países, em 4 Continentes”…
Em 2011 o relatório sugere prejuízos, muito em especial nas operações no Reino Unido (http://www.bes.es/sitebesse/cms.aspx?plg=3db5b4e7-8bbf-4bec-a9e9-7423dfb0dd54; http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=13047503&indice=0&canal=402):
“O Banco Espírito Santo (BES) fechou 2011 com lucros de 91 milhões de euros em África, ligeiramente abaixo dos 92,6 milhões de euros do ano anterior, reportou o banco português na apresentação de contas anuais à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O BES está presente em Angola, Cabo Verde, Moçambique e Líbia e estes quatro países africanos são, no seu conjunto, o maior mercado internacional da instituição financeira portuguesa, seguido do Brasil.
O BES viu os seus lucros no mercado brasileiro caírem 36% no ano passado, descendo dos 32,1 milhões de euros em 2010 para 20,4 milhões de euros em 2011.
Maior queda teve a operação no Reino Unido, onde os ganhos do BES desceram de 47,2 para 18,6 milhões de euros, revelou a instituição financeira lusa na apresentação de contas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O BES realça que a representatividade do resultado do triângulo estratégico [África, Brasil e Espanha] no conjunto da actividade internacional registou um reforço ao situar-se em 75% (Dez,10: 67%), dado o impacto do deleverag" nas demais unidades internacionais e, em particular, no Reino Unido".
No total, o BES fechou 2011 com um prejuízo de 108,8 milhões de euros (que compara com os lucros de mais de 500 milhões de euros alcançados em 2010), entrando na onda de resultados negativos também partilhada pelo BCP e pelo BPI (este último tem o brasileiro Itaú Unibanco como segundo maior accionista)”.
De notar que a crise na Líbia até parece não ter afectado os interesses do BES, havendo notícias que o podem explicar, pelo muito que não foi explicado em parte alguma no que diz respeito ao dinheiro da Líbia que Kadafi tão inadvertida quão prodigamente foi colocando ao longo dos anos no exterior, BES incluído, conforme o artigo “Kadafi investiu em dívida do BES e do BCP” (http://economico.sapo.pt/noticias/relatorio-kadhafi-investiu-em-divida-do-bes-e-do-bcp_119106.html):
“O regime líbio, através do seu fundo soberano, investiu em dívida de bancos portugueses, incluindo o BES e o BCP.
A compra de títulos foi realizada através da Autoridade Líbia de Investimento (LIA), o fundo soberano líbio, segundo um relatório elaborado pela consultora internacional KPMG e a que a Lusa teve acesso.
O documento apresenta uma lista detalhada das participações da LIA à data de Junho de 2010 e Portugal é um dos nove países referidos no Top 10 na compra de dívida pela LIA, aparecendo em sétimo lugar, à frente da Alemanha e da França.
O relatório da KPMG aponta que a LIA terá investido, a valores de mercado calculados no segundo trimestre do ano passado, 18,13 milhões de dólares (12,8 milhões de euros) em títulos de dívida do BCP, com maturidade 19 de Janeiro de 2012, e 12,35 milhões de dólares (8,7 milhões de euros) em dívida do BES, que vence um dia depois, a 20 de Janeiro de 2012.
O documento, que apresenta os cálculos com o valor de mercado do investimento na dívida dos dois bancos no primeiro e no segundo trimestre de 2010, refere uma desvalorização entre estes dois trimestres de 2,7 milhões de dólares no caso da dívida no BCP, e de 1,6 milhões de dólares no BES.
A LIA é um dos fundos soberanos mais opacos e é muito difícil detectar o fluxo de investimentos feitos por Trípoli, afirmou à Lusa um consultor internacional em branqueamento de capitais e aplicação de sanções como as que se aplicam neste momento à Líbia.
Segundo esse e outros especialistas ouvidos nas últimas semanas pela Lusa, é uma convicção do mercado internacional que a gestão da LIA é um assunto privado de Kadhafi, através de um dos seus filhos.
A Líbia colocou 5 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros) no banco francês Société Générale (SG) entre 2007 e 2010, segundo documentos a que a Lusa teve acesso e fontes contactadas em vários países, incluindo a Líbia.
De acordo com documentos revelados hoje pela Lusa, os 5 mil milhões de dólares investidos por Trípoli resultam de uma relação de negócios entre a SG e a Autoridade Líbia de Investimento (LIA) que remonta a 2007, e que, segundo fontes na Líbia e na Europa, envolveu directamente o presidente do banco francês, Frédéric Oudéa.
As participações líbias na SG e noutras instituições financeiras ocidentais são hoje reveladas também nos jornais Financial Times, em Londres, e Le Monde, em Paris.
Contactados pela Agência Lusa, BES e BCP preferiram não comentar o assunto”!
Se é assim com os dinheiros, o que não será com as questões que se prendem à inteligência, desde logo inteligência económica?!
Os instrumentos financeiros do Bilderberg conduziram de forma extremamente “inteligente”, “clínica” e vantajosa os contenciosos que se prenderam a Kadafi e à Líbia e isso passa pelos segredos dos bancos estimulados pelas suas geo estratégias, entre eles o BES!
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Foto tirada a 15 de Fevereiro de 2012:
Edifício sede do BESA em construção, muito próximo do Parlamento da República de Angola e do Palácio Presidencial da “cidade Alta” e mesmo ao lado da torre dourada de outro grupo financeiro típico dos fenómenos da globalização, o “China International Fund”. O BESA é um dos “braços” do BES de Ricardo Espírito Santo Salgado em Angola; o outro é o ESCOM!...
* Ver todos os artigos de Martinho Júnior – ligação também em autorias na barra lateral.
5 comentários:
Hugo Chavez não está mais em condições de recomendar bobagens para os outros: o tirano está usando fraudas, caminha para um merecido FIM.
QUEIME NO INFERNO, HUGO !!!
Ver documentário "DONOS DE PORTUGAL" - http://www.donosdeportugal.net/p/grande-familia.html
QUE VIVA O SOCIALISMO DO SÉCULO XXI!
Todos morrem, ninguém fica para amostra e o mentecapto que fez o comentário contra Hugo Chavez é mais um nervo ciático que vem para aqui fazer as provocações que já de há muito são conhecidas.
O salário mínimo na Venezuela será este ano aumentado em cerca de 30%.
O sistema de saúde na Venezuela nada tem a ver com o passado.
Venezuela está livre do analfabetismo.
Os benefícios para o povo venezuelano ao longo dos governos do católico Hugo chavez, não têm paralelo na história do país.
Ele deixa uma obra incompleta quando morrer, pois a vida humana é curta e individualmente indelével, mas o povo venezuelano já não é o mesmo de antes!
Ver A ORDEM CRIMINOSA DO MUNDO:
Documentário exibido pela TVE espanhola, que aborda a visão de dois grandes humanistas contemporâneos sobre o mundo atual: Eduardo Galeano e Jean Ziegler.
Pode dizer-se que há algo de profético nos seus depoimentos, pois o documentário foi feito antes da crise que assolou os países periféricos da Europa.
A Ordem Criminosa do Mundo, o cinismo assassino que a cada dia enriquece uma pequena oligarquia mundial em detrimento da miséria de cada vez mais pessoas pelo mundo. O poder a concentrar-se cada vez mais nas mãos de poucos, os direitos das pessoas cada vez mais restritos. As corporações controlando os governos de quase todo o planeta, dispondo também de instituições como FMI, OMC e Banco Mundial para defender os seus interesses. Hoje, 500 empresas detém mais de 50% do PIB Mundial, muitas delas pertencentes a um mesmo grupo.
http://freezone.pt/sociedade/360-ordem-criminosa-do-mundo.html
Ver a ORDEM CRIMINOSA DO MUNDO no Página Global:
...“Os verdadeiros donos do mundo hoje são invisíveis”
“Os verdadeiros donos do mundo hoje são invisíveis. Não estão submetidos a nenhum controle social, sindical, parlamentar. São homens nas sombras que procuram o governo do mundo. Atrás dos Estados, atrás das organizações internacionais, há um governo oligárquico, de muito poucas pessoas, mas que exercem um controle social sobre a humanidade, como jamais Papa algum, Imperador ou Rei teve”. (Jean Ziegler)
“O atual sistema universal de poder converteu o mundo num manicômio e num matadouro” (Eduardo Galeano)...
http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/ordem-criminosa-do-mundo.html
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