segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cabo Verde: MINISTRA E DIRECTORA DO HOSPITAL CONFIRMAM NOTÍCIA DO LIBERAL



Liberal (cv), com foto

A directora do HAN, Ricardina Andrade, e a ministra da Saúde, Cristina Fontes Lima, confirmam, nas redes sociais, a veracidade da foto por nós editada na passada quarta-feira, 9, e reconhecem que as mães acompanhantes de crianças internadas na Pediatria têm que descansar no chão

Praia, 13 de Maio 2012 – Ao invés de uma posição pública formal da direcção do Hospital Agostinho Neto (HAN) – como seria de esperar -, face ao escândalo de mães terem de dormir no chão no serviço de pediatria daquela unidade de saúde, quando acompanham os filhos no internamento, o que tivemos foi um “post” da directora no HAN, Ricardina Andrade, na sua página pessoal no Facebook, posteriormente divulgado por sua irmã em outras páginas (nomeadamente no “Binókulu Pulitiku” e no “O Púlpito”). Já antes, havíamos lido um outro “post”, desta feita da ministra da Saúde, Cristina Fontes Lima, onde esta confirmava a situação exposta por Liberal e descartava esclarecimentos para a direcção do hospital.

Seguindo piamente a indicação da ministra (mas provavelmente não percebendo o seu verdadeiro sentido (uma declaração formal da direcção pelos canais institucionais), Ricardina Andrade lá veio como pôde justificar a ignomínia exposta publicamente, numa primeira fase através da página de Facebook “Do You... Papia Kriolu?”, posteriormente (uma grande chatice…) no Liberal.

VELHO ARGUMENTO

Utilizando um velho argumento que parece ser cartilha deste Governo, a senhora, como se percebe pelo conteúdo do seu texto, agastada com a exposição pública do problema, vem declarar que “Logo a seguir à tomada de posse como Directora do HAN, fizemos uma análise organizacional, onde mapeamos todos os aspectos críticos do Hospital, e redefinimos uma nova visão para o hospital, com base nas orientações emanadas do Programa do Governo para o sector da Saúde, que são a qualidade e a humanização, a eficiência e a eficácia”. Análise organizacional e mapeamento - como dizíamos -, um argumento extensivo a outras áreas da governação cujos resultados são conhecidos: por exemplo, algum cidadão sentiu na pele que o “mapeamento” do Governo – como anunciou José Maria Neves - à criminalidade tenha atenuado os transtornos por esta causada na vida das pessoas? Adiante…

Desde logo, apresentam-se com extraordinárias duas coisas: 1. Só 11 anos após ser governação, José Maria Neves e a sua equipa produzem “um plano estratégico para dar respostas aos problemas identificados”, apesar de tal ser componente da “Agenda de Transformação”, com que o PAICV se mantém no poder há três mandatos consecutivos; 2. Em nenhuma ocasião – e deveria logo ter começado por aí – a directora do HAN apresentou desculpas públicas às mães sujeitas a tal transtorno e humilhação, o que só por si é esclarecedor.

Em nenhum momento, ao contrário do que diz Ricardina, o Liberal escreveu que a directora disse que o hospital é já “uma referência”, o nosso jornal limitou-se a reproduzir declarações da senhora que manifestavam essa intenção no acto público de apresentação do “Plano Estratégico”, anunciado com pompa e circunstância no Hotel Trópico na passada terça-feira, 8.

MATA-SE O MENSAGEIRO

Ricardina Andrade alega a publicação de “uma fotografia em retaliação aos trabalhos apresentados”, mas sem pôr uma única vez em causa corresponder à verdade o que a imagem ilustra. O Liberal não a publicou para retaliar contra o quer que seja. Aliás, a foto surgiu nas redes sociais e o nosso jornal apenas se limitou a reproduzi-la e, com ela, os comentários indignados de cabo-verdianos que nem conhecem a existência de Ricardina e, seguramente, nem ouviram falar na apresentação pública do seu (dela) “Plano Estratégico”. É uma velha “receita”: quando a mensagem não é boa, mata-se o mensageiro…

E, mais adiante, a directora do HAN até se permite dizer coisa extraordinária: “Se a fotografia é verdadeira, espontânea ou intencional, não nos interessa. O que importa é que os problemas existem e estamos a combate-los”. Como assim?! Então, Ricardina não nega que os “problemas existem” mas aponta a culpa à fotografia? E estão a “combatê-los”? Como, se o problema se manifesta desde há longos anos e bastando para tal arranjar, no mínimo, meia dúzia de colchões ou camas de campanha? E, para tentar retirar credibilidade à denúncia, ainda refere que “Informaram à Direcçao do HAN de que a fotógrafa incitou as mães a deitaram-se no chão para serem fotografadas”… Ou seja, num português abaixo de cão, a directora do HAN escreve que as mães se deitam no chão pela noite dentro é verdade, mas naquele preciso momento teriam sido alegadamente incitadas pela “fotógrafa”. Qual “fotógrafa”? Mais uma vez, a culpa é dos outros, também esse um traço de ADN político deste Governo.

O problema para a directora do HAN é, como já se percebeu, não a verdade dos factos, o problema é a exposição pública da fotografia que destapou a incompetência de quem não consegue resolver coisa tão comezinha há 11 anos. A culpa não é da direcção do hospital, porquanto “há situações em que alguns acompanhantes deitam-se nas salas de espera e no chão das enfermarias, com conivência dos profissionais do HAN”, esse grandes malandros que, apesar das más condições da unidade de saúde, ainda assim tentam facilitar a vida dos acompanhantes dos doentes (nomeadamente, das crianças), porque, diz ainda Ricardina: “temos cadeiras onde essas pessoas descansam e assim vai continuar até termos os cadeirões”… A directora do Hospital Agostinho Neto terá verdadeira noção do que escreve, ou será mesmo assim, desumana, fria, desprovida de qualquer sentimento solidário?

"OFENSAS GRATUITAS"...

Para Ricardina Andrade, a denúncia da humilhação a que são sujeitas as mães das crianças internadas no HAN e a justa indignação dos cabo-verdianos são “ofensas gratuitas que tem estado a fazer escola por estas bandas”, lançados contra os que “têm a coragem de assumir compromissos para com o país, abraçando projectos de interesse nacional e desafiantes para quem tenha brio profissional por exigirem profissionalismo e determinação”… Ofensas gratuitas a que “não vamos dar ouvidos”. Profissionalismo?! Mas a senhora Ricardina nem consegue resolver um problema de meia dúzia de colchões amovíveis!

Mais adiante, os profissionais do HAN já não são aqueles malandros que deixam as pessoas deitar-se no chão, não, pelo contrário, passam a “absolutamente engajados e conscientes do momento actual e têm participado de forma determinante neste processo”…

E, no final, mais uma vez (provavelmente travestida de psiquiatra), vem verberar contra os mensageiros, que não contra a mensagem: “Sejamos emocionalmente saudáveis e cuidemos do nosso caracter para que possamos contribuir, com entusiasmo, para a melhoria das instituições deste nosso país”. Ou seja, para Ricardina Andrade, os que se insurgem contra as deficiências do HAN, em parte consequência da sua gestão, são pessoas sem carácter e emocionalmente doentes… Nada de novo, já estamos habituados.

Nunca respondendo directamente ao jornal que deu a notícia, Ricardina optou por publicar no Facebook. E a irmã, solícita, encarregou-se de divulgar o “post" pelas redes sociais. Logo de seguida, os mesmos de sempre – e em horário de trabalho dos empregos, grosso modo, garantidos pelo partido – começaram a estratégia de “defesa” da directora do HAN. Até a ministra resolveu interromper as suas ocupações pagas pelos contribuintes para acudir a uma subordinada em posição frágil. Cristina Fontes Lima não poupou esforços, no que foi também ajudada pela irmã, indefetível apoiante da mana e do Governo.

Mas uma questão fica no ar, nem a ministra, nem tão pouco Ricardina Andrade, disseram que a fotografia era uma montagem de Photoshop, nem negaram a questão central da peça do Liberal: na Pediatria do HAN, as mães que acompanham as crianças têm de descansar no chão… enquanto não chegam as “poltronas” de Ricardina…

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