Diário de Notícias, opinião - editorial
As economias, europeia e francesa. A dificuldade será conciliar o teor das suas propostas com a conjuntura interna e com a estratégia de Berlim. Embora neste último ponto o Governo da chanceler Angela Merkel se tenha mostrado nos últimos dias mais recetivo à ideia de "um pacto de crescimento e competitividade", através do MNE Guido Westerwelle, a seguir em paralelo com as regras do tratado orçamental já assinado. Para isso, é fundamental o bom funcionamento do eixo franco-alemão e a importância deste é atestada pelo facto de a primeira deslocação de François Hollande ser a Berlim. A negociação poderá ser dura, mas numa Europa refém da crise económica, que "abateu" onze líderes, já com a derrota do Presidente francês, a necessidade de crescimento e o emprego não podem deixar de ser uma prioridade. Recorde-se que os incentivos ao crescimento estiveram presentes na fase inicial das discussões sobre o tratado orçamental, mas não ficaram explícitos. Oito países da Zona Euro estão em recessão, o que não pode deixar de ser considerado no encontro entre Hollande e Merkel - e na próxima cimeira europeia.
A agenda interna do novo Presidente reflete a preocupação com o crescimento, estabelecendo objetivos ambiciosos, como a criação de 60 mil novos postos de trabalho no sector da Educação nos próximos cinco anos. Além de medidas sociais, Hollande aposta numa reforma fiscal e no regresso ao equilíbrio orçamental em 2017. Mas nunca foi claro sobre aspetos práticos destes projetos. Muitos duvidam da possibilidade simultânea de aumentar a receita e reduzir as despesas.
A situação da economia francesa aconselha de facto prudência. Para 2012, o crescimento do PIB será entre 0,5% e 0,7%; o desemprego deve atingir os 10,1% no verão, o défice público está nos 5,2% do PIB e a dívida pública projetada para 2013 é de 89% do PIB. Números a que o novo Governo terá de prestar atenção. Este será o foco para as eleições legislativas de 10 e 17 de junho. Nestas, a onda de mudança manifestada no voto de ontem será testada e, muito provavelmente, consolidada. Aqui reside o primeiro grande teste interno de Hollande, que saberá então se os socialistas são suficientes para assegurar a estabilidade política ou se as manifestações de um voto expressivo à sua esquerda e na extrema-direita, registado na primeira volta das presidenciais, irão colocá-lo perante a inevitabilidade de alianças. Hollande entrou na História - agora vai ter de trabalhar pelo seu lugar nele.
O povo pode revoltar-se
O alerta é preocupante. O aviso do padre madeirense José Luís Rodrigues é secundado pelos políticos da oposição a Jardim e até por muitos homens do PSD. Estas frases dizem tudo: "Há um incitamento à agressividade e à violência", "uma estratégia de coação para pôr as pessoas com medo", "o povo está com fome; sente-se traído." E o que fazem os políticos? A confissão de impotência é brutal: "Nós estamos com as mãos atadas." Esta realidade pede a atenção de Pedro Passos Coelho. Porque tudo isto é, garantidamente, mais do que austeridade. É um tsunami social. É desespero. Perigosamente desespero.
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