sexta-feira, 11 de maio de 2012

FRANCOIS HOLLANDE ASSUMIRÁ PRESIDÊNCIA NA FRANÇA SOB FOGO CERRADO




Eduardo Febbro, Paris - Carta Maior

Eleito no domingo passado, Hollande sequer assumiu a presidência – será no dia 15 deste mês – e a ofensiva liberal começou com um pesado bombardeio vindo de várias frentes. A crise grega sacode a Europa, a Alemanha busca deter Paris em suas tentativas de introduzir uma dose de crescimento na estratégia de austeridade ditada por Berlim e vários setores da indústria francesa preparam demissões massivas. O artigo é de Eduardo Febbro.

Paris- O liberalismo mostra os dentes poucos dias antes de a socialdemocracia assumir o poder na França. Os senhores financeiros da Europa preparam um agitado comitê de recepção ao presidente francês, o socialista François Hollande. Eleito no domingo passado, seis de maio, Hollande sequer assumiu a presidência – será no dia 15 deste mês – e a ofensiva começou com um pesado bombardeio vindo de várias frentes.

A crise grega sacode a Europa, a Alemanha busca deter Paris em suas tentativas de introduzir uma dose de crescimento na estratégia de austeridade ditada por Berlim e vários setores da indústria nacional se preparam para decidir sobre demissões massivas que tinham congelado esperando o resultado das eleições. Respira-se um ar de fim de reinado com todos os ingredientes que acompanham esses momentos da história onde um modelo chegou ao ponto mais perverso e danoso de sua própria contradição.

François Hollande rompeu o consenso da austeridade como única alternativa, despertando uma furiosa ofensiva de parte da chanceler alemã Ângela Merkel. O repetido discurso sobre a austeridade e os ajustes como chave exclusiva para sair da crise voou em pedaços com a eleição de Hollande. O objeto do antagonismo é o pacto fiscal adotado por 25 dos 27 países da União Europeia mediante o qual se introduzem sanções aos países que excedam os déficits e não saneiem suas finanças públicas, a famosa “regra de ouro”. Mas esse texto acarreta ajustes e rigor. François Hollande não o rechaça em sua totalidade, mas defende a renegociação do tratado com a introdução de uma dose de crescimento. A Alemanha diz que não haverá retomada econômica na Europa com dinheiro público: ajustar ou morrer, esse é o seu lema.

Ângela Merkel voltou ao ataque nesta quinta. Falando ao parlamento, a chanceler alemã disse: “o crescimento mediante reformas estruturais é imperioso, importante e necessário. Mas fundar o crescimento sobre o crédito nos faria voltar ao início da crise. Por essa razão não devemos fazer isso e não o faremos”. Paris respondeu no mesmo tom. Benoît Hamon, o porta-voz do Partido Socialista, disse ontem que “François Hollande não mudará de posição pela simples e plena razão de que recebeu um mandato do povo francês”. Merkel e Hollande se encontrarão pela primeira vez no próximo dia 15 de maio para evocar este tema que se tornou uma pedra incandescente entre os aliados mais poderosos da União Europeia.

A ortodoxia liberal que Merkel chama de “reformas estruturais”, ou seja, liberalização do mercado de trabalho e sortes no seguro desemprego, se choca com a linha social democrata. O líder socialista começará assim seu mandato sob uma torrente de pressões e más notícias. O Banco da França adiantou que a França terá no segundo trimestre deste ano crescimento de 0%. A economia ficou estagnada e, além disso, com uma dívida majestosa. O famoso “estado de graça” que acompanha os dirigentes recém eleitos durante os primeiros meses de seu mandato será, para Hollande, um estado de desgraças sucessivas. Não só deverá enfrentar a Alemanha, mas também conduzir o timão de uma Europa absorvida pelo redemoinho da crise grega. Os mercados estão inquietos. A Grécia ainda não conta com um governo que se encarregue de impor ao povo o “guilhotinaço” pactuado com o Fundo Monetário Internacional e a troika europeia em troca dos megamilionários planos de resgate.

Como se isso não bastasse, os industriais estão por anunciar uma enxurrada de medidas que complicarão ainda mais a situação de um país que Nicolas Sarkozy deixa com um desemprego próximo a 10%. A General Motors anunciou que estuda a venda de sua planta de Estrasburgo, onde trabalham mil pessoas. A Peugeot Citroën também cogita a demissão de pessoal. Os sindicatos revelaram no início da semana que o grupo Carrefour estaria por demitir 3.500 empregados. Ao mesmo tempo, o grupo aeronáutico Air France-KLM também prepara demissões, no marco de um plano de economia de dois bilhões de euros.

A combinação da situação nacional, o confronto com a Alemanha e a crise grega é explosiva. Os mercados parecem apostar na explosão da Grécia e na saída deste país da moeda única, o euro. Isso acarretaria uma sucessão de terremotos de alta escala. Os tempos mudaram muito. François Hollande participou de uma reunião, quarta-feira, com Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu. Os dois homens tinham se encontra uma única vez, em maio de 2011, em Bruxelas. Em comparação ao que ocorre hoje, os assessores de Van Rompuy disseram que aquele momento foi “uma época inocente”.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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