FV - Lusa
Macau, China, 07 mai (Lusa) - A língua chinesa está a interessar cada vez mais os portugueses residentes em Macau, que estudam cantonense e mandarim para cumprir as necessidades básicas de comunicação do dia-a-dia, por motivos profissionais ou interesse pela cultura oriental.
Karen Chiang é professora de cantonense no Centro de Difusão de Línguas (CDL), onde junta cerca de dez nacionalidades por turma, mas onde a predominante é, de longe, a portuguesa.
"Talvez tenha mais alunos portugueses porque há mais portugueses a virem para Macau do que de outros países. Ou talvez os portugueses conheçam melhor Macau", arrisca a professora.
Mais à vontade a português do que em mandarim - a língua oficial chinesa -, Karen Chiang é o exemplo de uma escolaridade feita durante a administração portuguesa, ao ser "apenas" professora de cantonense, falado no sul da China (Macau, Hong Kong e província de Guangdong) por cerca de 80 milhões de pessoas.
"Nessa altura não havia um incentivo à aprendizagem nem do cantonense nem do mandarim", confirma João Morais, ao dar a perspetiva portuguesa dos tempos de liceu em Macau.
Regressado ao território há ano e meio, o engenheiro civil retomou o cantonense quase do zero aos 34 anos, mas depois de passado o primeiro nível já pensa em aventurar-se no mandarim e na escrita dos carateres.
"Realmente é uma necessidade para nós, que queremos trabalhar em Macau, aprender tanto o cantonense como o mandarim", sublinha.
A trabalhar na área de planeamento e controlo de gestão do Banco Nacional Ultramarino, Andreia Magalhães não sente tanta necessidade da língua chinesa no local de trabalho onde a "língua franca" é o inglês, mas o interesse pela cultura oriental levaram-na a começar as aulas de mandarim há cerca de um mês.
"Estava indecisa entre uma e outra, - o cantonense porque estou em Macau -, mas acabei por escolher o mandarim porque acho que é melhor aprender a língua oficial da China", diz.
Com a "felicidade" ao peito, suspensa num fio de ouro com um carater chinês, Andreia Magalhães já se dá por feliz por conseguir trocar "algumas palavrinhas" em cantonense - "os números, as horas, os dias da semana dão sempre jeito" -, mas falar fluentemente "é muito complicado". "Ou se nasce cá e aprende-se a falar, ou nunca vamos falar fluentemente", vaticina a gestora.
Grávida de Júlia, Ana Basílio parece que a ouve. "Eu não consigo imaginar o futuro, mas imagino-me cá durante uns bons anos. A bebé vai aprender mandarim. Eu agora estou a aprender cantonense e a segunda etapa será o mandarim".
Em Macau desde dezembro, a também engenheira civil optou pelo cantonense "basicamente para poder comunicar", porque "nem os taxistas falam muito bem inglês", mas a atenção às oportunidades de trabalho, "mesmo fora da China", justifica a continuidade da aprendizagem.
"Se eu fosse agora para a Europa, com um currículo com estas línguas - mais o mandarim - seria muito mais fácil", comenta Ana Basílio, que já domina a arte de regatear em cantonês.
Apesar de as necessidades básicas de comunicação no dia-a-dia e no trabalho dominarem as motivações dos que estudam chinês, há também quem o faça por motivos menos tangíveis.
"Um aluno uma vez disse-me que queria aprender porque o avô era chinês. Penso que também é um pouco pela procura de raízes. Outro estava a aprender porque gostava da cultura chinesa. Isto é bonito", sublinha a professora Karen Chiang.
Atualmente, cerca de 25 portugueses frequentam os vários níveis de cantonês e dez estudam mandarim no CDL, o centro de línguas oficial.
O ensino da língua chinesa para estrangeiros é prática corrente noutras instituições privadas. Já na Escola Portuguesa de Macau, por exemplo, o mandarim está integrado numa das vias de ensino curricular desde o ano letivo de 2005/2006, e a disciplina cativa atualmente 308 alunos.
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