Maputo, 06 mai (Lusa) - A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) está preocupada "com o cansaço em relação ao HIV" manifestado por alguns doadores internacionais que apoiam a luta contra a epidemia em Moçambique, alertando para as consequências da redução de ajudas.
"Preocupa-nos no momento que exista um cansaço por parte dos doadores para continuarem a financiar o combate ao HIV, como, por exemplo, o Fundo Global que cancelou uma das rondas que financia HIV, Tuberculose e Malária", disse à Lusa Carlota Silva, dos MSF.
Na opinião da analista de HIV/SIDA, a temática da luta contra a "epidemia" tem vindo a perder notoriedade junto das instituições de ajuda internacional, temendo que o número de pessoas que recebem tratamento nesta altura possa vir a reduzir.
"Verificamos que há um cansaço em relação ao HIV. As pessoas dizem que há um esforço só para o HIV e não para outras doenças. Isso não é verdade. Moçambique é um dos países mais afetados pelo HIV e se não continuarmos a lutar, não vamos conseguir dar a volta à epidemia", alertou.
"Pensamos que é essencial que não haja esse cansaço ou que o HIV não se torne fora de moda, e que cada vez mais haja uma advocacia para que tenhamos mais pessoas em tratamento", acrescentou.
Outra questão que os MSF tencionam que seja discutida pelos doadores é a substituição do tratamento antirretroviral AZT, atualmente em uso no país, pelo medicamento Tenofovir.
"Acreditamos que o Tenofovir é um medicamento que é mais bem tolerado e que, clinicamente, é superior ao medicamento que é atualmente usado em Moçambique (AZT), por isso, gostaríamos que o Governo adotasse este medicamento como primeira linha", disse Carlota Silva.
O tratamento antirretroviral com recurso ao Tenofovir é caraterizado pela toma de um único comprimido diariamente o que, na opinião dos MSF, facilita a adesão do paciente ao tratamento.
Outra caraterística do medicamento, que é mais caro do que o AZT, é que ele "é ativo contra Hepatite B, é mais forte contra o desenvolvimento de resistências e pode ser usado na gravidez e em crianças com 12 anos com mais de 35 quilos".
"Temos verificado que em toda a região subsaariana cada vez mais países estão a adotar o Tenofovir como primeira linha, o que faz com que o preço desça, e tem descido drasticamente, aliás, mais do que o AZT", disse Carlota Silva.
"Apelamos aos doadores para que continuem a financiar esta luta contra o HIV e que estejam dispostos a financiar esta alteração, que de momento é um pouco mais cara, mas que no futuro será mais barata", acrescentou.
Em Moçambique, na faixa etária da população entre os 15 e os 45 anos, a taxa de prevalência de HIV/SIDA é de 11 por cento, estando, nesta altura, 280 mil pessoas a receber tratamento antirretroviral.
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