Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
A democracia interpretativa que o governo português quer implementar no reino tem uma regra basilar: os jornalistas têm toda a liberdade para divulgar a verdade... oficial.
É por tudo isso que, se me é permitido uma espécie de jornalismo interpretativo, o ministro Miguel Relvas exige que os jornalistas e similares pratiquem um jornalismo objectivo, sério, isento, responsável e – é claro – patriótico.
Cá para mim, o melhor era pôr alguns dos muitos sipaios que a coligação governamental tem na Assembleia da República a dar“Educação Patriótica” aos jornalistas. Não, não é brincadeira. Portugal, trinta e tal anos depois da Revolução, tem uma estrutura de parasitas políticos que, um pouco à semelhança da “democracia” dos Khmer Vermelhos de Pol Pot, bem poderiam fazer essa “Educação Patriótica”.
Cada vez mais se vê que o reino de Passos Coelho, Miguel Relvas e companhia tem de pôr na linha e em linha os jornalistas que (ainda) restam. Pelos vistos não terá funcionado muito bem a estratégia de os escolher por e à medida, sendo por isso altura de corrigir o tiro.
Quanto mais tarde o fizer… pior. É que alguns jornalistas teimam em julgar que exercem a profissão num Estado de Direito Democrático. Ora isso não é verdade. E é preciso recordar-lhes o dever patriótico que têm em relação aos donos do poder e não em relação ao Povo.
É claro que Miguel Relvas deve continuar a dizer que os órgãos de comunicação social e os jornalistas devem, no cumprimento da sua missão social, conformar a sua acção não só aos princípios ético-deontológicos, como também ao princípio da responsabilidade social. Fica sempre bem dizer mentiras agradáveis.
Aliás essa coisa dos princípios ético-deontológicos, quando dita por Miguel relvas, é muito bonita mas está (terá de estar, se me permitem ser interpretativo) subordinada ao princípio basilar da actual democracia “made in PSD“ que diz: ou fazem o que queremos ou levam no focinho.
E levar no focinho significa, entre outras possibilidades interpretativas, levar mesmo uns murros ou ir para o desemprego.
O ministro Miguel Relvas é uma individualidade de reconhecidos méritos, desde logo porque todos sabem que é dono da verdade. E quando assim é, não há jornalismo interpretativo que possa dizer, ou mesmo insinuar, o contrário. É dono e pronto.
Na perspectiva de o governo avançar, como deve, com a educação patriótica dos jornalistas, sugiro que – por exemplo - prender jornalistas, ameaçar jornalistas, comprar jornalistas e por aí fora passem a ser regra fundamental do patriotismo e da democracia lusa.
Paralelamente deve ser considerada relevante a estratégia de mandar os sipaios chegar a roupa ao pelo aos jornalistas que não se deixam comprar, usar o poder económico e financeiro de gente do poder para que os donos dos jornalistas e os donos dos donos se lembrem de quem é que manda.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: QUEM TEM UMA ERC TEM TUDO
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