João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
1. Em Portugal, há uma geração de políticos que gosto de brincar com tudo. Com a Pátria, com os portugueses, com o dinheiro dos contribuintes que através do seu trabalho honesto fazem (tanto quanto possível!) pela vida. Eles brincam porque tratam o País como se fosse a sua loja maçónica (a que legitimamente pertencem, desde que não interfira com os interesses de Portugal) ou o seu clube restrito de amigos - no fundo, comportam-se como se fossem gestores de condomínio de um grande espaço, sobre o qual dispõem de um poder absoluto e isento (julgam eles!) de críticas. Mas Portugal é uma Nação secular e com uma História que a todos nos orgulha - não, não é o clube privado desta geração de líderes que nasceu a contar fichas de militantes nas secções partidárias, nunca se dignou a pensar o futuro da respectiva freguesia (quanto mais do País!) e inventaram nomes ou usaram o nome de pessoas que já nem sequer se encontravam entre nós para "medir forças" nas votações internas dos partidos. Miguel Relvas é um modelo clássico, inequívoco desta nova geração de "políticos funcionais" que nos levaram ao abismo. E que são a causa imediata, estrutural e real da crise nacional e europeia (principalmente). Só que Miguel Relvas e os seus pares devem perceber, de uma vez por todas, o seguinte: há limites para a brincadeira. Já aumentaram impostos para níveis sufocantes, já retiraram subsídios de férias e de Natal, empobrecendo os portugueses, andam à deriva quanto ao desemprego - mas atenção: não nos vão negar o respeito pelos nossos direitos, liberdades e garantias mais elementares! É que ter comissários políticos a chefiar as secretas, tendo acesso à informação detalhada de todos os portugueses, à nossa vida privada, podendo utilizá-la para chantagear tudo e todos para alcançar os seus objectivos, isso ultrapassa todos os limites razoáveis! Isso é um atentado contra o Estado de Direito Democrático!
2. Ora, o EXPRESSO avançou este fim-de-semana - em termos rigorosos, convincentes e claros - que Miguel Relvas manteve contactos com essa personagem chamada Jorge Silva de Carvalho - e que este havia pressionado o primeiro-ministro oficioso para o nomear líder das secretas! Mais: Jorge Silva Carvalho iniciou contactos com Marco António - o actual secretário de Estado da Segurança Social (ah, ah, ah, desculpem, não consigo evitar uma gargalha sempre que digo que Marco António chegou ao Governo...) para o mesmo efeito - e ameaçou o dirigente do PSD. Sejamos claros: esta historieta é um caso gravíssimo (para além de caso de polícia) para a democracia e para os direitos dos cidadãos. Em qualquer país politicamente civilizado, Miguel Relvas já se teria demitido ou sido objecto de impeachment! Um Governo, em democracia, respeita a lei e o sentido de Estado: compromete-se unicamente com o interesse público. Resiste aos interesses privados que capturam o interesse do Estado: sejam eles quais forem! Ora, Miguel Relvas é o contrário de um estadista: é um relações públicas do Governo, que julga que "compra" as opiniões adversas e mantém o seu poder através do "favorzinho". O mais chocante é que tem cobertura do Primeiro-Ministro, Passos Coelho - então, o líder do Governo apoia alguém que, por acaso, é o seu braço-direito, que está no centro de mais uma história muito suspeita nas secretas - e que é claro como a água que tem interesses e ligações privadas que o impedem de exercer as funções de Ministro com imparcialidade e isenção? Dar apoio? Passos Coelho apoia Miguel Relvas por este ter andado a falar com Jorge Silva Carvalho, prometendo-lhe a liderança dos espiões? Isto é gravíssimo - a partir de agora, ficamos a saber que Miguel Relvas não esquece os seus amigos da Maçonaria no exercício das suas funções governativas. Amanhã, se Miguel Relvas entregar (por exemplo) a RTP à Ongoing, sabemos que Passos Coelho o apoiará.
3. Caros portugueses, nós podemos resolver o problema do défice das nossas contas públicas, mas nunca sairemos da cepa torta enquanto os Miguéis Relvas desta vida continuarem a ser os "donos" da democracia portuguesa. Senhor Miguel Relvas, por favor, se tem um mínimo de honra pessoal, perceba que não reúne condições objectivas para ser Ministro dos Assuntos Parlamentares de Portugal! Por favor, demita-se! Se Passos Coelho não o demitir, então, só podemos concluir que o Primeiro-Ministro é cobarde. A realidade é esta.
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