i online - Lusa
O primeiro-ministro da Guiné-Bissau deposto pelo golpe de Estado de 12 de abril, Carlos Gomes Júnior, afirmou hoje, em Lisboa, que "o povo guineense está a exigir o retorno do Governo saído das urnas".
Carlos Gomes Júnior e o Presidente interino também deposto pelo golpe de Estado, Raimundo Pereira, reuniram-se hoje com eurodeputados portugueses no Centro Jean Monnet, onde funciona a representação do Parlamento Europeu em Lisboa, numa iniciativa organizada pela eurodeputada socialista Ana Gomes.
"Esta reunião foi bastante frutuosa para demonstrar que o povo guineense está a exigir o retorno do governo saído das urnas e nós vamos continuar a trabalhar nesse sentido", declarou Gomes Júnior aos jornalistas no final da reunião, em que também participaram o embaixador guineense em Lisboa e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo deposto.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chegou a acordo com o Comando Militar responsável pelo golpe de Estado sobre um plano de transição para a Guiné-Bissau, que incluiu a designação de Serifo Nhamadjo para Presidente e um Governo de transição até à realização de novas eleições.
Carlos Gomes Júnior reafirmou hoje que "é um governo ilegal, porque não tem sustentabilidade parlamentar". E acrescentou: "Ai de África se continuar a ter um exemplo desta natureza, em que meia dúzia de pessoas resolve depor o seu governo e arranja uma instituição estrangeira para vir dar o seu aval".
O político guineense recordou, igualmente, que o seu partido, o PAIGC, obteve cerca de 67 mandatos sobre 100 nas últimas eleições e observou: "Não podemos continuar a trabalhar desta forma, ir às urnas e depois meia dúzia de pessoas porem em causa estas eleições, que foram declaradas pela própria comunidade internacional como sendo justas, livres e transparentes".
Depois de lembrar que que "a resolução do Conselho de Segurança" sobre a Guiné-Bissau "prima pelo cumprimento da lei e das normas internacionais", contra o golpe de Estado, Gomes Júnior manifestou a opinião de que "a comunidade internacional não vai continuar a pôr fundos num governo que não tenha saído do veredito popular".
Ana Gomes recordou que o Parlamento Europeu já manifestou "uma clara rejeição de uma solução que não passe pela restauração da ordem democrática na Guiné-Bissau, pelo Governo legitimamente eleito e pela retoma do processo eleitoral" no âmbito das eleições presidenciais, interrompido pelo golpe de Estado.
A eurodeputada alertou ainda para a necessidade de proteger a população guineense de "um desastre humanitário de grandes proporções", com epidemias de cólera, por os serviços sanitários e de limpeza na Guiné-Bissau não estarem a funcionar em pleno devido à crise político-militar.
Sublinhou, também, que "trabalhar pela governação democrática da Guiné-Bissau corresponde ao interesse estratégico de segurança da própria Europa, não deixando que as organizações de narcotráfico ali ativas se articulem com as redes terroristas já presentes no Sahel e na Nigéria".
Na reunião participou também uma representante do eurodeputado do CDS-PP Nuno Melo, João Ferreira do PCP, o eurodeputado socialista Correia de Campos, uma representante do Bloco de Esquerda e ainda uma representante da organização não-governamental Afecto com Letras, com sede em Bruxelas e que trabalha com a Guiné-Bissau, envolvendo portugueses.
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