quarta-feira, 9 de maio de 2012

QUANDO SE ELEGE ESCUMALHA…




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, defendeu hoje em Fátima que a Igreja Católica precisa de mais apoio do Governo para garantir ajuda às pessoas na actual crise.

Crise? Qual crise? Ah! A dos portugueses de segunda, onde se incluem um milhão e duzentos mil desempregados, 20% de pobres e outros tantos que já não sabem para que servem os pratos.

Mas esses, como bem sabe Manuel Morujão, não são propriamente portugueses. Portugueses de pleno direito são cidadãos do tipo Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.

No final do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que hoje reuniu em Fátima, o padre recordou o caso denunciado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP), cujo presidente acusou recentemente o Ministério da Saúde de não honrar as suas obrigações e admitiu existirem instituições em situação de ruptura e com salários em atraso.

"As Misericórdias estão a ter graves dificuldades em responder - nas suas obras sociais - às pessoas que lhe batem à porta porque não têm chegado as verbas prometidas pelo Estado. Não vemos aí má vontade, mas queremos uma vontade mais cooperante para que a Igreja possa responder a essas urgências sociais", afirmou Manuel Morujão.

Pois. Não é má vontade. É apenas a velha tendência dos países, ou renos, esclavagistas para serem fortes com os fracos. E quanto mais fracos forem… melhor! Importa, contudo, esclarecer que o governo português até é solidário com os seus escravos. Sabendo que muitos passam fome, Pedro Passos Coelho e a sua comandita até fazem greve de fome. Entre as refeições, entenda-se.

Enquanto os portugueses de segunda se pelam por um prato de comida, nem que seja de farelo, os donos do reino refastelam-se com trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.

O porta-voz da CEP sublinhou que "o Estado terá de olhar para aqueles que estão no terreno, próximo das pessoas, a ajudar a ultrapassar a crise", desejando que o Governo "ponha em prática a boa vontade manifestada".

É verdade. O Estado deveria andar no terreno. Mas isso era se o Estado fosse uma instituição de bem. Aliás, os donos do reino não se rebaixam a ponto de andar junto do povo, dos escravos. Eles estão acima desse gente que consideram escumalha.

O padre aproveitou para dizer que "a crise tem credibilizado a Igreja pelas suas múltiplas instituições sociais" precisamente porque "tem estado perto daqueles que precisam". Por outras palavras, tem descredibilizado o Estado porque ele não anda “perto daqueles que precisam”.

Como dizia, embora a outro propósito, Frei João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida". Eu acrescentaria que, apesar de tudo, Passos Coelho estabeleceu outras etapas antes da pena capital. O desemprego, os impostos, as reformas fechadas, o roubo dos subsídios são alguns exemplos. Todos eles podem, contudo, resumir-se na grande meta do governo, que é a de pôr os portugueses a viver sem comer.

Adaptando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal "muitos governantes, gestores, administradores, políticos e similares têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".

Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o Povo se prepara para morrer de fome e de falta de assistência médica. O tempo em que o mais importante era resolver os problemas do povo, já lá vai. Os políticos anteriores preparam o cemitério e Passos Coelho deu-lhe o golpe de misericórdia.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: QUEM DEFENDA OS QUE TÊM FOME É INCENDIÁRIO

Sem comentários:

Mais lidas da semana