quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quem está por trás do grupo sem rosto que ataca jovens oposicionistas em Angola?



Deutsche Welle

Um suposto “Grupo de Cidadãos Angolanos pela Paz, Segurança e Democracia” reivindicou vários ataques contra jovens que ousam manifestar-se contra o regime em Angola. Quem está por trás deste grupo sem rosto?

Foi a Televisão Pública de Angola (TPA) que, em março do corrente ano, deu amplo espaço a um suposto “Grupo de Cidadãos Angolanos pela Paz, Segurança e Democracia na República de Angola”. Este grupo, com membros não identificados, terá sido o responsável por vários ataques a representantes da sociedade civil de oposição ao regime de José Eduardo dos Santos.

Invasões a residências e ataques em pleno espaço público

A primeira invasão aconteceu a 9 de Março passado, tendo os agressores atacado, com barras de ferro, a residência do rapper Carbono Casimiro, onde se encontravam os ativistas Liberdade Sampaio, Catumbila Faz-Tudo “Caveira”, Nelito Ramalhete e António Roque dos Santos. Estes jovens organizavam um protesto contra o presidente José Eduardo dos Santos, uma manifestação que deveria ter lugar no dia seguinte.

A 10 de Março, supostamente, os mesmos atacantes dispersaram violentamente uma concentração de cerca de 30 manifestantes, no Tanque do Cazenga, em Luanda, tendo causado sérios ferimentos, entre outros, ao rapper Luaty Beirão “Ikonoklasta”, assim como ao secretário-geral do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.

Ativistas angolanos dizem que é o governo quem está por trás dos ataques

Rafael Marques, em entrevista à DW África, afirma que os atacantes pertencem às forças de segurança do governo e não atuam como um grupo individual: "São elementos da polícia nacional e da segurança do Estado. Não há um grupo. São agentes de segurança e de polícia."

Idêntica opinião tem Timóteo João, um dos ativistas que tem estado na frente das manifestações contra José Eduardo dos Santos e que também tem sido alvo de perseguições e ameaças do "Grupo de Cidadãos Angolanos pela Paz, Segurança e Democracia": "Os atacantes estavam encapuzados. Em Angola não se vende capuzes nas lojas, foi a polícia de intervenção rápida que fez aquilo. As armas que eles usam são as armas que a polícia usa."

O último ataque ocorreu na noite de terça-feira (22.05.2012): três pessoas ficaram gravemente feridas depois de um grupo de 15 homens armados e encapuzados terem atacado 10 jovens ligados aos protestos contra o governo angolano, novamente em casa do rapper Carbono Casimiro, em Luanda,

Américo Vaz, uma das vítimas, afirma ter fotos e vídeos que servem de prova, garante que os atacantes são os responsáveis pela violência nas manifestações e salienta que os grupos "fazem-se deslocar em carros das forças de segurança."

Autoridades angolanas mantêm silêncio

Quem é o grupo de indivíduos armados que atacam os manifestantes anti-governo em Angola? Jovens manifestantes e ativistas afirmam que é a própria polícia que está por trás das agressões. A DW África tentou - em vão - obter uma reação da Polícia Nacional de Angola.

Autores: Nuno Noronha / António Cascais - Edição: António Rocha

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