Martinho Júnior, Luanda
UMA AVENTURA SEM CONTEÚDO E COM O PIOR DOS RUMOS
O condenável golpe de estado na Guiné Bissau põe a nu uma confrangedora incompetência e má vontade de quem comanda as Forças Armadas da Guiné Bissau:
1 ) O golpe foi feito por militares subordinados ao General António Indjai, Chefe do Estado Maior Geral e comandados por ele, que apresentaram em seu socorro argumentos de contingência, reflectindo uma situação conjuntural que não seria muito difícil ultrapassar-se a contento de todas as partes.
Em muitos aspectos, o golpe reflecte psicologias que primam por reacções caprichosas, reveladoras de incapacidade e com horizontes muito curtos, senão erráticos.
Nenhum argumento por parte dos militares golpistas tem conteúdos filosófico-ideológicos, nem tampouco esboçam de forma construtiva e clara novas estratégias em benefício da Guiné Bissau, de seu povo, de suas instituições e das suas próprias Forças Armadas.
Se o “remédio” angolano não melhorou o estado de saúde do doente, o doente está a tomar outros medicamentos que o vão colocar numa posição ainda mais frágil, vulnerável e submissa a nível regional.
2 ) Os argumentos contra o 1º Ministro Carlos Gomes, candidato a Presidente em vantagem na 1ª volta das eleições, não foram suficientemente exaustivos e inequívocos: confrontados com o “0” filosófico-ideológico do golpe e seus objectivos, conduzem-nos à conclusão que a decisão foi precipitada, inconclusiva e irresponsável.
Os oficiais golpistas indiciam por outro lado não ter procurado cultivar as respostas institucionais mais adequadas, não esgotaram as possibilidades de colocar às instituições as suas preocupações e agiram sem aparentemente medir as consequências.
Uma “resistência” nestes termos só pode produzir um péssimo serviço à Guiné Bissau!
3 ) Os argumentos em relação à MISSANG poderiam ter sido encaminhados por dentro das próprias Instituições da Guiné Bissau, por muito frágeis que elas sejam e até ao nível do Presidente, por muito criticável que ele fosse.
Isso não foi feito pelo que, em época eleitoral, alguns políticos tiraram partido disso, acabando por empolar a situação, revelando a sua manifesta aversão à MISSANG e por tabela a Angola e à CPLP, o que indicia outros alinhamentos e interesses.
4 ) Ao inibirem os relacionamentos com Angola e com a CPLP (por muito desvantajosos que eles fossem), os militares golpistas da Guiné Bissau abriram espaço à “oportunidade” CEDEAO, aos interesses da Nigéria e sobretudo da “Françafrique”, com consequências que acarretarão prejuízos para a soberania da Guiné Bissau maiores do que os que possam ter havido.
O endurecimento das posições dos golpistas em Banjul, na Gâmbia, favorecem a posição daqueles que podem vir a impor à Guiné Bissau um “protectorado de geometria variável” com pendor neo colonial nos próximos anos.
A irredutibilidade dos golpistas face à CEDEAO confirma a sua incompetência, má vontade, incapacidade e irresponsabilidade.
5 ) Estes “jogos africanos” só favorecem os interesses neo coloniais: África está a perder capacidades próprias de se assumir, sendo pasto de contradições que respondem a manipulações que vêm de fora e de longe, o que só favorece as potências e o império, que neste caso continuarão a agir “por procuração”, mudando de mão nas execuções que estiverem na ordem do dia.
É evidente que a integração absoluta na “Françafrique” é o pior dos “medicamentos”!
6 ) Perante esta aventura sem conteúdo e o pior dos rumos, resta fazer uma pergunta: como foi possível a Angola não prever este tipo de cenários e deixar-se envolver neles?
Foto: O CEMG da Guiné Bissau, General António Indjai, mais uma figura na história trágica da Guiné Bissau, sem honra, nem glória e correndo o risco de hipotecar o pouco que resta da soberania nacional!
Referências:
- África Monitor – http://www.africamonitor.net/
- Contributo do Didinho – http://www.didinho.org
- Ditadura do consenso – http://ditaduradoconsenso.blogspot.com
- Guiné Bissau Docs – http://guinebissaudocs.wordpress.com/
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