sexta-feira, 4 de maio de 2012

SANÇÕES DA UE VISAM CÚPULA DOS MILITARES DA GUINÉ-BISSAU



MB - Lusa

Bissau, 04 mai (Lusa) - As sanções impostas na quinta-feira pela União Europeia a seis elementos do Comando militar que fez o golpe de Estado de 12 de abril na Guiné-Bissau visam os principais responsáveis pelos diferentes ramos das forças armadas.

A UE divulgou hoje os nomes dos militares que vão ser alvo das sanções, que incluem a proibição de entrar em território comunitário e o congelamento de bens:

- António Indjai, chegou à chefia das Forças Armadas da Guiné-Bissau na sequência de um golpe por ele protagonizado a 01 de abril de 2010 contra o seu chefe, Zamora Induta, que acusou de crimes de peculato e de má conduta militar.

Na altura, ameaçou de morte o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

Antes de chegar ao topo da hierarquia, era comandante da zona militar norte, liderando o quartel de Mansoa, 60 quilómetros a norte de Bissau.

De etnia Balanta, António Indjai celebrizou-se sobretudo pelas suas declarações, antes das eleições presidenciais antecipadas de março passado, segundo as quais pretende ser o único chefe das Forças Armadas que conseguiu acompanhar um Governo até ao fim do seu mandato, o que não aconteceu.

Dizia a bom som que com ele na chefia das Forças Armadas não havia lugar para golpes de Estado.

Desde que foi nomeado pelo Presidente Malam Bacai Sanha chefe das Forças Armadas, em junho de 2008, oficialmente António Indjai nunca efetuou viagens para qualquer país da Europa.

- General Mamadu Turé, mas conhecido por 'Nkrumah' é um oficial de etnia Mandinga, muçulmano, com o título de El Haj (pessoa que já fez a peregrinação a Meca).

Homem de baixa estatura, Mamadu 'Nkrumah' é no entanto tido por um militar duro devido à sua formação de Comando em Portugal. Foi o fundador do regimento dos Paracomandos, um dos corpos de elite das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

Passa por ser um militar académico, daí o facto de ser um dos militares que representam o Estado-Maior das Forças Armadas guineenses em encontros internacionais, sobretudo a nível da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Antes de ter sido chamado pelo general António Indjai para seu vice, desempenhava as funções de chefe do Estado-Maior do Exército.

- General Augusto Mário Có, de etnia Papel (a mesma do falecido Presidente 'Nino' Vieira), chefe do Estado-Maior do Exercito, é dos militares mais conhecidos na sociedade guineense, sobretudo durante e depois da guerra civil de 1998/99.

Durante a guerra civil, Augusto Mário Có celebrizou-se pelas suas façanhas militares nos campos de combate, defendendo a Junta Militar do general Ansumane Mané, que se rebelou contra o então Presidente 'Nino' Vieira.

Dessa guerra ficou conhecido pelo nome de Capacete de Ferro, artefacto que usava mesmo nos dias em que não havia combates.

Até hoje, este antigo jogador de futebol, do Ajuda Sport Clube de Bissau e do Estrela Negra de Bissau, é conhecido e tratado por Capacete de Ferro.

Também são raras as suas deslocações à Europa, pelo menos em termos oficiais.

- General Ibraima Papa Camará, piloto aviador formado na antiga União Soviética, este oficial general das Forças Armadas guineenses era praticamente um desconhecido entre os guineenses até à chegada do general António Indjai ao cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

O nome de Papa Camará começou a aparecer na ribalta quando foi referenciado, juntamente com o contra-almirante Bubo Na Tchuto, pelo departamento de Estado norte-americano como sendo um dos barões da droga na Guiné-Bissau.

Papa Camará sempre negou tais acusações, desafiando mesmo os seus detratores a apresentarem provas de que seria barão da droga na Guiné-Bissau ou que possuía bens ou dinheiro nos bancos europeus.

Ibraima Papa Camará, um conhecido amante e praticamente de futebol, fala fluentemente o inglês.

- Estêvão Na Mena, Comodoro, de etnia Balanta. Na Mena é o atual inspetor das Forças Armadas guineenses, cargo que passou a ocupar desde 2008 quando foi exonerado pelo então Presidente Malam Bacai Sanhá da chefia da Armada do país, deixando esse lugar para Bubo Na Tchuto, que após regressar de um exílio voluntário na Gâmbia exigiu ser recolocado como chefe do Estado-Maior da Marinha.

Na altura falou-se que Estêvão Na Mena foi colocado como inspetor-geral das Forças Armadas para lhe acalmar os ânimos pela forma como foi obrigado a deixar a chefia da Armada a favor de Bubo Na Tchuto.

Estêvão Na Mena, antes de ser chamado para o cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, era comandante da flotilha da Marinha. É formado na antiga União Soviética. De baixa estatura e sempre bem fardado com o uniforme branco da Marinha guineense, Estêvão Na Mena é um homem de poucas falas. Raras vezes viaja para a Europa.

- Tenente-Coronel Daba Na Walna, porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses e chefe do gabinete do general António Indjai, cargo que, aliás, já tinha desempenhado quando Zamora Induta era chefe das forças armadas.

Tido como um brilhante jurista formado pela Faculdade de Direito de Bissau, onde leciona há mais de cinco anos, Daba Na Walna destaca-se pela sua capacidade de argumentação em termos jurídicos e políticos. O próprio admitiu recentemente que 'não gostava de morrer sem que um dia fizesse política".

Mestre em direito e doutorando pela Faculdade de Direito de Lisboa, Daba Na Walna, antigo jornalista na rádio Voz da Junta Militar (durante a guerra civil de 1998/99) é seguramente entre os militares guineenses aquele que mais tem ligações a Portugal.

Numa entrevista à agência Lusa nos primeiros dias do golpe de Estado, Na Walna, também de etnia Balanta, já dizia ter a consciência de que o seu processo de doutoramento poderá estar em causa se um dia houvesse sanções contra os membros do Comando Militar que protagonizou o golpe.

Entre os seis militares proibidos de viajar para países da União Europeia, Daba Na Walna será seguramente aquele que ficará mais afetado.

Daba Na Walna é o único, entre os militares agora alvo de sanções, que não participou na luta armada pela independência da Guiné-Bissau, dai não ter o estatuto de combatente de liberdade da pátria que os outros ostentam. Tem atualmente 47 anos de idade.

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