sábado, 26 de maio de 2012

SECRETAS: MIGUEL RELVAS RESPONDEU A SMS DE JORGE SILVA CARVALHO




Paulo Pena e Ricardo Fonseca - Visão

No processo das "secretas" há pelo menos quatro mensagens escritas enviadas do telemóvel de Miguel Relvas para o do ex-director do SIED

Os registos das mensagens escritas de Miguel Relvas para Jorge Silva Carvalho começam poucos dias antes da demissão do ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, em novembro de 2010.

O actual ministro-adjunto de Passos Coelho era secretário-geral do PSD e aparece como um elo de ligação entre um jornalista e o espião. O teor da primeira mensagem (de que há registo no processo) enviada por Relvas é esse. A segunda mensagem enviada pelo ministro pouco acrescenta.

A terceira, enviada no próprio dia da demissão de Silva Carvalho, à meia noite e 57 minutos, transmite-lhe um elogio, do jornalista, à coragem da demissão. Nessa mensagem, curta, é referida uma relação de amizade entre Relvas e Silva Carvalho. A quarta, e última sms data de 16 de abril do ano passado, em vésperas da queda do governo de José Sócrates, e é uma promessa de Relvas avaliar a possibilidade de algum pedido (desconhecido) formulado pelo ex-espião.

Estas mensagens corroboram, em parte, aquilo que o ministro declarou no Parlamento. Que apenas respondia, a algumas mensagens de Silva Carvalho, por "cortesia". Mas as mensagens enviadas por Jorge Silva Carvalho são uma história bem diferente.

Mesmo enquanto dirigia o SIED, Carvalho procurava a opinião de Relvas. Comentava notícias, referia conversas tidas entre ambos sobre assuntos relacionados com os serviços secretos.

A famosa lista de nomes que Silva Carvalho queria nomear para as secretas chegou ao telemóvel de Miguel Relvas no dia 19 de maio do ano passado, em plena campanha eleitoral para as legislativas.

A mensagem é só a lista, sem qualquer explicação. O nome do Secretário-geral dos serviços está, propositadamente, em branco. Para a direcção do SIED, a sugestão é João Bicho (demitido há dias) e como adjunta aparece o nome da mulher que liderou a investigação interna às irregularidades de Silva Carvalho, Filomena Teixeira. Para o SIS, o ex-espião sugeria Luís Neves, diretor da Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ, e como adjunta uma funcionária da secreta.

Não há qualquer registo de resposta de Miguel Relvas. E nenhum dos nomes sugeridos por Silva Carvalho veio a ocupar nenhum dos lugares em causa. No Parlamento, Relvas garantiu ter recebido essa mensagem, e declarou não ter respondido: "Recebi 'sms' com sugestões de nomes, aos quais não respondi (...) Comprometedor era eu responder às 'sms'"

Mais tarde, logo dia 6 de junho, um dia após a vitória do PSD nas eleições legislativas, Silva Carvalho tenta obter de Relvas um favor: denuncia-lhe, tratando-o por tu, um alegado plano de Ângelo Correia para nomear para o SIS uma funcionária da secreta cujo marido, por conveniência, seria afastado do serviço para um cargo de relevo num banco português em Angola.

A partir desta data, corroborando o que Relvas garantiu aos deputados, não existem mais registos de mensagens. Insinuou-se?

Relvas garantiu aos deputados que, consigo, o ex-espião nunca se insinuou para nenhum cargo.

Mas o mesmo não pode dizer o secretário de Estado da Segurança Social, e dirigente do PSD, Marco António Costa. Numa divertida troca de mensagens, no dia 15 de março do ano passado, Jorge Silva Carvalho apresenta-se como o homem que Marco António não quer aceitar para ministro ou chefe das secretas.

Mais uma vez, a forma de tratamento é a mais familiar, muito embora Marco António, ao início, pareça não reconhecer o número do remetente da mensagem.

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