quarta-feira, 27 de junho de 2012

UM LONGO COMPASSO DE ESPERA – II




Martinho Júnior, Luanda

5 – O Brasil tem sido entre os emergentes um dos mais empenhados em relação às questões ambientais e uma das razões de suas legítimas preocupações é a Amazónia, o maior pulmão tropical do planeta.

África deveria estar muito mais atenta às preocupações que se levantam em relação aos pulmões tropicais: a bacia do Congo, é o segundo maior do planeta e as situações correntes de delapidação das florestas são similares, mas com meios distintos de intervenção em defesa do ambiente.

Efectivamente, as preocupações do Brasil em relação à Amazónia, apesar de tudo, têm conduzido à produção duma outra consciência da situação específica, o que não acontece em África, onde a bacia do Congo tem sido atingida por uma delapidação sem precedentes, em especial nos dois Kivus (a guerrilha de Laurent Kabila e do Che foram precisamente a sudeste dessa área crítica, entre o rio Congo e o lago Tanganika).

África corre portanto mais riscos ainda de delapidação da região florestal tropical vital para o continente e para o mundo que a América do Sul em relação ao Amazonas!...

6 – Vinte anos depois Raul realça a justiça do alerta de Fidel, confirma qual o “modos operandi” em relação aos desafios e riscos correntes e sintetiza juntando algumas impressões de ordem estatística ao Manifesto de há 20 anos antes (http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/06/24/discurso-de-raul-castro-na-rio20/):

“O que pôde ter sido considerado como alarmista, hoje é uma realidade irrefutável. A incapacidade de transformar modelos de produção e consumo insustentáveis atenta contra os equilíbrios e a regeneração dos mecanismos naturais que sustentam as formas de vida no planeta.

Os efeitos não podem ser ocultados. As espécies desaparecem a uma velocidade cem vezes mais rápida do que as indicadas nos registos fósseis; mais de cinco milhões de hectares de florestas perdem-se cada ano e cerca de 60 por cento dos ecossistemas estão degradados.

Apesar do que representou a Convenção da Nações Unidas sobre a Mudança Climática, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 38 por cento entre 1990 e 2009. Agora vamos para um aumento da temperatura global que vai pôr em risco, em primeiro lugar, a integridade e a existência física de numerosos Estados insulares em desenvolvimento e produzirá graves consequências em Países da África, Ásia e América Latina.

Um profundo e detalhado estudo realizado nos últimos anos por nossas instituições científicas, coincide no fundamental com os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática e confirma que no presente século, de se manter as actuais tendências, produzir-se-á uma paulatina e considerável elevação do nível médio do mar no arquipélago cubano. A referida previsão inclui a intensificação dos eventos meteorológicos extremos, como os ciclones tropicais e o aumento da salinização das águas subterrâneas. Todo isto terá sérias consequências especialmente nas nossas costas, pelo que já iniciamos a adopção das medidas correspondentes.

Este fenómeno teria, igualmente, fortes implicações geográficas, demográficas e económicas para as ilhas do Caribe, que também devem encarar as iniquidades dum sistema económico internacional que exclui aos pequenos e mais vulneráveis.

A paralisação das negociações e a falta de um acordo que permita parar a mudança climática global são um nítido reflexo da falta de vontade política e a incapacidade dos países desenvolvidos para actuarem conforme as obrigações derivadas da sua responsabilidade histórica e sua posição actual.

Aumenta a pobreza, cresce a fome e a desnutrição e aumenta a desigualdade, agravada nas últimas décadas como consequência do neoliberalismo.

Durante estes vinte anos lançaram-se guerras de novo tipo, concentradas na conquista de fontes energéticas como a acontecida no 2003 com o pretexto das armas de exterminação maciça que nunca existiram, e a que recentemente se produziu no norte da África. Às agressões que agora se vislumbram continuar contra países do Oriente Médio somar-se-ão outras, com o objectivo de controlar o acesso à água e a outros recursos em vias de esgotamento. Deve se denunciar que tentar uma nova partilha do mundo, vai desencadear uma espiral de conflitos de incalculáveis consequências para um planeta já gravemente inseguro.

A despesa militar cresceu nestas duas décadas à astronómica cifra de 1,74 milhões de dólares, quase o dobro que em 1992, o que arrasta à corrida aos armamentos a outros estados que se sentem ameaçados. A dois decénios do fim da Guerra Fria, contra quem usarão estas armas?

Deixemos as justificações e egoísmos e busquemos soluções. Esta vez, todos, absolutamente todos, pagaremos as consequências da mudança climática. Os governos dos países industrializados que actuam desta forma não deveriam cometer o grave erro de achar que poderão sobreviver um pouco mais às custas de nós. Seriam imparáveis as vagas de milhões de pessoas famintas e desesperadas do Sul para o Norte bem como a revolta dos povos perante tanta indolência e injustiça.

Nenhum hegemonismo então será possível. Que pare a pilhagem, que pare a guerra, avancemos para o desarmamento e destruamos os arsenais nucleares.

Temos a urgência duma mudança transcendental. A única alternativa é construir sociedades mais justas, estabelecer uma ordem internacional mais equitativa, baseada no respeito ao direito a todos; garantir o desenvolvimento sustentável às nações, especialmente do Sul, e colocar os avanços da ciência e a tecnologia ao serviço da salvação do planeta e da dignidade humana.

Cuba aspira a que se imponham a sensatez e a inteligência humana sobre a irracionalidade e a barbárie”.

7 – O respeito pela Mãe Terra, os direitos humanos vistos pelo prisma do equilíbrio, da solidariedade e da paz, o aprofundamento da democracia por via da cidadania e da participação, o amor por esta nossa “casa comum”, respondem aos desafios correntes e, quanto mais tarde o sentido da vida for apreendido pela consciência humana alargada, mais riscos correrão o planeta, a imensa diversidade biológica e a humanidade.

O exemplo da Revolução Cubana inclui a previsão e a planificação geo estratégica a partir do conhecimento físico-geográfico e humano, isto é, o esforço é de facto um esforço de vanguarda que corresponde à natureza dos desafios fora da tão perturbadora lógica capitalista e dos danos que ela tem acarretado.

É assim que se compreende a vontade da Revolução Cubana e do Povo Cubano no que diz respeito à cidadania, à participação, ao aprofundamento da democracia e à paz, tudo isso enquanto elementos revolucionários, efectivamente de vanguarda (inclusive pela acumulação das suas experiências) em relação ao todo global, tal como a orientação do conhecimento científico e tecnológico respondendo à prioridade homem e natureza, enquanto elementos do renascimento civilizacional possível que de forma premente se impõe.

8 – A via progressista que tem sido implementada cada vez mais pelas forças exponenciais da América Latina, tendo a Revolução Cubana e a ALBA como sua expressão maior em relação aos fenómenos correntes que dizem respeito ao homem e ao planeta, interessa a África em função do subdesenvolvimento crónico que subsiste e às necessidades dum renascimento que corresponda à situação e inventário físico-geográfico do continente.

O conhecimento científico relativo às questões físico-geográficas em especial no que diz respeito à água e às florestas, tal como em relação às questões humanas, é uma inadiável para o continente, por aquilo a que conduz: a possibilidade duma planificação sustentada e integrada, geo estratégica, no âmbito da “Visão 2050”!
Foto: Imagem da Lua (1º plano) e da Terra (à distância) recolhida a partir duma sonda norte americana enviada para observar e estudar a superfície lunar.

Consultas:
- Confira os documentos produzidos nas plenárias da Cúpula dos Povos – http://cupuladospovos.org.br/2012/06/confira-os-documentos-produzidos-nas-plenarias-da-cupula/
- Declaração final da cúpula dos povos na Rio+20 – http://cupuladospovos.org.br/2012/06/declaracao-final-da-cupula-dos-povos-na-rio20-2/
- “Construamos uma Arca de Noé que nos salve a todos” – http://pagina--um.blogspot.com/2010/08/construamos-uma-arca-de-noe.html

1 comentário:

Anónimo disse...

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