Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Segundo o jornal i, em Abril houve menos 327 mil consultas presenciais nos cuidados primários, a maior quebra de sempre registada na monitorização mensal dos cuidados de saúde.
Como aqui escrevi no final do ano passado, os portugueses entenderam bem a estratégia do governo para quem a solução para a crise de Portugal estava em viver sem comer e morrer sem ficar doente.
De facto, mais do que saber o que o governo pode fazer pelos portugueses, sendo que quatro em cada dez admitem fazer cortes no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos, importa saber o que os cidadãos podem e devem fazer pelo governo.
Podem, por exemplo, viver às escuras porque isso ajuda a controlar a diabetes. Podem também viver sem comer pois essa estratégia ajuda a diminuir o excesso de peso e as doenças correlativas.
De acordo com o barómetro "Os portugueses e a saúde", 1,2 milhões de portugueses afirmam que deixam na farmácia alguns dos medicamentos necessários, sendo a população idosa, não activa, com níveis de instrução mais baixos a mais atingida com tal medida.
Quanto a mim isto acontece por uma manifesta incapacidade do governo em passar a sua mensagem. É que os portugueses ainda não perceberam os nobres, altruístas e beneméritos intentos dos donos do país quando sugerem (impõem, vá lá) que os cidadãos vivem sem comer e morram sem ficar doentes.
E porque não entendem, se calhar estão tentados – por manifesta influência da oposição - a dizer que estão entregues à bicharada. Mas não é assim. Desde logo porque a bicharada, até mesmo essa, não gosta de se alimentar de corpos esqueléticos, famintos e em estado terminal.
Acresce que, mais uma vez bem, o Governo continua a dar sobejos exemplos de que também está a apertar aquilo que os cidadãos já não têm, o cinto. Convém não esquecer, por exemplo, que os membros da equipa de Passos Coelho também fazem greve de fome para ajudar a pôr o país em e na ordem. É claro que só o fazem entre as refeições, mas – convenhamos - já é alguma coisa…
Recordam-se os portugueses de a ex-ministra da Saúde, Ana Jorge, ter apelado às famílias para fazerem “sopa em casa” em vez de gastarem em “fast food”, aproveitando a necessidade de contenção económica e como forma de combater a obesidade?
“É bom que as pessoas deste país tenham a noção que a obesidade implica um tratamento sério e alteração de comportamentos, desde que se nasce, ou melhor, até durante a gravidez”, realçou a então ministra, acrescentando que “é necessário modificar os comportamentos alimentares e de sedentarismo que as pessoas estão a ter” em Portugal.
Melhor do que comer sopa é, e um dia destes ainda vamos ver o actual primeiro-ministro a falar disso, fazer o mesmo que o indiano Prahlad Jani que – diz ele e até tem testemunhas ditas credíveis - não come nem bebe há mais de 70 anos.
Até agora, sobretudo porque os portugueses são uns desmancha-prazeres, os resultados em Portugal não são por aí além animadores. Todos os que tentaram seguir, por correspondência, o método de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá... morreram.
Uma investigação levada a cabo por especialistas da Universidade de Granada (Espanha) permitiu concluir que dormir completamente às escuras pode ajudar a controlar melhor a diabetes mellitus, uma doença metabólica crónica provocada pela insuficiente produção de insulina pelo corpo.
Se a esse facto se juntar o aumento do IVA na energia eléctrica, o melhor mesmo é viver às escuras, sem electrodomésticos e exercitando o corpo na lavagem da roupa à mão e bebendo líquidos à temperatura ambiente.
Essa quantidade insuficiente de insulina provoca excesso de glucose no sangue, pelo que os doentes têm que controlar ao longo de toda a sua vida os níveis, injectando insulina, seguindo uma dieta alimentar saudável e praticando exercício físico.
Recentemente, a equipa de investigadores da Universidade de Granada demonstrou que a melatonina, uma hormona segregada de forma natural pelo corpo humano, ajuda a controlar a diabetes, já que aumenta a secreção da insulina, reduz a hiperglicemia e a hemoglobina glicada e diminui os ácidos gordos livres, adiantou o jornal espanhol ABC.
Os mesmos efeitos foram verificados com a ingestão de alimentos que contém melatonina, como o leite, os cereais e as azeitonas, ou algumas plantas, como a mostarda, a curcuma, o cardamomo, a erva-doce e o coentro.
Aqui a coisa já não tem tanta piada. É que o leite, os cereais etc. são, cada vez mais, bens de luxo. E a situação do país não se compadece com esses gastos. Pão e laranja, ou farelo, é quanto basta. E mesmo assim…
Entretanto, baseado no exemplo de Prahlad Jani, Passos Coelho (certamente com a colaboração institucional de Cavaco Silva, Paulo Portas e António José Seguro) pretende - e vai conseguir - ensinar os portugueses a, pelo menos, viver sem comer.
Tal como já os ensinou a morrer sem ir ao médico. É obra!
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: MANTEIGA VIRADA PARA BAIXO
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