quinta-feira, 19 de julho de 2012

CPLP: Guiné-Bissau de novo no centro da reunião de chefes de estado e governo



FP - Lusa

Bissau, 18 jul (Lusa) - A Guiné-Bissau, tradicionalmente representada nas cimeiras da CPLP pelo Presidente do país, estará presente sexta-feira em Maputo com chefe de Estado reconhecido por parte substancial da comunidade internacional mas que foi praticamente expulso de Bissau.

A situação demonstra a crise política que a Guiné-Bissau atravessa, com um Governo de transição que leva quase dois meses mas que não é reconhecido por grande parte da comunidade internacional, incluindo a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), e dois dirigentes a "representarem" o país mas que foram afastados no golpe de Estado de abril passado.

A cimeira de chefes de Estado e de governo da CPLP de dia 20 em Maputo, quando Moçambique assumir a presidência rotativa da organização, vai ter como um dos pontos de discussão a situação na Guiné-Bissau, país onde a 12 de abril os militares afastaram os dirigentes eleitos, Raimundo Pereira, Presidente interino, e Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro.

Em Maputo, a Guiné-Bissau será representada por Raimundo Pereira e, antes disso, na quinta-feira, Mamadu Djaló Pires, ministro dos Negócios Estrangeiros afastado no golpe, participará na reunião de ministros que antecede a cimeira.

Na cimeira de 2006, em Bissau, o país foi representado pelo Presidente Nino Vieira, o mesmo que se deslocou a Lisboa em 2008.

Em 2010, na sequência do assassínio de Nino Vieira, o Presidente entretanto eleito, Malam Bacai Sanhá, representou a Guiné-Bissau na cimeira de Luanda.

Malam Bacai Sanhá morreu de doença em janeiro deste ano e foi, constitucionalmente, substituído por Raimundo Pereira, presidente da Assembleia Nacional Popular, tendo como principal objetivo organizar eleições presidenciais antecipadas.

Carlos Gomes Júnior, líder do maior partido (67 em 100 assentos parlamentares), o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), e primeiro-ministro desde 2008, candidatou-se a Presidente e obteve quase 50 por cento dos votos logo na primeira volta, a 18 de março passado.

Os resultados do escrutínio ditaram uma segunda volta entre Carlos Gomes Júnior e Kumba Ialá, líder do maior partido da oposição (PRS, Partido da Renovação Social), que em conjunto com outros quatro candidatos derrotados contestou desde o início os resultados da primeira volta.

A 12 de abril, véspera do início da campanha para a segunda volta (marcada para 29), e duas horas depois de uma conferência de imprensa dos cinco candidatos contestatários, os militares chefiados por António Indjai (chefe do Estado Maior General das Forças Armadas) prenderam e afastaram do poder Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, num golpe de Estado sem feridos nem mortos.

Após quase um mês de discussões, com os militares a dizer que não queriam o poder e que tinham feito o golpe devido a uma alegada ameaça de ataque de forças angolanas (Missang, missão militar angolana na Guiné-Bissau), a 11 de maio a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) propõe para Presidente de transição, durante um ano, o nome de Serifo Nhamadjo, segundo vice-presidente da Assembleia Nacional.

A 22 de maio foi anunciado um governo de transição, chefiado por Rui Duarte de Barros. Mas até hoje nem o Presidente nem o governo de transição foram reconhecidos pela maioria da comunidade internacional, que prefere "conversar" com Carlos Gomes Júnior e com Raimundo Pereira.

Por tudo isto o assunto "Guiné-Bissau" não deixará de merecer destaque na cimeira da CPLP, com as atuais autoridades de transição da Guiné-Bissau a lamentarem a posição da organização, que acusam de ser um obstáculo à resolução dos problemas do país, quando devia ser parte da solução.

Já em 2010, na cimeira de Luanda, a Guiné-Bissau esteve em destaque. Três meses antes, a 01 de abril, Carlos Gomes Júnior tinha sido preso algumas horas pelos militares. Estava também detido Zamora Induta, ex-chefe de Estado Maior das Forças Armadas.

A CPLP, segundo o comunicado da altura, "propôs-se trabalhar no sentido da consolidação de um clima de estabilidade e de segurança no país, considerado como fator fundamental para a continuidade do diálogo com os parceiros internacionais relevantes", e acentuou "a necessidade de um firme combate ao narcotráfico" e a necessidade de "prosseguir a reforma do setor de defesa e segurança".

Na cimeira de Maputo, a CPLP, criada há 16 anos (17 de julho de 1996), até poderia adotar as mesmas recomendações de 2010.

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