João Marcelino – Diário de Notícias, opinião
1 Um primeiro-ministro que se diz perseguido por estruturas sindicais ao serviço de partidos. Um membro do governo debaixo de uma polémica com o seu curso.
Um poder que não dorme a pensar no que a imprensa publica, ou não.
O País tem, desde há um ano, novos protagonistas, mas eles comportam-se da mesma forma, têm os mesmos tiques, os mesmos defeitos, as mesmas fraquezas.
Onde José Sócrates apontava Mário Nogueira e o PCP, que o perseguiam onde quer que fosse, Pedro Passos Coelho vê o prolongamento dessa estratégia reivindicativa. Queixa-se disso depois de ouvir idênticos assobios, insultos parecidos, que em Braga e ontem o fizeram optar por entradas por portas laterais.
Afinal, tal como a crise, estas coisas existem - e as desculpas, afinal, já são de novo necessárias.
Ainda assim, temos de o admitir, ambos são mais fortes que o Presidente da Republica, que num caso desses, perante um bando de ameaçadoras crianças, renunciou e regressou ao palácio.
2 Os cursos de algumas das nossas universidades!.... José Sócrates fazia exames ao domingo, acabou engenheiro. Miguel Relvas, na feliz expressão de Narana Coissoró, ex-líder parlamentar do PP, tem uma "licenciatura Honoris Causa" mas já antes era "doutor" e "por lapso" até chegou a dizer à Assembleia da República estar a estudar Direito, o que não era verdade.
Depois do caso PT/TVI temos o dossier Público/ERC, numa versão mais ligeira, por vezes com tiques de engraçada.
O mundo pula e avança mas Portugal, infeliz e pindérico, parece condenado, no circulo do poder que em Lisboa se move entre meia dúzia de restaurantes e outros tantos hotéis, à mesma tristeza dos últimos anos.
Não escrevo isto com resignação e pessimismo. Assinalo-o com admiração pelas pessoas de um País que apesar desta realidade, funciona e tenta progredir, exportando produtos, ideias, investigando, sujeitando-se à imigração -- e que nutre um particular desprezo por misérias pessoais que em determinados círculos, sobretudo de negócios, todos têm necessidade de considerar "normais". Assim seja.
3 O essencial desta semana não tem, contudo, a ver com as Novas Oportunidades que ajudaram a elevar o ego a muitos portugueses, e como se vê de todos os partidos.
A notícia está na declaração de Miguel Frasquilho, enviado do PSD ao futuro próximo: Portugal vai precisar de mais dois anos, e não apenas um, como pedia o PS, para cumprir o programa da troika.
E também está, essa mesma notícia, na decisão do Tribunal Constitucional sobre os cortes à Função Pública que serão inconstitucionais em 2013 mas que por agora, em 2012, passam para não colocarem em risco o cumprimento do défice - que todos já intuímos que não vai ser cumprido.
Está aberta a porta aos processos judiciais dos funcionários públicos e prometido mais um assalto às remunerações em geral no próximo ano, e nos que se vão seguir.
Foi uma semana desgraçada, daquelas que nos confrontam com os piores fantasmas e a mais terrível das realidades. A que passou e a que promete chegar no futuro próximo.
O reitor da Universidade Lusófona, Mário Moutinho, perguntado sobre a licenciatura de Miguel Relvas em Ciência Política e Relações Internacionais, tirada em 2007, num ano, com média de 11, 32 equivalências e apenas quatro exames, acha que esta polémica se deve à luta política pela privatização da RTP. E porque não à crise na Europa? Extraordinário!
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