sábado, 7 de julho de 2012

EM MEMÓRIA DE ANA LORO METAN




Zizi Pedruco - Timor Hau Nian Doben

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Nota do blogue: Os meus sentidos pêsames aos familiares e amigos de Ana Loro Metan, uma senhora timorense, membro do blogue Página Global e do extinto Timor Lorosae Nação, onde fomos ambas colaboradoras. Um abraço muito especial para o meu querido amigo, António Veríssimo, que estava ligado à Ana por laços de profunda amizade há muitas dezenas de anos. Nem sei o que lhe dizer mais, António...

Minha querida Ana, descanse em PAZ!

Zizi

A VIDA CONTINUA

Sabia. Com mais ou menos pontualidade os verdadeiros amigos fazem questão de estar sempre presentes em momentos como o da viagem agora iniciada por Ana Loro Metan. A nossa querida amiga Zizi Pedruco não ia faltar. Disso nos dá conta no Timor Hau Nian Doben.

O que dizer? Ora, a vida continua, Zizi. A luta por justiça no mundo e especificamente no nosso Timor-Leste também. Foram as imensas Anas timorenses que isso nos ensinaram. Elas, eles, que aprenderam com seus antepassados e nos passaram o testemunho nesta incessante maratona em defesa da justiça, da liberdade, da democracia, do povo anónimo a quem as elites globais e também as timorenses roubam as oportunidades de serem felizes, com todos os direitos que lhes pertencem, sem tanta exploração.

A vida continua e a luta também. Será sempre assim que manteremos vivas as Anas, os verdadeiros heróis, os mártires, as mães e os pais dos mártires, as viúvas… e isso é tudo o que a nossa Ana Loro Metan significa. Ofereceu à resistência, ao invasor, as vidas de dois filhos, de uma filha e do marido sem vacilar. Ofereceu-se a ela própria mas perdurou nesta vida e teve a grande felicidade de ver o seu país ser libertado após tanta luta, tanto assassinato, tanto sangue derramado.

Fincou os pés na luta contra os traidores que na atualidade roubam os timorenses. Deixou isso mesmo bem explicito naquilo que escreveu no Timor Lorosae Nação (primeira e segunda edição). A Ana, como muitos combatentes timorenses, continuam vivos entre nós e proporcionam-nos o milagre da multiplicação dos resistentes, dos ansiosos por justiça.

A vida continua, a luta também. As lágrimas aliviam-nos, libertam-nos. Não fiquemos tristes, minha querida amiga Zizi. Só temos de continuar, mais resistentes, mais objetivos, menos perdulários para com os ladrões e os traidores do povo timorense e dos povos do mundo.

Os e as Anas do Página Global agradecem, e eu muito especialmente.

António Veríssimo

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