sábado, 7 de julho de 2012

Timor-Leste: A CRISE SEGUE DENTRO DE MOMENTOS?




Ana Loro Metan – Timor Lorosae Nação, em 01.02.11 - reposição

“Queremos realmente estabilidade. Se acordaram, entre a geração que agora detém os poderes, numa reunião realizada há pouco tempo, retirarem-se e darem espaço às gerações mais jovens, que o façam. Mostrem-nos que também agora sabem ser patrióticos e não tão manipuladores e espoliadores do país.”

De acordo com a Constituição da RDTL o presidente da república é o chefe máximo das forças armadas e talvez por isso se reúne semanalmente com o general Taur Matan Ruak, Comandante das F-FDTL, a fim de fazer o ponto da situação sobre assuntos relacionados com as forças militares. O que não deixa de se estranhar é que sinta necessidade de reunir semanalmente. Até aparenta que a crise nas F-FDTL não foi sanada. É o que dá que pensar e se comenta.

Temos assistido à política do governo de Gusmão e de Horta em cedências de privilégios à polícia e aos militares, a nível remuneratório, alimentar, na saúde e até em habitações em urbanizações já projetadas. O despejo inumano no Bairro Pité, no aglomerado Brimop, é disso testemunha. Ali, arrasaram toda a área depois de procederem a uma ordem de despejo sem a mínima consideração pelos timorenses carenciados e das mais variadas faixas etárias – crianças e velhos incluídos. Para os calarem anunciaram que beneficiariam de um subsídio de dois mil dólares – mas há os que não receberam coisa alguma.

O espaço Brimop, uma zona que na época da ocupação pertencia aos militares indonésios, vai ser urbanizado para a PNTL, segundo afirmam. Também é voz corrente, nos célebres rumores que acabam por quase sempre serem confirmados com conteúdos verdadeiros, que na inclusão da urbanização daquele bairro para os elementos da polícia, está apenso projeto imobiliário que vai beneficiar familiares e amigos de membros do governo. Em tempo futuro será ou não assim confirmado. Por essa razão a manifestação de evidente pressa em desalojar os carenciados timorenses e acenar-lhes com uma quantia que não dá quase para nada se atendermos ao custo de vida em Dili e no resto de Timor Leste. Mas principalmente em Dili. A intenção foi ludibriar os moradores e assim fazer com que o processo de benefícios de investidores imobiliários amigos – fala-se que também de membros do próprio governo – se acelerasse. Tempo é dinheiro, como é comum dizerem os que nunca se cansam de enriquecer por processos dúbios ou até dentro de legalidades que deixam sempre de parte o povinho.

O que se está a formar em Timor Leste é a aparente legalização de implementações e decisões discriminatórias que visam preservar vantagens para os que são políticos e principalmente dos partidos do governo, sem contemplações pelos timorenses carenciados. Esta constatação não é nova, antes vem confirmar que tem sido praticamente inútil denunciar-se a corrupção, conluio e nepotismo (KKN) que o governo de Gusmão institucionalizou assim que tomou posse. A devassa continua descaradamente.

Não está errado que os polícias e militares possuam habitações condignas. O que está errado, neste aspeto, é que se coloque a “guarda pretoriana” a usufruir de privilégios que não são equitativos para com os restantes cidadãos do país. E esses são a maioria. Os timorenses que têm empregos ou atividades económicas próprias até são as forças mais produtivas, que permitem o crescimento e desenvolvimento tão propalado pelos do governo Gusmão e pelo próprio PR nos seus espetaculares empolamentos do que parece conveniente e desvalorização do que lhe parece inconveniente. Sobre a fome em Timor Leste, Ramos Horta não toma uma atitude perentória nem impõe que esta questão seja de uma vez por todas resolvida por este governo esbanjador. Em vez disso, a presidência também opta por esbanjar.

Regressando à génese do fio condutor desta exposição, as reuniões semanais com o general Ruak e as comentadas convulsões que estão por resolver dentro da instituição militar. Fará muito bem o PR em não perder oportunidade para estar informado. O que é de pôr em causa será o conhecimento do PR sobre as discórdias intestinas que existem na F-FDTL, principalmente a nível de oficiais. Deve-se perguntar se o primeiro-ministro Gusmão, também ministro da componente militar, será estranho a manter um clima de “mau-estar” entre os militares. Não seria de admirar se nos reportarmos ao passado de Gusmão. Mas também não será de admirar se nos reportarmos ao passado de Ramos Horta. Afinal, um e outro, entre outros interessados, ambicionam dispor do controle dos que detêm as armas, e essas estão na posse dos especialistas: PNTL e F-FDTL.

A confirmarem-se os receios de que as manipulações dos detentores de armamentos, como são ambas as instituições, prosseguem - no mesmo figurino ou semelhante ao que foi desenhado na formação do país e posto em prática em 2006 - existem razões de sobra para que a população tema novas “aventuras” na disputa dos poderes e, obviamente, dos bens materiais e concessão dos preceitos constitucionais que devem beneficiar todo o povo e que na prática pertencem indevidamente só a alguns. Digam-se as palavras: são usurpados ao povo.

Há pouco tempo a ONU tornou público em seu parecer que há crise nas forças de segurança do país. Não se duvide que a ONU sabe aquilo que se passa nos bastidores do poder. Não tornou público o seu parecer por acaso. Lamenta-se é que também a ONU seja uma das responsáveis pelo estado deplorável a que a nação timorense chegou nessa vertente. O que fazer? Resta-nos aguardar que as disputas dos poderes e dos milhões de dólares continuem. Mais pacificamente, como agora nesta paz apodrecida, ou com assassinatos e destruições como em 2006. Muitos, como Gusmão, não olham a meios para atingir os seus objetivos. Já se viu na contabilidade de vidas e habitações perdidas na última crise, em 2006. Não queremos repetir esses erros, nem anteriores nem seguintes, nem que se cumpra o que vem sendo temido desde 2006: a crise segue dentro de momentos.

Que acontecerá em 2012, antes, durante e após as eleições? E quando a ONU se retirar do país?

Se Ramos Horta e Taur Matan Ruak se reúnem tão frequentemente para prevenir que a hecatombe não se repita é porque o caso é grave. Sem meias palavras: estamos muito saturados dos jogos de poder destes aparentes bons filhos do país que sob a capa do usufruto da luta pela libertação do povo vem assumindo encapotadamente a ganância e o despotismo. Basta. Queremos realmente estabilidade. Se acordaram, entre a geração que agora detém os poderes, numa reunião realizada há pouco tempo, retirarem-se e darem espaço às gerações mais jovens, que o façam. Mostrem-nos que também agora sabem ser patrióticos e não tão manipuladores e espoliadores do país.

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