sexta-feira, 27 de julho de 2012

Martin Schulz: “OS DIRIGENTES EUROPEUS ESTÃO DOIS ANOS ATRASADOS”



Presseurop

O euro ainda pode ser salvo, considera Martin Schulz. Mas isso exigiria que os chefes de Estado e dos governos europeus se esforçassem por superar os jogos políticos inerentes à sua função e dessem ouvidos ao Parlamento. Na entrevista concedida ao Presseurop (leia a primeira parte aqui), o presidente do Parlamento Europeu traça a imagem de chefe do Parlamento que quer construir: um contrapoder representante das pessoas perante a Comissão e o Conselho Europeus.

A crise do euro entrou no terceiro verão. A moeda única ainda pode ser salva?

Sim, acho que o euro ainda pode ser salvo. Isso vai depender um pouco da vontade de cada um colocar, finalmente, em prática um sistema de gestão sustentável da Zona Euro. Na última cimeira [do Conselho Europeu, a 28 e 29 de junho], chegámos a acordo numa reunião, à noite, e no dia seguinte, dois governos declararam: "Mas não era isso que queríamos dizer." Incidentes desses são desastrosos. Somos uma zona económica forte, com uma moeda forte – e 17 governos. Isso não pode manter-se.

A crise do euro foi objeto de 25 cimeiras e de "decisões históricas", que de históricas só têm o nome. A situação provoca a cólera dos cidadãos, descontentes por verem os governos da Europa obstinados em manter o status quo. O que diria aos cidadãos europeus, para que não deixem de acreditar na Europa?

Tento dirigir mensagens positivas aos cidadãos e cidadãs europeus. Digo-lhes que, se quisermos, se agirmos em conjunto, podemos ser muito fortes. E se não agirmos juntos, se nos fracionarmos em unidades independentes, com a Alemanha sendo o maior país e Malta o mais pequeno, tornar-nos-emos um joguete dos interesses de outras regiões do planeta.

Costumamos falar de países "emergentes", como o Brasil, a África do Sul, a Índia, a China... Espero, para o bem dos europeus, que não venhamos rapidamente a falar de nações "imergentes". Para evitar isso, precisamos de uma Europa forte e unida.

O problema não são as instituições, mas a relutância em unir-se, manifestada pelos chefes dos governos, não só da Zona Euro, mas de todos os 27 Estados-membros. Esta relutância resulta do fosso ideológico que existe no Conselho, onde se defrontam, de um lado, a visão apresentada pela Alemanha e também pela Holanda, a Finlândia e mais alguns – "Não vamos pagar pelos outros" – e, do outro, a noção de que apenas uma partilha da dívida pode ser solução para os nossos problemas, representada por países que exageram no sentido oposto. Mas se não formos capazes de construir uma ponte entre essas duas posições e encontrar um compromisso sólido, vamos caminhar para tempos difíceis. É isto que tenho para dizer aos eleitores e eleitoras.

Quer fazer do Parlamento uma instituição capaz de enfrentar o Conselho de Chefes de Estado e de Governo. O que seria melhor para a Europa, se dependesse do Parlamento?

Agimos por maiorias claras. Vou-lhe dar três exemplos. Há dois anos, o Parlamento pediu e apresentou um pacto de investimento de 1% do PIB da Zona Euro. A proposta foi rejeitada [pelo Conselho]. No ano passado, votou a favor de um imposto sobre operações financeiras, com 570 votos a favor – uma maioria como nunca tinha visto, saída de todos os grupos. Teve o mesmo fim, rejeitada. Finalmente, há dois anos, o Parlamento solicitou, por uma maioria esmagadora, uma união bancária. Mais uma vez, a proposta foi recusada.

E hoje, com um atraso de 24 meses, o Conselho Europeu decide criar uma união bancária, um imposto sobre transações financeiras e um pacto de crescimento de 1% – e quer que lhe atiremos flores. São as mesmas ideias que o Parlamento lhes propôs e que os chefes de Estado e de Governo arrogantemente recusaram. Com isso, perdemos 2 anos. Em suma: o Parlamento Europeu funciona; os chefes de Governo é que, infelizmente, não.

Ninguém se importa com o significado de uma abstenção recorde nas eleições europeias, de 5 em 5 anos. Como fazer para que essa consulta não seja mais uma oportunidade para os eleitores se manifestarem contra os governos nacionais?

Acho que é a primeira vez, em eleições europeias, que alguns candidatos apresentam a sua linha política por toda a Europa. Há, portanto, um candidato dos socialistas, um dos conservadores, ouro dos democratas liberais, dos verdes, etc., a concorrer à presidência da Comissão. Isso vai originar campanhas eleitorais em que se opõem programas e indivíduos. E, finalmente, deixa de se tratar de governos nacionais: a questão é saber se a Europa vai ser governada à esquerda ou à direita.

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