segunda-feira, 16 de julho de 2012

O BOSQUE EM FLOR



Rui Peralta

O Afeganistão tornou-se num imenso palco onde decorre um intenso e prolongado drama humano. As mulheres são uma componente primordial no desenrolar deste drama. Para as Afegãs os obstáculos e os problemas são uma constante. A escola é um problema, o trabalho é um problema, a família e o domínio do homem é um problema, a religião é um problema, o rosto coberto que encobre os véus que cobrem o ser, a suspeita, o escândalo, a humilhação, a moral, os costumes, os matrimónios concertados… São dramas, as mulheres, na trama de dramas que é o Afeganistão.

Quando elas trabalham não podem partilhar o espaço com os colegas masculinos, nem quando estudam, embora trabalhar e estudar seja uma vitória para estas mulheres. Como será a partilha de segredos, de desejos, de sonhos, angustias, alegrias, tristezas, entre as mulheres afegãs? E que projecto têm elas para o seu país? Elas, que sofrem na pele e na alma as agruras das tradições e o apartheid do género, que medidas propõem para transformar o presente e construir o futuro?

De certeza que nas suas conversas, nas partilhas do seus desejos, está um Afeganistão livre de senhores da guerra, da ditadura da tradição e do apartheid do género e dos drones yankees com os seus danos colaterais e das confusas acçöes da CIA para quem as festas populares são concentrações de terroristas e das crianças a irem para a escola publica e da saúde para todos e…

A República do Deserto

A Republica Árabe Saharaui Democrática (RASD) é reconhecida por 82 países mas a ONU continua a considerar o Sahara Ocidental como um “território em processo de descolonização inconclusa” iniciada em 1976, quando a Espanha, a antiga potência colonial, abandonou o território e o entregou a Marrocos e Mauritânia. Seguiram-se combates e problemas fronteiriços, a questão chegou a envolver a Argélia, a Frente Popular de Libertação do Sahara e Rio de Ouro (Frente Polisário), dirigiu um combate de longa duração contra as pretensões da monarquia marroquina até que com o cessar-fogo de 1991, Rabat controla grande parte do território e a Frente Polisário – reconhecida pela ONU como a representante legitima do povo saharaui – libertou uma exígua franja oriental.

Nos territórios libertados pela Frente Polisário não há água, nem luz, telefones ou hospitais. É um lugar inóspito, habitado por nómadas e guerrilheiros. A maioria da população saharaui vive em solo argelino, nos campos de refugiados de Tinduf, cerca de mil e 500 km a sul de Argel onde residem entre 200 mil a 250 mil saharauis. Nos territórios libertados a capital é Bir Lehlu e o seu subsolo é uma enorme rede de galerias subterrâneas, única forma dos seus habitantes refugiarem-se dos bombardeamentos da Força Aérea marroquina. Esta é uma região de resistência.

Durante a década de 80 do seculo passado o governo marroquino construiu um “muro” com 2 mil e 700 km e que traça de norte a sul o limite ocidental do território libertado. Uma das tarefas do segundo batalhão, aquartelado em Bir Lehlu, para além da manutenção da rede de tuneis subterrâneos, é levar a cabo acçöes militares para além do muro e patrulhar constantemente a zona do muro. Até 1991 a Polisário realizava operações nocturnas através do muro, durante mais de 16 anos.

Em Outubro do ano passado 3 cooperantes – 2 espanhóis e 1 italiana – foram sequestrados em Tindulf por um grupo da rede da Al-Qaida que opera nos campos de refugiados. As consequências desse acto dos integristas islâmicos foram negativas para o povo saharaui e refelctiram-se na diminuição da ajuda internacional. Ora a actual situação da RASD leva a que o povo saharaui depende dessa ajuda solidária, pelo que a Polisário prioriza a luta contra os integristas, que mais não fazem do que servir os desígnios do governo marroquino, com as suas acçöes terroristas.

A Polisário patrulha o deserto em veículos 4X4 de fabrico japonês equipados com artilharia antiaérea (a Polisário foi a primeira a montar artilharia pesada nestes veículos, em 1974, ainda antes da retirada da Espanha) identificados pela bandeira da RASD: 3 faixas em verde, branco e negro, unidas á direita por um triângulo vermelho, no qual está metade de uma estrela e uma meia-lua. Os habitantes dos territórios libertados são beduínos nómadas, que subsistem graças aos rebanhos de cabras e camelos e que procuram a segurança dos territórios libertados.

As novas medidas de segurança nos territórios libertados implicam o recolher obrigatório para os estrangeiros que circulam no território, às 19 horas, forma de evitar e minimizar os raptos e escolta militar obrigatória para as viaturas que circulam nas estradas. É que qualquer atentado contra estrangeiros, seja um sequestro, explosivos na estrada ou uma agressão física, pode ter consequências funestas para o futuro dos refugiados e este é o ponto mais vulnerável da resistência saharaui, daí o extremo cuidado e vigilância que a Polisário exerce sobre os estrangeiros, principalmente desde que a Al-Qaida e os tuaregues do Mali optaram pelo sequestro de estrangeiros. Para a Polisário os sequestradores são financiados por Rabat, conforme o demonstra a comunicação interceptada pelos comandos da resistência no dia do sequestro. Na gravação da intercepçäo ouve-se um oficial marroquino dar as instruções aos guardas da fronteira para permitirem a passagem dos sequestradores.

A crescente instabilidade na região preocupa os saharauis. O cruzar do trafico de drogas, com a Al-Qaida e o autoproclamado estado de Azawad, são um motivo de apreensão para a RASD e mais um desafio para os resistentes e também aqui o governo marroquino pretende tirar proveitos, mesmo com o risco de ser afectado pela penetração do narcotráfico. Num encontro entre ambas as partes, ocorrido no ano passado, a RASD fez uma proposta de mútua segurança para combate ao narcotráfico e ao terrorismo, no âmbito do cessar-fogo. Até agora o governo marroquino ainda não respondeu. Possivelmente aguarda a autorização dos parceiros franceses…

A Primavera Sudanesa ou apenas uma reacçäo alérgica?

Os líderes sudaneses, já com 23 anos de poder, bateram palmas entusiastas aos acontecimentos na Líbia e no Egipto e seguros do seu papel na condução dos destinos da nação. A segurança que sentiam provinha de dois factores: primeiro a relativa liberdade política existente no Sudão e segundo o profundo esgotamento do povo sudanês após as revoltas e lutas do passado. Só que em no passado mês de Junho, em Cartum, os estudantes manifestaram-se contra o aumento dos preços e começaram a ter o apoio de outros sectores sociais, afectados com as recentes medidas de contenção económica do governo sudanês.

O aumento das tensões sociais internas tem-se feito sentir, de forma gradual. Quando no ano passado o Sudão do Sul obteve a independência e ficou com 75% dos poços petrolíferos da região, recusando-se a pagar a Cartum pela transferência de propriedade dos poços, as receitas sudanesas caíram de forma brusca e a economia começou a ressentir-se. A promessa de que o Sul pagaria ao Norte 36 USD por barril, em jeito de compensação, nunca foi cumprida pelo Sudão do Sul. E não só não pagou pelo uso da infraestructura petrolífera como introduziu um férreo e apertado controlo á exportação petrolífera, acusando Cartum de desvios nas ramas para exportação. Houve a normal retorica beligerante e mesmo umas bravatas de parte a parte, mas o que é um facto é que as autoridades de Cartum ficaram a braços com um grave problema económico e financeiro. Em Maio último a taxa de inflacçäo ultrapassou os 30% mês e o dólar chegou, no mercado informal ao dobro da sua cotização oficial, para além do deficit orçamental rondar 2 mil e quatrocentos milhões de USD.

A economia sudanesa acostumou-se a viver folgadamente das receitas petrolíferas, ao ponto de não desenvolver os outros sectores económicos, esquecendo-se as suas elites burocráticas que a agricultura sustentava 80% da população. Perante o descalabro das receitas o governo sudanês aumentou os impostos e suprimiu as subvenções estatais que permitiam o baixo preço do combustível consumido internamente. Como resultado os preços dos combustíveis aumentaram 60%, as tarifas dos transportes públicos sofreram aumentos de 45% e os bens essenciais aumentaram 40%. Os estudantes vieram para a rua e largos sectores populares aproveitaram para manifestar o seu descontentamento.

A fragmentada oposição ao governo do Congresso Nacional Africano exige a constituição de um governo de transição e a realização de eleições legislativas e presidenciais, mas não consegue um programa mínimo de entendimento. As 3 forças políticas principais da oposição – o Congresso Popular Africano, o Umma e o Partido Comunista do Sudão – apresentam alternativas muito díspares e representam interesses de classe que no momento são irreconciliáveis.

De qualquer forma as manifestações vão aumentando e a polícia sudanesa já começou a deter líderes da oposição, sindicalistas e activistas estudantis, não se registando até ao momento incidentes nas manifestações que continuam a decorrer de forma pacífica. Por outro lado a 19 de Julho começa o Ramadão o que vai proporcionar um período de acalmia. As classes médias mais abastadas passam esse período fora de casa e viajar e as camadas mais necessitadas da população são assistidas pelas organizações e fundações de beneficência islâmicas.

Talvez a Primavera Sudanesa só seja visível no Outono…

A Tunisia e a extradição

O presidente interino da Tunisia, Monzef Marzuki, protestou contra a extradição do ex primeiro-ministro líbio, Al Baghdadi Al Mahmudi, para a Libia. Markuzi remeteu uma carta de protesto á Assmbleia Constituinte acusando o executivo tunisino de ter procedido de forma ilegal e de ter violado as suas competências.

A extradição foi levaa a cabo sem as consultas de lei entre o presidente, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia Constituinte. Para além disso a extradição só poderia ser efectuada com a assinatura do presidente e em caso de desacordo, o assunto seria entregue á Assmbleia Constituinte. Além do mais, segundo Marzuki, a matéria de extradição é um assunto de politica externa, näo da Justiça e a politica externa é da competência da presidência da republica e näo do primeiro-ministro.

Marzuki responsabiliza o primeiro-ministro tunisino, Hamadi Jebali, por tudo o que acontecer a Al Mahmudi e das possíveis repercurssöes a nível internacional. Além do mais, o presidente revela a existência de um acordo entre ele, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia Constituinte para a näo entrega de Al Mahmudi antes das eleições libias.

A decisäo de extraditar é uma violação dos compromissos internacionais da Tunisia, que näo respeitou o acordo efectuado com o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, que havia acordado com as autoridades tunisinas näo entregar Al Mahmudi até que fosse emitido um parecer sobre a sua petição de asilo, ao abrigo da Convençäo de Genebra de 1951, sobre o direito de asilo. Com esta atutude de duplo desrespeito - pelas normas administrativas e procedementais internas e pelo cumprimento dos acordos com instituições internacionais - o estado tunisino demonstra a sua irresponsabilidade total e as autoridades tunisinas perderam qualquer credibilidade no âmbito das obrigações internacionais.

Fontes
Alberto Piris; Un intrahistoria de mujeres; CEIPAZ, 20/06/2012

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