segunda-feira, 9 de julho de 2012

Portugal - Relvas: ERC vítima de pressões. Inaceitáveis mas legítimas?




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

O rigor com que os senhores da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) trabalham ficou, na semana passada, mais uma vez, evidente. Carlos Magno confessou que aprovou a deliberação da ERC convencido que lá estava escrito que tinha existido "uma pressão inaceitável" de Miguel Relvas à jornalista do "Público". Não estava. Estamos a falar do presidente de uma entidade reguladora que tem ali a sua principal atividade profissional. Estamos a falar da deliberação mais relevante, pelo menos do ponto de vista da opinião pública, desde que preside à entidade reguladora. E Carlos Magno não sabia muito bem o que estava escrito na versão final.

O mesmo Carlos Magno já tinha explicado este caso: "há neste momento uma campanha generalizada para bater no homem" [Miguel Relvas]. Quem tem esta convicção (ou quer tê-la) dificilmente poderia analisar este caso com o mínimo de rigor e imparcialidade.

Outro membro da ERC, Raquel Alexandra, nomeada pelos deputados do PSD e amiga próxima (segundo a própria) de Miguel Relvas, disse que foi "vítima de chantagens e de ameaças" para que houvesse outro tipo de decisão."Houve uma tentativa de instrumentalização dos membros do conselho regulador, indirecta, triste, através do poder editorial, por quem não faço a mínima ideia, mas por quem queria que a deliberação tivesse um determinado resultado", explicou a ex-jornalista. Ficámos sem saber, até porque quem faz a acusação no Parlamento (e não no café) também não sabe, quem fez essas ameaças. E, já agora, ficámos sem saber se elas foram "inaceitáveis" ou "ilegítimas".

Não deixa de ser extraordinário que um membro da entidade, que esteve a analisar uma pressão documentada e com protagonistas identificados e que, mesmo assim, nada encontrou de relevante para tomar uma posição, vá ao Parlamento fazer acusações difusas, sem identificar quem acusa. Mostra que estas pessoas não têm a mínima ideia das funções que desempenham e do recato e rigor que elas exigem. Não é novo. Escrevi exatamente o mesmo sobre os anteriores membros da ERC. E a razão é simples: uma delegação parlamentar (é disso que se trata) não pode regular a comunicação social. É o seu pecado original. Não estão acima dos pequenos combates partidários. Estão na parte mais rasteira desses mesmos combates.

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