sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Angola: A NORMALIZAÇÃO ELEITORAL E A OPOSIÇÃO




Benjamin Formigo – Jornal de Angola, opinião, em Horizontes - 07 de Agosto, 2012

Alguns políticos tentam, por vezes, denegrir a imagem dos partidos no poder sustentando que não são as oposições quem ganha as eleições mas os Governos que as perdem. Uma fraca desculpa para a incapacidade de mobilizarem os eleitorados.

Os partidos no poder, em termos gerais, sofrem um desgaste directamente proporcional ao tempo que permanecem à frente dos destinos de um país. As oposições têm periodicamente a oportunidade de os desafiar em campanha e demonstrarem aos eleitorados que são capazes, e querem, fazer melhor.

Claro que, à partida, em todo o lado, os partidos que estão no poder gozam da vantagem de controlarem os aparelhos de Estado, de inevitavelmente programarem para os períodos pré-eleitorais ou de campanha as inaugurações e outras demonstrações do seu interesse. As oposições, também inevitavelmente caiem na armadilha de contestarem essas coincidências temporais em vez de exporem estratégias e ideias.

Nesta campanha 2012 em Angola a primeira semana não podia ter sido mais favorável ao partido no poder. As reuniões políticas, os tempos de antena, os comícios têm sido uma evidência de quem vai ganhar as eleições.

De um lado assiste-se a um discurso articulador, coerente, de Estado, por parte do MPLA, que recorre às grandes concentrações de massas e a bem preparados tempos de antena. Recordo-me do primeiro tempo de antena das primeiras eleições: tendo por fundo um maravilhoso cenário da Huíla, Kundi Paihama fez uma brilhante intervenção no seu tom calmo e articulado. A sua figura patriarcal, descontraída e comunicativa competia sem dificuldade com a paisagem pela atenção do espectador. Dias depois, num comício em Ndalatando o próprio Presidente, José Eduardo dos Santos, dirigia-se a uma multidão que se concentrou sob um sol escaldante. O Presidente, encostado ao púlpito, estava visivelmente à vontade para se dirigir aos populares. Quem o viu por trás, nos bastidores daquele palanque, verificou que o à-vontade era genuíno, que estava no seu ambiente.

A oposição, 30 anos depois, ainda não aprendeu a gerir a sua imagem. Enquanto as sessões do MPLA falam de futuro ou de passado, mas em tom ganhador - fazendo esquecer, ou relegando para segundo plano que se ainda há insuficiências e se houve omissões ele, MPLA, era o Poder - a oposição parece encarar as eleições como a derrota anunciada.

Os líderes dos partidos da oposição, a começar pela UNITA que devia demonstrar maior experiência política, falam da necessidade de respeitar as regras do jogo eleitoral, de cumprir e fazer cumprir a Lei, quase que deixando adivinhar que se prepara para justificar uma derrota.

No fundo, foi uma semana de campanha sem a oposição ter exposto um projecto, tornando fastidiosos os minutos de tempo de antena, pagos pelo erário.

O eleitor, mais do que críticas ou justificações, quer ouvir falar de projectos, sentir-se representado naquelas pessoas do outro lado do ecrã da TV ou nos púlpitos dos comícios.

A semana terminou com a romaria e procissão anual a Nossa Senhora da Muxima. Uma impressionante mole humana que se juntava na margem do Kwanza sob o sol apenas atenuado pela habitual brisa do rio.

A Igreja Católica não descurou também as duas obrigações cívicas e um enorme cartaz alusivo à “Muxima 2012” apelava à grande família angolana: “família levanta-te e caminha”. Nem a reconciliação nacional esteve esquecida: “Mamã Muxima, reconciliai as famílias” e o período de escolhas que o país atravessa estava presente: “Rezemos pelo ano da fé, pelas famílias e pelos êxitos das Eleições”.

Com garrafas de água na mão ou garrafões à cabeça, as mulheres eram sem dúvida a maior representação. D. Joaquim Ferreira Lopes, bispo de Viana, começou os agradecimentos às entidades oficiais passando a palavra ao Reitor do Santuário padre Albino Reyes que começou a intervenção a agradecer ao Presidente da República – que se fez representar –, ao governador da província de Luanda e outras entidades oficiais. Ora nada sucede por acaso na mais antiga diplomacia do Mundo, a da Igreja Católica.

Perante a multidão impressionante que domingo pelas 11h00 se acumulava no Santuário de Nossa Senhora da Muxima, a Igreja deixava saber ao lado de quem estava. De notar a presença de D. Filomeno Vieira Dias, bispo de Cabinda, que na véspera tivera o funeral de um familiar, mas não deixou de comparecer neste apelo à reconciliação e união da família angolana.

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