Nuno Azinheira – Diário de Notícias, opinião
Insisto na mesma tecla há meses: como é que um operador privado vai assegurar o serviço público na RTP1 ao mesmo tempo que procura reforçar o seu peso no mercado, de forma a rentabilizar o seu investimento? Como se concretiza na prática essa quadratura do círculo que é ter em grelha um programa que defenda a liberdade religiosa e a diversidade de cultos com um reality show? Como se compatibiliza um concurso como O Preço Certo, de Fernando Mendes, com a Sociedade Civil, de Fernanda Freitas? Como convivem pacificamente na mesma antena o magazine Câmara Clara, de Paula Moura Pinheiro, e as novelas brasileiras da hora de almoço?
Não se trata de cozinhar uma grelha, isso é possível. Trata-se de fazer um projeto coerente, capaz de servir os portugueses, verdadeiramente alternativo aos atuais projetos privados e que justifique os 140 milhões de euros anuais que os portugueses pagam, através da Contribuição Audiovisual ao Estado. O modelo apresentado quinta-feira, que ninguém do Governo, até ao momento, foi capaz de negar, não serve ninguém. Pode servir, a prazo, os cofres depauperados do Estado, mas no longo prazo, como se verá, não servirá o interesse do País.
A decisão, a confirmar-se este projeto, pode ter origem em razões financeiras, mas é uma decisão política. E parte de uma certa ideia de Estado minimalista tão do agrado da Direita. A questão não está em saber se o Estado deve ou não estar no sector da Comunicação Social. A verdadeira questão é saber se a iniciativa privada consegue cumprir melhor esse papel. Os 20 anos de TV privada em Portugal, e a sua lógica concorrencial, já provaram que não.
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