João Novaes – Opera
Mundi – foto efe
Diretor afirma que,
mesmo que muitos espanhóis como ele não tivessem protestado, a maioria está
descontente com o governo
O cineasta espanhol
Pedro Almodóvar escreveu um artigo nesta sexta-feira (28/09) ao jornal El País
em que fez duras críticas ao governo de seu país, comandado pelo conservador
Mariano Rajoy. O principal ponto de críticas foi a repressão aos manifestantes
que tentaram cercaram o Congresso de Deputados, em Madri, na última terça-feira
(25).
No texto “Realidade
e Narração”, Almodóvar ironizou a declaração do presidente de governo que, no
dia seguinte à tumultuada manifestação, elogiou a “imensa maioria dos espanhóis
que não se manifestaram”.
“Sr. Rajoy, eu sou
parte dessa maioria silenciosa que não se manifestou no dia 25 de setembro, e
peço que não tergiverse e muito menos se aproprie de meu silêncio. O fato de
não estar presente fisicamente na Praça Netuno não significa que eu não me
indigne ante a violência policial, a desmedida reação da delegada de governo
(de Madri, Cristina Cifuentes), a manipulação da TV estatal pelas imagens do
ocorrido, a petulância dos policiais que se negaram a se identificar na estação
(de metrô) de Atocha e intimidaram os passageiros – nenhum deles estava
protestando no Congresso, enquanto proibiam alguns fotógrafos de trabalhar”,
protestou o diretor.
Segundo ele, muitos
dos madrilenhos que preferiram não protestar também estão contra o governo, já
que este foi eleito por “fatalidades” e por uma lista eleitoral fechada.
Para ele, a
imprensa manipulou as informações para favorecer a versão do governo, mas
muitos dos manifestantes que conseguriam gravar os abusos por meios das novas
tecnologias “(benditas sejam elas agora)”, trabalho o qual classifica
semelhante ao dos repórteres de guerra.
Os protestos
Os manifestantes,
chamados de “indignados” pedem o fim da adoção das medidas de austeridade
fiscal, principalmente os cortes na saúde, educação e auxílio-desemprego, e a
convocação de novas eleições.
Na ocasião, 64
pessoas ficaram feridas e 35 foram presas, com a ocorrência de vários casos de
abuso policial. Rajoy, que estava em Nova York , defendeu a repressão e cumprimentou o
que ele classificou de “maioria que não se manifesta”: “Trata-se da maioria das
47 milhões de pessoas que vivem na Espanha. (...) Essa imensa maioria dos
espanhóis está trabalhando, fazendo o que pode e dando o melhor de si”. Na
quinta-feira, o governo apresentou seu orçamento e um novo plano de reformas.
O governo de Madri,
que já obteve uma promessa de empréstimo de seus sócios europeus de até 100
bilhões de euros para sanear seu bancos, tem o objetivo de reduzir seu déficit
público a 2,8% do PIB em 2014, frente a 8,9% em 2011.
Neste sábado, os
manifestantes se reuniram uma vez mais na praça Neutno. Além das reivindicações
anteriores, eles pedem a libertação dos ativistas que foram presos.
Leia mais
Sem comentários:
Enviar um comentário