sábado, 8 de setembro de 2012

… HÁ COISAS QUE NÃO TÊM MAIS COMO ANDAR OCULTAS!... – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
A população jovem de Angola é dominante e isso é um sinal pleno de vitalidade; torna-se pois importante conhecer o passado, em especial o passado recente: seria inadmissível que novas gerações que foram poupadas à guerra, experimentem por via do fascínio emocional primeiro, depois por via dum aumento incontrolado de tensões e conflitos, os desafios e riscos que seus progenitores directa ou indirectamente experimentaram, para que Angola e a África Austral estivessem a beneficiar da oportunidade duma liberdade de consciência apesar de tudo nunca antes experimentada no continente-berço da humanidade!
 
Uma simples consulta à distribuição por idade e sexo da população de Angola, possível no Instituto Nacional de Estatística e confirmável no próximo ano quando se realizar o “Recenseamento Geral da População e da Habitação – 2013”, indica que à data de hoje é muito mais de metade dos angolanos aqueles que possuem menos de 35 anos de vida!
 
Levar essa questão em consideração é importante para quem esteja atento a todo o tipo de fenómenos que envolvam o povo e a juventude angolana: a cada ano que passa, para felicidade sobretudo dos velhos, cada vez haverá mais gente que nasceu depois das guerras, em relação às quais as gerações que as viveram têm a obrigação ética e moral de explicar os acontecimentos de então, a fim de com consciência patriótica, soberania, solidariedade, amor e humanidade, se prevenir que os tipos de tensões e conflitos vividos não voltem a eclodir hoje e amanhã, ainda que sob a forma de outros tipos de tensão e de conflito!
 
Essa questão é ainda mais pertinente quando na esteira dos próprios termos da “democracia representativa”, em especial quando há pouco espaço para a cidadania e a participação, se pode propiciar a oportunidade para, através das emoções alimentadas pelo oportunismo, pela ambição, ou pela ilusão (que hoje em dia é tão fácil de criar), respondendo a factores conjugados interna e externamente, potenciar riscos e desafios de natureza e carácter conveniente para os poderosos reitores do império e da hegemonia, explorando a lógica capitalista e o neo liberalismo, onde eles e suas elites de ocasião foram gerados, paridos e quantas vezes estimulados!
 
Por outro lado, em nações tão frágeis como as africanas, a afirmação da identidade nacional só poderá ser feita se houver consciência das assimetrias, das desigualdades, da injustiça social, da falta de respeito para com a Mãe Terra, dos caminhos que implicam a exclusiva exploração das riquezas naturais, das artificiosas fronteiras fabricadas pelas potências coloniais, das razões profundas do facto de que alguns dos poderosos procurarem hoje e amanhã, ainda que agora tirando partido das “revoluções tecnológicas”, como das “revoluções coloridas”, ou ainda de “primaveras”, o que sempre fizeram: dividir, dividir e dividir… para melhor reinar!
 
A cidadania e a participação vão abrir uma outra capacidade de mobilização e criatividade em prol da identidade nacional e no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento, que permitirá outro tipo de aprendizagem por parte das novas gerações, dando oportunidade a uma maior filtragem do que poderá ser nocivo para o povo angolano, para a sociedade em construção e visando garantir sustentabilidade no desenvolvimento, que só poderá ser realizada a partir do conhecimento económico assente nos recursos reais e com projecções calculadas a muito longo prazo, salvaguardando o futuro e sucessivamente o futuro das novas gerações!
 
Injectarem-se na juventude “mensagens” como drogas, de carácter emocional e/ou provocatório, apontadas ao conflito de gerações, é um dos fenómenos correntes que alimentam os círculos inteligentemente explorados pelos vínculos ao poder hegemónico norte-americano, conforme às lições de há 25 anos a esta parte, desde a implosão do socialismo real e é isso que está também hoje patente em Angola: quanto menos consciente for o jovem, menos responsabilidade em relação a si próprio e em relação às possibilidades de desenvolvimento sustentável assente numa economia baseada nos recursos e não na lógica capitalista que a tão bárbaros contornos nos estão muitos, tal como a todos os povos, a procurar conduzir.
 
Este ano está previsto um salto nos preços da alimentação em todo o globo: tudo o que é básico no âmbito do alimento humano ficará mais caro!
 
A lógica capitalista ferve onde deveria existir outra condução para a humanidade e para o planeta!
 
Os povos e a juventude serão afectados e atirados para a espiral de barbárie que não pára de atingir tudo e todos, cada vez em condições de maior agravamento, à beira da catástrofe nuclear!
 
As tensões e os conflitos são hoje mais fáceis de provocar que nunca e “a nossa casa comum” está à mercê daqueles que para lá do lucro fomentaram a especulação, o “capital financeiro”, os “paraísos fiscais”, as “borbulhas”, as crises de toda a ordem, o armamentismo e as guerras que vão proliferando agora de forma cada vez mais encadeada… num aparentemente incontrolável “efeito dominó” (conceito que o poder da aristocracia financeira mundial, por via da diplomacia dos norte-americanos conforme Chester Crocker, utilizava precisamente há 25 anos em relação à África Austral)!
 
Ser jovem tem um essencial sentido de vida em termos de consciência, identidade e afirmação, no espaço e no tempo, como nos ensinou o movimento de libertação: amar e respeitar a humanidade e o planeta, por que todos estamos efectivamente de passagem e necessário se torna que as heranças sejam saudáveis, sustentáveis e descontaminadas!
 

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