terça-feira, 11 de setembro de 2012

… HÁ COISAS QUE NÃO TÊM MAIS COMO ANDAR OCULTAS!... – III

 

Martinho Júnior, Luanda
 
A população jovem de Angola é dominante e isso é um sinal pleno de vitalidade; torna-se pois importante conhecer o passado, em especial o passado recente: seria inadmissível que novas gerações que foram poupadas à guerra, experimentem por via do fascínio emocional primeiro, depois por via dum aumento incontrolado de tensões e conflitos, os desafios e riscos que seus progenitores directa ou indirectamente experimentaram, para que Angola e a África Austral estivessem a beneficiar da oportunidade duma liberdade de consciência apesar de tudo nunca antes experimentada no continente-berço da humanidade!
 
O poder da aristocracia financeira mundial, uma aristocracia eminentemente anglo-saxónica que deriva da impulsão do império colonial britânico, exerce-se tirando partido da “sua” globalização, com uma panóplia de geo estratégias e instrumentos.
 
De entre esses instrumentos, a capacidade militar sustentada por uma poderosa indústria de armamento, tem caracterizado cada vez mais as suas formas de actuação, o que resulta na proliferação de tensões, conflitos e guerras, onde os Estados Unidos e seus aliados da OTAN e da ANZUS vão experimentando todo o tipo de cenários, uns mais artificiosos que outros, assim como tecnologias novas, equipamentos, novos compósitos, novos explosivos, novas bombas, novos métodos…
 
A investigação de ponta nos Estados Unidos, só se tornou possível em função da indústria do armamento, pelo que os avanços são uma contradição: antes de alguma vez serem colocados em benefício de toda a humanidade e do planeta em prol da paz, são instrumentos militares utilizados para fomentar guerras a fim de garantir o exercício da hegemonia!
 
A hegemonia tende pois a incorporar em todas as suas acções geo estratégias de tensão, recorrendo a ideologias medievais e fascistas e uma grande parte delas sustentadas com o uso sistematizado do músculo militar com todo o tipo de inovações.
 
A ditadura exerce-se em nome duma minoria, cada vez mais minoria, dos 1% conforme o movimento “Occupy Wall Stree”, contra os outros 99%!
 
Haverá pois uma estreita identidade entre o exercício da ditadura e o crescente uso dos “drones”?!
 
Desde há 25 anos que o regime fascista do “apartheid” os utilizou em Mavinga e Cuito Cuanavale que as novas tecnologias, fomentadas pelos norte americanos e seus aliados da OTAN e do ANZUS, tornaram os “drones” num processo de refinamento de forma a poupar os soldados, ou os meios mais caros e decisivos de intervenção, tendo em conta ainda o fantasma social da guerra do Vietnam, que explodiu a seu tempo como um enorme “efeito boomerang” sobre todo o tecido social norte americano.
 
Depois os “drones” diluem as responsabilidades do poder e da cadeia instrumentalizada a partir dele: torna-se mais fácil evocar erros e interpretações falíveis, pois o autor material do uso dos “drones”, está longe “do terreno” e o autor moral tem tantos assuntos para resolver que não pode perder tempo com ninharias!
 
Há todas as vantagens psicológicas para os detentores de poder e executores, em utilizar este tipo de engenhos, um pouco como os oficiais das SADF sobranceiramente olhavam para os angolanos, estivessem nas FALA ou nas FAPLA.
 
Por outro lado, como os “drones” são multi funções, podem também ser aproveitados por exemplo, para missões de reconhecimento, meteorologia, observação e vigilância, sobre o próprio território nacional de quem os opera!...
 
Todas as vezes que um “drone” é lançado, multiplicam-se os tipos de missão e transportam-se os módulos adequados a cada uma delas…
 
Há uma fronteira indefinida entre acções militares, acções de polícia e acções em função de responsabilidade de entidades civis tão inofensivos como os serviços meteorológicos…
 
O resto do mundo só tem uma alternativa, perante um poder tão avassalador, arrogante, “difuso” e perante o exercício duma hegemonia nos termos do império: encontrar fórmulas de multi-polarização geo estratégica por via dos emergentes, uma multi-polarização que conta também com o Não Alinhamento dos países do Sul e buscar capacidades tecnológicas e militares ao nível, para melhor se poderem defender as nações e os povos do Sul!
 
A XVIª Cimeira dos Não alinhados realizou-se recentemente em Teerão, capital do Irão e deu passos importantes no sentido das nações do Sul e os emergentes, particularmente os BRICS, estabelecerem plataformas de interesse comum e conjugação de esforços a fim de melhor resistirem à pressão do exercício da hegemonia por parte do império.
 
Também no caso do Irão há episódios interessantes em relação ao uso dos “drones”:
 
A 8 de Dezembro de 2011, mostrou a televisão estatal iraniana um “drone” que terá sido conduzido à aterragem em seu solo por descodificação e intrusão electrónica nos sistemas de guia, um ultra-moderno RQ-170 Sentinel, um sucedâneo do já há muito obsoleto Seeker-I que o regime do “apartheid” fez as SADF operar em Mavinga e Cuito Cuanavale contra as FAPLA e as FAR cubanas há 25 anos!
 
Derrubar ou neutralizar “drones” parece que tem sido um dos empenhos bem conseguidos nos últimos tempos por parte dos iranianos, em especial junto à fronteira com o AfPaq!
 
Assim como nem a tecnologia mais moderna dos norte americanos tem como fazer para seus secretos engenhos serem não só descobertos, mas também seus programas devassados, também o sistema de mensagens do Departamento de Estado foi colocado em cheque pelos meios do Wikileaks, por exemplo.
 
Também os meios de terrorismo que os Estados Unidos foram utilizando contra Cuba ficaram em cheque quando 5 corajosos cubanos, três deles que haviam servido em Angola contra o regime do “apartheid”, decifraram sistemas, redes, planos contra a sua pátria…
 
De facto, desde que o seu caso foi conhecido, que os Estados Unidos se viram obrigados a rectificar as tensões contra Cuba, evitando a utilização de acções terroristas conforme as protagonizadas por exemplo por Posada Carrilles, aumentando em contrapartida o nível das provocações!
 
Estados e entidades individuais armados com as novas tecnologias, têm de travar por vezes em condições muito difíceis, uma luta corajosa, por vezes heróica, contra o fascismo marcante da ditadura financeira, uma luta sem cartel, nem fronteiras.
 
Antes ainda havia o suporte do socialismo real, mas agora a sensação de não haver retaguarda, mas haver referências como Cuba, tem outro tipo de implicações!
 
A 11 de Setembro de 1973 foi iniciado em Santiago do Chile, com o derrube dum governo eleito e democrático como o de Salvador Allende, um processo que se nutriu do neo liberalismo da escola de Chicago, do fascismo e das ditaduras que foram extravasando da esfera político-institucional, para a esfera financeiro-política!
 
Hoje, mesmo com as “democracias representativas” o fascismo esconde-se, só se tornando mais evidente quando as crises financeiras atingem patamares insuportáveis para os povos-alvo, alguns deles na periferia da “civilização ocidental”!
 
É no momento em que essas crises redobram, que mais “drones” são lançados, por vezes da forma menos avisada, sobre alvos nos países do Sul!
 
Face às ditaduras, ao fascismo, à tecnologia de ponta usada pelo império em todas as frentes em que se tem empenhado (e elas são cada vez mais e mais prolíferas), só há uma alternativa:
 
Buscar capacidades para se incentivar a unidade, conjugar esforços, desmascarar se possível por dentro o seu “modus operandi” e objectivos, desmistificar a mentira difundida pelos média “de referência”, neutralizar os “drones” onde quer que eles sejam utilizados para intrusão, ou assassinato selectivo…
 
Os esforços dos países da OTAN e do AFRICOM em atrair para a órbita do império os africanos, não podem deixar de ser confrontados com a memória histórica da utilização dos “drones”, por quem e em nome do quê e de quem!
 
Todos nós não podemos esquecer: ditadura e fascismo tornaram-se indissociáveis aos “drones” desde que as SADF experimentaram a utilização dos veículos aéreos de pilotagem remota em plena confrontação militar, em Mavinga e Cuito Cuanavale, há 25 anos!
 
Foto: O “drone” RQ-170 Sentinel, neutralizado pelos peritos iranianos quando sobrevoava a fronteira do Irão com o Afeganistão e mostrado pela televisão oficial do irão a 8 de Dezembro de 2011.
 
A consultar entre outros:
- Iran-dronegate: Washington’s acrimony over de downed top secret spy drone – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28208
- O terrorismo de estado norte americano ameaça a humanidade e impede a paz – http://resistir.info/mur/mur_20ago11.html
- Discurso de Mahmoud Ahmedinejad na 65ª sessão da Assembleia geral da ONU – http://www.odiario.info/?p=2221
- É pecado imperdoável o uso de armas de destruição maciça – http://resistir.info/irao/mna_disc_abertura.html
 
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