João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
1. Passos Coelho nunca se mostrou disponível - muito menos com vontade - para introduzir no seu discurso uma nota de esperança para os portugueses sentirem que os seus esforços realmente serão frutíferos. Passos Coelho nunca foi capaz de mostrar a luz ao fundo do túnel sombrio que os portugueses percorrem - e têm de percorrer. Passos Coelho nunca se mostrou disponível, muito menos com vontade, para dar uma palavra de coragem aos funcionários públicos, aos mais pobres, aos mais afectados pela crise e pela austeridade que tão duramente impõe. Passos Coelho nunca se mostrou disponível para ter uma palavra de incentivo aos jovens: nunca foi capaz de nos dizer para ficar em Portugal. Para acreditarmos em nós. Para não desistirmos de Portugal. Bem pelo contrário: Passos Coelho apenas nos depreciou, nos atirou para o estrangeiro. Sugeriu até que nós, jovens, emigrássemos, logo secundado, pela personagem mais diabólica da política portuguesa, Miguel Relvas. Esta realidade é dura e triste - mas ainda mais triste e mais pungente é este facto: Passos Coelho e Miguel Relvas, esta lamentável gente, são quem nos governa. E ainda teremos de nos submeter aos seus caprichos durante mais 3 anos.
2. Estas considerações levam-nos ao timing escolhido por Passos Coelho para o anúncio das medidas. Recordamos que no dia anterior o Banco Central Europeu anunciou a aquisição da dívida pública portuguesa em 2013, o que é um auxílio significativo para que Portugal regresse aos mercados no próximo ano. Finalmente, os portugueses sentiram - ao menos, momentaneamente - que os seus esforços, afinal, podem valer a pena. Avistou-se, ainda que de forma ténue, uma luz de esperança no horizonte - não por iniciativa do Governo português, mas sim por uma entidade europeia! De repente, Passos Coelho, em vez de elogiar a medida do Banco Central Europeu, em vez de se colocar ao lado da decisão do Presidente do BCE, Passos Coelho nem se pronunciou sobre o mérito da medida - e dedicou apenas uns milésimos de segundo ao tema no seu discurso de sexta-feira. Ou seja, o Presidente da República elogiou o BCE; o líder da oposição regozijou-se com a decisão do BCE; o Primeiro-ministro de Portugal, que deveria ser o principal defensor dos interesses do país, desvaloriza o anúncio e até parece que contra-ataca. É isto mesmo: as medidas de austeridade parecem representar o contra-ataque de Passos Coelho à decisão - muito positiva para Portugal - de aquisição da nossa dívida pública por parte do Banco Europeu. Só assim se explica o silêncio ensurdecedor de Passos sobre o significado da medida (de uma entidade que, recorde-se, integra a troika) e o momento escolhido para o anúncio das medidas de austeridade. De facto, Passos Coelho nunca anteriormente tinha comunicado ao país novas medidas previamente ao anúncio da avaliação da troika (que será feito hoje à tarde pelo Ministro das Finanças). Passos Coelho nunca fora capaz de reagir tão tempestivamente a uma decisão de agentes europeus: Angela Merkel e o ministro das finanças alemão criticaram duramente - até enxovalharam - Portugal durante meses, mas Passos Coelho nunca foi capaz de reagir em defesa dos nossos interesses. O Banco Central Europeu, ao longo de meses, manteve-se inactivo, às ordens dos ditames alemães - Passos Coelho nunca foi capaz de, nem em público, nem através de vias institucionais, se revelar contra a orientação do Banco Central Europeu que tão mal fez a Portugal, que tão mal fez à União Europeia. Passos Coelho nunca foi capaz de defender Portugal contra o ataque das agências de rating contra Portugal - pelo contrário, até as defendeu.
2.1. Tudo isto já me parecia inadmissível. Mas um Primeiro-ministro que se coloca à margem de uma decisão bastante importante para Portugal, tomada pelo Banco Central Europeu, apenas para desagradar aos seus gurus ideológicos, aos seus camaradas de negócios, à sua amante política Angela Merkel, envergonha os portugueses. Este homem não merece estar à frente dos nossos destinos colectivos. Passos Coelho não tem condições, não tem categoria, não tem background nem profissional, nem académico, nem humano para ser Primeiro-ministro de um país com a grandeza histórica de Portugal. Esta Pátria e cada um de nós, portugueses, merecemos mais. Muito mais.
Ler mais: ACORDA E REAGE, PORTUGAL!
Sem comentários:
Enviar um comentário