terça-feira, 11 de setembro de 2012

Portugal: PASSOS COELHO FOI RAPTADO E HÁ UM IMPOSTOR EM S. BENTO

 


Paulo Gaião – Expresso, opinião, em Blogues
 
"O relançamento da capacidade de crescimento da economia é indispensável mas é também demorado, pelo que haverá a tentação de recorrer ao aumento dos impostos para reduzir o défice.
 
Porém, encontramo-nos numa situação em que a redução do défice à custa do aumento das taxas marginais de imposto tem um efeito mais negativo que positivo, isto é, mesmo que num primeiro momento a receita aumente, ela cairá em seguida de forma mais pronunciada como consequência do efeito depressivo que acarreta o aumento da carga fiscal" (Mudar, Pedro Passos Coelho, p. 159, editora Quetzal, 2010)
 
Mais bem explicadinho não podia estar. O Passos Coelho que escreveu isto no seu livro "Mudar" não pode ser o mesmo que ocupa hoje as funções de primeiro-ministro.
 
Conhecia-se a compilação de mentiras de Passos no You Tube na campanha para as legislativas de 2011. Mas na ânsia de ganhar, tudo é hoje possível (olhe-se o caso de Hollande que em dois meses já meteu o fim da austeridade na gaveta).
 
Mas é de todo inexplicável, face à política que hoje executa, Passos escrever em finais de 2009 o que escreveu em "Mudar", pouco depois da vitória do engenheiro Sócrates, com tempo para reflectir, para rever as provas, voltar a mergulhar no seu pensamento, entregar o livro à editora e apresentar a obra (o que fez em 22 de Janeiro de 2010).
 
O que se passou com este homem? O que o fez mudar? A própria troika aconselhou-o a fazer cortes pelo lado da despesa (leia-se reformas estruturais) e não insistir em mais impostos, como voltou a fazer com o aumento da TSU ( é de um verdadeiro imposto que se trata porque não se vai traduzir nas nossas reformas).
 
Também acabara de saber que as receitas tinham descido em virtude da quebra do consumo e da atividade económica, ao ponto de o défice público subir para 5,9%. Não há desculpa para anunciar o que anunciou na sexta-feira negra de 7 de Setembro.
 
Num aspecto, Passos permaneceu igual a si mesmo de 2009 para cá.. Apesar de tudo já bem explicadinho volta a explicar de outra forma no parágrafo seguinte da página 159. Para se enterrar ainda mais.
 
"Porquê? (a queda da receita por causa do efeito depressivo do aumento dos impostos) No caso dos impostos directos porque o nível de endividamento das famílias já não deixa uma grande margem para o Estado e uma redução do nível do rendimento disponível, forçada por impostos, trará as mesmas consequências depressivas sobre a procura e a actividade económica.
 
Por estas razões, se não podemos esperar pelo crescimento da economia para começar a diminuir o défice e se o aumento de impostos não gera receita suficiente e torna mais difícil voltar a crescer, daqui se retira a evidência de que não resta alternativa que não seja cortar a despesa de modo duradouro"
 
E Passos volta ainda a explicar noutra parte do livro para ninguém ter dúvidas sobre o seu pensamento:
 
"É verdade que, em princípio, aumentando impostos se consegue, no imediato, reduzir o défice através do aumento da receita. Porém, se nada for feito para reduzir sustentadamente a despesa, basta uma queda na actividade económica para que a receita caia, deixando de novo o problema do défice a descoberto.
 
Por vezes o próprio aumento de impostos pode conduzir à contracção da actividade económica, sobretudo se o nível de fiscalidade já for elevado, e com as mesmas consequências.
 
Outras vezes é a própria despesa que, com o tempo, acaba por elevar-se, anulando o efeito dos aumentos dos impostos e arrastando novas situações de défice.
 
Curiosamente, tudo isto aconteceu nos últimos anos em Portugal. Ora é porque temos um problema estrutural de excesso de despesa que estamos mais frequentemente sujeitos à eclosão de maiores défices no defeso económico. A solução consistente é mesmo reduzir a despesa de modo permanente, e só por isso trará a consolidação orçamental." (pag. 103 e 104).
 

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