A capa de uma
revista dos EUA mostra a posição obtusa da mídia de massa nas duas últimas
semanas: um mundo muçulmano está ardendo em um sentimento de ira contra o
ocidente por conta de um filme islamofóbico e hordas de manifestantes violentos
pelas ruas ameaçam a todos nós... Mas é verdade isso? Cidadãos e as novas
mídias estão respondendo, e o site Gawker fez uma sátira brilhante desta onda mostrando
imagens alternativas à "ira muçulmana" (no Twitter, várias pessoas
responderam à 'hashtag' #MuslimRage, usada ao longo deste artigo):
7 coisas que não
lhe contaram sobre a "#MuslimRage":
Como qualquer
pessoa, a maioria dos muçulmanos acharam o vídeo islamofóbico de 13 minutos de
má qualidade e ofensivo, e os protestos se espalharam rapidamente, tocando em
feridas compreensíveis e duradouras sobre o neo-colonialismo dos EUA e a
política externa ocidental no Oriente Médido, assim como a sensibilidade
religiosa no que diz respeito a representações do profeta Maomé. Mas
frequentemente a cobertura de mídia omite algumas informações importantes:
As estimativas
iniciais mostram que a participação em protestos contra o filme representam de 0,001 a 0,007% da população mundial de muçulmanos: 1.5 bilhão de
pessoas -- essa porcentagem representa uma pequena fração do número de pessoas
que marcharam pela democracia durante a Primavera Árabe.
A grande maioria
dos protestos foram pacíficos. As violações das embaixadas estrangeiras foram
quase todas organizadas ou nutridas por indivíduos do movimento salafista,
um grupo radical islâmico que se preocupa mais com destruir os grupos islâmicos
populares moderados.
Oficiais líbios e
americanos de alto escalão estão divididos sobre se o assassinato do embaixador dos
EUA na Líbia foi planejado previamente para coincidir com o aniversário do 11
de setembro, e portanto não estaria relacionado com o filme.
Além dos ataques
feitos pelos grupos militantes radicais na Líbia e Afeganistão, uma avaliação
das notícias atuais feita no dia 20 de setembro sugeriu que os manifestantes
mataram, ao todo, zero pessoas.
Quase todos os
líderes mundiais, muçulmanos ou ocidentais, condenaram o filme, e quase todos
eles condenaram qualquer tipo de violência que possa vir a acontecer enquanto
resposta.
O papa visitou o
Líbano no auge da tensão, e líderes do Hezbollah participaram do sermão papal, abstiveram-se de protestar
sobre o filme até que a santidade deixasse o local, e clamaram por mais
tolerância religiosa. Sim, isso aconteceu.
Após o ataque em
Bengazi, cidadãos comuns foram às ruas da cidade e em Tripoli com cartazes, muitos deles escritos em inglês, com pedidos
de desculpas e afirmando que a violência não os representava, nem sua religião.
Além dos pontos listados acima, há um grande número de notícias que foram ignoradas pela mídia na semana passada para dar margem a capa da revista Newsweek, a #MuslimRage e a cobertura dos conflitos. Na Rússia, dezenas de milhares protestaram nas ruas de Moscou contra o presidente russo Vladimir Putin. Centenas de milhares de portugueses e espanhois marcharam em protestos contra austeridade; e mais de um milhão de catalãos marcharam por independência.
Ira Muçulmana ou
Estratégia Salafista
filme "A
Inocência dos Muçulmanos" foi escolhido e distribuído com legendas por
Salafistas da extrema direita -- seguidores radicais de um movimento islâmico
apoiado há muito tempo pela Arábia Saudita. O filme era uma produção barata,
desastre no YouTube até que o apresentador de TV egípcio salafista, Sheikh
Khaled Abdullah (à direita) começou a divulgá-lo para seus espectadores no dia 8 de
setembro. A maioria dos muçulmanos insultados ignoraram o filme ou protestaram
pacificamente, mas os salafistas, de posse de suas bandeiras pretas, lideravam
os provocadores dos protestos mais agressivos que invadiram embaixadas. Os líderes
do partido salafista egípcio participaram do protesto em Cairo que culminou na
invasão da embaixada dos EUA.
Como a extrema direita nos EUA ou na Europa, a estratégia salafista e arrastar a opinião pública para a direita, aproveitando-se de oportunidades para espalhar o ódio e demonizar os inimigos de sua ideologia. Essa abordagem lembra muito o apelo anti-muçulmano do pastor americano Terry Jones (o primeiro a divulgar o filme no Ocidente) e outros extremistas nesse lado do mundo. Entretanto, nas duas sociedades os moderados ultrapassam (e muito!) em número os extremistas. Uma figura pública da Irmandade Muçulmana do Egito (o mais forte e popular oponente político dos salafistas no Egito) escreveu um artigo no New York Times dizendo: "Não responsabilizamos o governo americano ou seus cidadãos pelos atos daqueles que abusam das leis que protegem a liberdade de expressão".
Como a extrema direita nos EUA ou na Europa, a estratégia salafista e arrastar a opinião pública para a direita, aproveitando-se de oportunidades para espalhar o ódio e demonizar os inimigos de sua ideologia. Essa abordagem lembra muito o apelo anti-muçulmano do pastor americano Terry Jones (o primeiro a divulgar o filme no Ocidente) e outros extremistas nesse lado do mundo. Entretanto, nas duas sociedades os moderados ultrapassam (e muito!) em número os extremistas. Uma figura pública da Irmandade Muçulmana do Egito (o mais forte e popular oponente político dos salafistas no Egito) escreveu um artigo no New York Times dizendo: "Não responsabilizamos o governo americano ou seus cidadãos pelos atos daqueles que abusam das leis que protegem a liberdade de expressão".
A boa cobertura
jornalística
Um solitário grupo
de jornalistas e acadêmicos se aproximaram dos protestos com a intenção de
entender de verdade as forças por trás das manifestações. Entre eles, Hisham Matar, que descreve com afinco a tristeza na cidade
de Benghazi após a morte do embaixador Steven, e Barnaby Phillips, que explora como os conservadores
islâmicos manipularam o filme em prol de si mesmos. A antropóloca Sarah
Kendzior alerta para que não se trate o mundo muçulmano como uma unidade homogênea. E o professor
Stanley Fish aborda a seguinte questão: porque tantos muçulmanos são tão sensíveis a representações muito pouco lisonjeiras do Islã.
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