Pedro Cordeiro, em
San Sebastián - Expresso
Nacionalistas devem
vencer as primeiras eleições autonómicas após o fim da atividade armada da ETA.
E o braço político dos terroristas volta às lides.
Desde há algumas
horas que 1 775 291 cidadãos bascos podem votar naquelas que são as primeiras
eleições autonómicas sem a ameaça do terrorismo. Ontem cumpriu-se um ano sobre
a decisão, anunciada pelo grupo armado ETA, de não voltar a cometer atentados.
Os períodos eleitorais eram alturas particularmente perigosas até então.
Embora o grupo
terrorista tenha estado quase ausente da campanha, o País Basco está longe de
estar pacificado. As tensões acumuladas ao longo de décadas ainda subsistem e
há questões pendentes para que a reconciliação seja possível. Prova disso foi o
facto de o lehendakari (chefe do Governo basco), o socialista Patxi López, ter
sido invectivado por defensores dos presos da ETA quando foi votar, esta manhã.
Erguendo cartazes, tentaram pôr-se entre o governante (que se recandidata) e a
mesa de voto.
A questão dos
presos é complexa. Os governos centrais socialistas e conservadores adotaram,
há anos, a política de dispersar os etarras condenados por prisões em toda
Espanha, por vezes a centenas de quilómetros, para dificultar conspirações. A
medida dificulta, claro, as visitas de familiares e amigos. A ETA - e franjas
do nacionalismo não-violento - exigem que sejam encarcerados no País Basco.
Cartazes espalhados por prédios de toda a cidade de San Sebastián
reivindicam-no. Por outro lado, a ETA ainda não entregou as armas, passo
indispensável para a paz definitiva. O grupo rejeita a autodissolução exigida
pelos governos espanhol e basco e quer, sem matar, continuar a influenciar a
política.
Nacionalismo em
alta
O coletivo de
presos da ETA apelou ao voto na coligação Euskal Herria Bildu (Unir o País
Basco), uma sucessora alargada do antigo partido Batasuna, braço político dos
terroristas. Encabeçado pela universitária Laura Mintegi, deverá conseguir o
segundo lugar. Há 10 anos que este setor estava excluído das eleições, devido a
uma Lei de Partidos (de 2002) que proíbe formações que não condenem o
terrorismo.
As sondagens
preveem uma vitória do Partido Nacionalista Basco, formação conservadora e
católica criada no século XIX e que defende as suas ideias de forma pacífica,
tendo sempre condenado a ETA. O próximo lehendakari (líder do governo basco)
seria, nesse caso, Iñigo Urkullu, que deu prioridade à crise durante a
campanha, deixando de lado o soberanismo.
Os partidos
espanholistas - Partido Socialista Operário Espanhol, atualmente a governar o
País Basco; e Partido Popular, a governar Espanha - devem descer nas eleições.
Os seus candidatos, respetivamente Patxi López, atual lehendakari, e Antonio
Basagoiti, têm acusado Urkullu de ter uma "agenda escondida" para
reivindicar a independência.
Pressões de vários
lados
O certo é que, caso
Urkullu vença - e será certamente sem maioria absoluta -, sofrerá pressões fortes
de duas fontes para realçar o soberanismo: por um lado a coligação Bildu, por
outro os desenvolvimentos na Catalunha, onde o governo autonómico,
nacionalista, pretende realizar um referendo de autodeterminação nos próximos
anos.
Hoje também se vota
na Galiza, onde há nacionalismo, mas com menos força. O atual presidente
autonómico, Alberto Núñez Feijoo, terá de revalidar a maioria absoluta de há
três anos para continuar a governar. O primeiro-ministro Mariano Rajoy deseja
ardentemente que tal suceda, para poder ter uma pequena vitória num período que
lhe tem sido difícil. Caso contrário, o PSOE pode conseguir uma aliança
maioritária composta por partidos minoritários.
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