domingo, 21 de outubro de 2012

BASCOS VOTAM PELA PRIMEIRA VEZ SEM TERRORISMO

 


Pedro Cordeiro, em San Sebastián - Expresso
 
Nacionalistas devem vencer as primeiras eleições autonómicas após o fim da atividade armada da ETA. E o braço político dos terroristas volta às lides.
 
Desde há algumas horas que 1 775 291 cidadãos bascos podem votar naquelas que são as primeiras eleições autonómicas sem a ameaça do terrorismo. Ontem cumpriu-se um ano sobre a decisão, anunciada pelo grupo armado ETA, de não voltar a cometer atentados. Os períodos eleitorais eram alturas particularmente perigosas até então.
 
Embora o grupo terrorista tenha estado quase ausente da campanha, o País Basco está longe de estar pacificado. As tensões acumuladas ao longo de décadas ainda subsistem e há questões pendentes para que a reconciliação seja possível. Prova disso foi o facto de o lehendakari (chefe do Governo basco), o socialista Patxi López, ter sido invectivado por defensores dos presos da ETA quando foi votar, esta manhã. Erguendo cartazes, tentaram pôr-se entre o governante (que se recandidata) e a mesa de voto.
 
A questão dos presos é complexa. Os governos centrais socialistas e conservadores adotaram, há anos, a política de dispersar os etarras condenados por prisões em toda Espanha, por vezes a centenas de quilómetros, para dificultar conspirações. A medida dificulta, claro, as visitas de familiares e amigos. A ETA - e franjas do nacionalismo não-violento - exigem que sejam encarcerados no País Basco. Cartazes espalhados por prédios de toda a cidade de San Sebastián reivindicam-no. Por outro lado, a ETA ainda não entregou as armas, passo indispensável para a paz definitiva. O grupo rejeita a autodissolução exigida pelos governos espanhol e basco e quer, sem matar, continuar a influenciar a política.
 
Nacionalismo em alta
 
O coletivo de presos da ETA apelou ao voto na coligação Euskal Herria Bildu (Unir o País Basco), uma sucessora alargada do antigo partido Batasuna, braço político dos terroristas. Encabeçado pela universitária Laura Mintegi, deverá conseguir o segundo lugar. Há 10 anos que este setor estava excluído das eleições, devido a uma Lei de Partidos (de 2002) que proíbe formações que não condenem o terrorismo.
 
As sondagens preveem uma vitória do Partido Nacionalista Basco, formação conservadora e católica criada no século XIX e que defende as suas ideias de forma pacífica, tendo sempre condenado a ETA. O próximo lehendakari (líder do governo basco) seria, nesse caso, Iñigo Urkullu, que deu prioridade à crise durante a campanha, deixando de lado o soberanismo.
 
Os partidos espanholistas - Partido Socialista Operário Espanhol, atualmente a governar o País Basco; e Partido Popular, a governar Espanha - devem descer nas eleições. Os seus candidatos, respetivamente Patxi López, atual lehendakari, e Antonio Basagoiti, têm acusado Urkullu de ter uma "agenda escondida" para reivindicar a independência.
 
Pressões de vários lados
 
O certo é que, caso Urkullu vença - e será certamente sem maioria absoluta -, sofrerá pressões fortes de duas fontes para realçar o soberanismo: por um lado a coligação Bildu, por outro os desenvolvimentos na Catalunha, onde o governo autonómico, nacionalista, pretende realizar um referendo de autodeterminação nos próximos anos.
 
Hoje também se vota na Galiza, onde há nacionalismo, mas com menos força. O atual presidente autonómico, Alberto Núñez Feijoo, terá de revalidar a maioria absoluta de há três anos para continuar a governar. O primeiro-ministro Mariano Rajoy deseja ardentemente que tal suceda, para poder ter uma pequena vitória num período que lhe tem sido difícil. Caso contrário, o PSOE pode conseguir uma aliança maioritária composta por partidos minoritários.
 

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