domingo, 28 de outubro de 2012

Descolonização portuguesa facilitou invasão indonésia de Timor - investigador

 
Horta e Lobato, guerra civil em curso (1975)

RBV – JMR - Lusa
 
Lisboa, 26 out (Lusa) - O investigador da história de Timor, Fernando Augusto de Figueiredo, disse hoje à agência Lusa que a forma como Portugal deixou Timor-Leste facilitou a invasão indonésia da antiga colónia portuguesa.
 
"O processo de descolonização, como sabemos, foi muito atribulado, não foi preparado (...) o próprio processo de descolonização não foi um processo normal, não foi um processo pacífico, não foi um processo preparado, embora houvessem algumas pressões internacionais, nomeadamente das Nações Unidas", disse Fernando Augusto de Figueiredo, que lança hoje o livro "Timor - A Presença Portuguesa", no Museu do Oriente, em Lisboa.
 
Essas pressões, que, diz o investigador, começaram "muito cedo, na década de 1960", tinham como objetivo levar a ditadura portuguesa a preparar o futuro de Timor-Leste, até porque os holandeses já tinham atribuído a independência à Indonésia, em 1948, num processo que mereceu críticas pela forma desordenada como decorreu.
 
"Eram pressões no sentido de preparar o futuro de Timor, de preparar a administração, inserir cada vez mais os locais nessa administração e preparar o futuro de Timor através da preparação de elites locais capazes de tomarem conta, elas mesmas, desse território", frisou.
 
"A verdade é que não foi esse o caminho seguido, de forma orientada e consequente, pelo governo de Salazar e depois de Marcelo Caetano", acrescentou Fernando Augusto de Figueiredo.
 
O investigador do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa relaciona também a falta de quadros locais com a guerra civil que engoliu o território após a saída do governo colonial português, em 1975, ano em que a Indonésia invadiu Timor.
 
"Quando surge a descolonização, a gente que está preparada para esse tipo de tarefas administrativas é pouca, há todo o um movimento revolucionário e de violência que se gera a partir daí e que, de algum modo, justifica depois a intervenção da Indonésia, que aconteceria de qualquer modo mas que encontrou pretextos para o fazer daquela maneira", acrescentou.
 
O livro de Fernando Augusto de Figueiredo retrata a presença portuguesa numa perspetiva histórica entre 1769, quando os portugueses se fixam em Díli, a capital timorense, e 1945, quando acaba a ocupação de Timor pelos japoneses, na segunda Guerra Mundial.
 

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu pessoalmente gostaria de saber mais das “Eram pressões no sentido de preparar o futuro de Timor, de preparar a administração, inserir cada vez mais os locais nessa administração e preparar o futuro de Timor através da preparação de elites locais capazes de tomarem conta, elas mesmas, desse território". Surpreende me esta declaração. São evidentes em livros, que falam das lutas das independências de Angola, Cabo-Verde e Guiné Bissau e Moçambique, e que foram publicadas anos e anos antes da independência de Timor-Leste. Nestes livros, falam de uma retirada imediata de Portugal das colónias e não de ‘preparar’ como o aqui o refere o Dr Figueiredo. E quando se deu o 25 de Abril, já não havia mais possibilidades para esta ‘preparação’ pois os timorenses já perderam e os eventos internacionais pouco ajudava para Portugal ‘preparar’ os futuros líderes. Ler mais ou melhor mais pesquisas seria o melhor que posso dizer.

Anónimo disse...

É necessário que abra mais o horizonte de análize. Sem isso abastece as dúvidas e daí que leva as pessoas a dizerem que este livro nada trouxe de novo. Poder ser que tenha trazido novas informações que nunca vieram a tona, só que ignorar as resoluções das Nações Unidas dos anos 60 onde Portugal foi condenado por seus congéneres do imperialismo que começam tomar novos rumos, isto é saír de uma ideologia bem caducada, dando assim oportunidades as suas colónias escolher os seus destinos. Estamos a falar da Grã-Bretanha, França, Bélgica etc. portanto as críticas dirigidas a Portugal nunca podem ser vista como um tom de amizade, mas sim de uma forma de pressão ao abandono do imperialismo.

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