Mussá Baldé, da agência Lusa
Bissau, 28 out
(Lusa) - No bairro de Antula, um dos mais pobres da capital da Guiné-Bissau, um
grupo de jovens está a mudar a vida das pessoas através de projetos simples:
criação de patos e formação intensiva em várias áreas.
Em cinco anos a
Associação Asas do Socorro (AAS) já formou mais de mil jovens do bairro de
Antula em áreas como informática, contabilidade ou gestão de recursos humanos.
E ainda ajuda a melhorar a higiene e a dieta alimentar no bairro.
Alfredo Cá, mentor
e secretário executivo da associação, conta à Agência Lusa que a iniciativa
surgiu pela necessidade de mudar a vida das pessoas do bairro, sobretudo dos
jovens. Antes da existência da AAS "não havia um único jovem no bairro de
Antula formado no domínio da informática", hoje "são mais de
mil", conta.
Uma casa simples
erguida no coração de bairro serve de centro de formação. Local de frequência
obrigatória dos jovens, por lá é ensinada a informática e outras matérias,
ministradas por jovens que já se formaram no mesmo local.
Tudo começou com
cinco computadores. Hoje já são mais de 30. Com o dinheiro gerado pela
associação, alguns jovens do bairro frequentam cursos superiores em Portugal e
no Brasil.
Com orgulho,
Alfredo Cá conta que os equipamentos que dão energia solar ao centro foram
oferecidos "por amigos italianos". A uma centena de metros, o
rudimentar aviário (com mais de 1.500 aves), foi construído com fundos da
Solidariedade Socialista Belga.
Ao lado do aviário
fazem-se potes de barro com torneiras. Alfredo Cá diz que os potes melhorados
são já usados por várias famílias do bairro o que, enfatiza, ajuda a reduzir os
riscos de contrair infeções.
Para o responsável,
o muito que a associação já conseguiu partiu de coisas simples. A criação de
patos, por exemplo, começou com uma oferta de 50 dólares (38,6 euros) feita por
"um amigo brasileiro", que gostou do trabalho da associação.
"Com esse
dinheiro comprámos três patos, metemo-los no aviário, hoje temos 19
patos", diz Alfredo Cá. A criação é vendida no mercado do bairro e em
quase toda a capital, Bissau.
O aviário tem
galinhas de raças cruzadas, as da Guiné e as do Gana, o que dá galinhas de
tamanho grande, diz Cá, ao mesmo tempo que anuncia outros projetos para fazer
crescer o aviário.
O responsável da Asas
do Socorro vê na criação dos animais uma forma de "combater a pobreza e de
melhorar a dieta alimentar no bairro", mas também uma forma de ajudar o
país a canalizar as divisas para outros setores.
"Gasta-se
muito dinheiro na compra de frango importado e de ovos. Dados das Alfandegas de
Bissau mostram que só em 2009 o país importou 1.300 toneladas de frango
congelado e 800 toneladas de ovos. É muito dinheiro. Nós queremos inverter
isso, produzindo estes produtos aqui no país", sublinha.
Confiante na justeza
da linha orientadora da sua associação, Alfredo Cá mostra à Lusa a única
carrinha que AAS possui e que serve apenas para transportar os animais para os
mercados e trazer a ração alimentar para o aviário.
"Depois de
tudo isso paramos a carrinha", garante, salientando a diferença da
"sua" associação em relação a outras, que, diz, "preferem ter
carros em vez de projetos".
No futuro, a
associação pretende continuar a desenvolver-se apoiando mulheres viúvas em
projetos de criação de animais em casa, formar mais jovens, produzir a própria
ração para os animais e produzir o arroz, que é a base da dieta alimentar do
país.
Se possível, diz, a
associação conta ter um frigorífico próprio para congelar o frango abatido para
depois vender aos restaurantes.
A ideia de Alfredo
Cá é transformar radicalmente a vida em Antula, um bairro que o próprio
carateriza de urbano e rural ao mesmo tempo e que terá de conhecer o
desenvolvimento nos próximos tempos, nas Asas do Socorro.
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