… antes da criação
oficial
Ana Graziela Aguiar
- Repórter da TV Brasil
Brasília -
Chefiados por ditaduras militares, o Paraguai, Uruguai, a Argentina, o Chile, a
Bolívia e o Brasil, uniram-se para reprimir os opositores ao regime que
vigorava nesses países, ação que ficou conhecida como Operação Condor. O
documento que cria oficialmente a cooperação é de dezembro de 1975, mas
documentos inéditos, obtidos com exclusividade pela reportagem da Empresa
Brasil de Comunicação (EBC), comprovam que o esquema já existia cinco anos
antes.
Um desses
documentos relata a prisão do ex-coronel do Exército Jefferson Cardin Osório na
Argentina, em dezembro de 1970, o primeiro alvo da Operação Condor. Em 1965,
Osório comandou a guerrilha de Três Passos, em Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul, a primeira contra o regime militar do Brasil e, por isso, era um militante
visado. Um ano antes, ele teve os direitos políticos cassados pelo Ato
Institucional 4, de 1964.
A prisão de Osório
é detalhada em um documento da Embaixada do Brasil na Argentina. Nele, o adido
brasileiro conta que obteve informações sobre o local onde estava Osório e como
efetuou a prisão com o auxílio da polícia argentina. No texto, o representante
brasileiro ressalta a existência de um decreto que permitia que os presos
fossem entregues às autoridades brasileiras.
O acordo permitia “a
expulsão de estrangeiros que contribuíssem para a desarmonia entre países e se
mostrassem ligados às atividades subversivas”, conforme o documento. Com base
na política de cooperação entre os países, Osório, o filho dele e um sobrinho
foram trazidos ao Brasil de forma sigilosa e o destino foi ocultado da família.
Para Jair Krischke,
presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, a ação comprova como os
países, inclusive o Brasil, já agiam mesmo antes da criação oficial da Operação
Condor. “Podemos nomear vários casos da Operação Condor, realizada pelo Brasil
em cooperação com o Uruguai, Chile e com a Argentina. E, muitíssimo antes da
famosa reunião de Santiago do Chile, que é novembro de 75 [1975]. O Brasil
operava com total discrição, muito na característica da ditadura brasileira,
sem deixar impressões digitais, sempre cauteloso no agir, diferentemente dos
outros aparelhos repressivos da região que tinham plena certeza da impunidade,
que iam passar impunes a vida toda. E o Brasil sempre se resguardou,” explicou.
Mesmo sem ter
assinado a ata de criação da operação, em uma reunião realizada em Santiago, a
capital chilena, o Brasil teve participação fundamental na estrutura da Condor,
na avaliação de Krischke. “O aparelho repressivo brasileiro, já altamente
sofisticado, em dezembro de 70, realiza a primeira Operação Condor em Buenos
Aires”, revelou, em referência à prisão de Osório.
A TV Brasil iniciou ontem (15) a exibição
da série jornalística, com quatro reportagens, sobre a Operação Condor. Até o
dia 19, o Repórter Brasil Noite vai exibir uma reportagem, sempre às 21h, com
reprise no Repórter Brasil Manhã, às 8h. Depoimentos completos, fotos e
documentos estão disponíveis no portal da EBC, no endereço www.ebc.com.br/operacaocondor
Edição: Carolina
Pimentel e Lana Cristina
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