Baptista-Bastos –
Diário de Notícias, opinião
Pedro Passos Coelho
gosta de dizer coisas. Já se sabe. Poucas vezes, porém, as diz acertadas. Há,
neste homem envelhecido, acabrunhado e notoriamente consumido, a revelação
subjacente de que se envolveu num labirinto cujo término ignora. As políticas
que desenvolve, com desvios, evasivas, recuos, imperfeições, criam desesperos,
angústias e perplexidades. Completamente desorientado com o rumo dos
acontecimentos que não domina, descobriu, nas jornadas parlamentares do
PSD-CDS, o verbo "refundar", e originou não só o pasmo nas suas
hostes como a perturbação nas de António José Seguro.
Marcelo Rebelo de
Sousa explicou a natureza do erro e a dimensão do tolejo político. Passos,
incisivo e fatal, declarou que a "refundação" do protocolo de
ajustamento com a troika nada tinha a ver com "renegociação"; é outra
coisa. Mas não explicou a natureza das suas elucubrações. Os participantes nas
jornadas saíram em silêncio, entreolhando-se, porém, com a farpa da dúvida
cravada no ânimo. "Ele parece lelé da cuca", disse alguém.
Estamos entregues
às insuficiências de um homem que baralha tudo e que presume enganar os outros
com atropelos semânticos. O nosso cansaço advém de já termos compreendido que a
inépcia de Passos Coelho não é uma escolha entre contradições, sim um processo
mental complicado, pela obstinação no erro e pela recusa em o admitir.
Alguém de recta
consciência e no perfeito domínio das faculdades elementares pode apoiar e
sustentar o representante de uma ideologia que, sem pudor, já se não esconde
nem sequer se dissimula? A sociedade, transversalmente, critica, execra e até
expele, com insultos nunca vistos e ouvidos, este Executivo; e o dr. Cavaco
(também objecto de escárnio e maldizer) cala-se, admitindo a redução da
democracia ao funcionamento processual. O descalabro associa-se à pouca
vergonha.
O poder já não
dispõe de suporte legítimo porque espezinhou as delegações sociais, políticas e
morais que lhe foram atribuídas. Ainda não há muito se dizia que um
"governo celerado" era o que desdenhava da própria qualidade das
pertenças mútuas. Os conflitos de valores inultrapassáveis, que dilaceram a
nação e nos transformam em títeres de uma experiência maléfica, irão resultar
em que confrontos imprevisíveis? A responsabilidade do caos só pode ser
atribuída ao dr. Cavaco. Já lhe dissemos que não queremos esta gentalha. Então?
Por muitíssimo menos, Jorge Sampaio escorraçou Pedro Santana Lopes.
A
"refundação" do protocolo de ajustamento não é uma falácia:
corresponde a uma manobra sórdida, que repõe a questão do poder e da liberdade,
entre a pluralidade das escolhas e os ínvios atalhos da
"inevitabilidade." Atentemos nas evidências: Pedro Passos Coelho não
é aquele sujeito afável que se apresentou aos costumes. É perigoso, e cada vez
mais, quando se lhe avizinham as tormentas.
3 comentários:
LÉ LÉ DA CUCA?
Nem pensar!
Quem é LÉ LÉ DA CUCA foi quem o elegeu!
REFUNDAÇÃO!
Os portugueses precisam ser todos REFUNDADOS...
Assim talvez nasça uma nova nacionalidade: os "berlenguenses", naturais das Berlengas!
REFUNDADOS?
OS PORTUGUESES PRECISAM É SER TODOS REAFUNDADOS!
POR ISSO É QUE FORAM BUSCAR O PORTAS, ESPECIALISTA EM SUBMARINOS, PAR O GOVERNO: PARA REAFUNDAR PORTUGAL E OS PORTUGUESES!
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