Na data indicada em baixo, há
menos de um mês, no Maka Angola podiamos ler o texto em que Lázaro Pinduca
referia o correspondente ao título exposto mais em baixo. Volvido este tempo Página
Global obteve informação de que a situação está a piorar sem que as autoridades
reajam e evitem o pior em várias zonas de Angola onde a fome dos angolanos (crianças
e adultos) alastra e é facilmente constatada. Eis o texto, infelizmente atual,
com cerca de 20 dias. (Redação PG)
22 MIL CRIANÇAS
PODEM MORRER À FOME
Lázaro Pinduca –
Maka Angola, em 20 setembro 2012
Uma avaliação
realizada pelo Departamento Nacional de Nutrição, do Ministério da Saúde, com o
apoio das Nações Unidas, indica que cerca de 533 mil crianças, com menos de
cinco anos, nas dez províncias angolanas mais afectadas pela seca estão em
situação de má-nutrição aguda. A informação está contida no relatório publicado pelo Escritório das Nações Unidas para
a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), em Maio passado.
Maka Angola retoma
o relatório, passados mais de três meses, devido ao agravamento da fome em
algumas regiões do país, em particular na província da Huíla onde o nosso
correspondente local tem visitado as áreas afectadas. Outrossim, terminado o
período eleitoral, em que o governo transmitiu a imagem de um povo feliz e a
oposição ignorou a fome que assola o país, urge abordar essa realidade.
A avaliação oficial
calcula em 20 porcento o número de crianças em situação de má-nutrição severa
(105,000 a 110,000 crianças), e uma possível taxa de mortalidade de 20 porcento
dentre estas. Ou seja, 21,000 a 22,000 crianças angolanas podem morrer à fome
este ano.
O Ministério da
Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (MINADERP) estima que cerca de um
milhão e 834 mil habitantes estejam afectados pela estiagem este ano. O número
corresponde a a cerca de 10 porcento do total da população angolana e indica, como
as áreas mais afectadas, as províncias do Bengo, Kwanza-Sul, Benguela, Huíla,
Namibe, Cunene, Moxico, Bié, Huambo e Zaire.
Em Abril passado, o
Conselho de Ministros aprovou o plano de resposta à seca do MINADERP, avaliado
em US $43 milhões, destinados à assistência alimentar de emergência e à
distribuição de sementes e utensílios agrícolas para a preparação lavoura em
tempo oportuno.
A fome tem assolado
com particular inclemência, nos últimos tempos, as populações do município dos
Gambos, com mais de 150,000 habitantes, na província da Huíla.
O ancião Tomás
Firmino revelou a morte, à fome, de três crianças, de Maio a Agosto, na povoção
de Kayla, no município do Gambos.
Segundo o Padre
Jacinto Pio Wakussanga, “As reservas alimentares esgotaram-se, sobretudo das
populações que habitam a fronteira com a província do Namibe, numa área
semi-desértica”. O sacerdote referia-se especificamente às comunidades a sul do
município, na comuna da Chibemba, onde habitam maioritariamente Muhacavonas e
Mucubais, como as mais afectadas pela estiagem nos Gambos.
O Padre Pio
enumerou, para além da estiagem, a explosão demográfica nos Gambos, a
distribuição iníqua de terras e recursos naturais, bem como a intensa
exploração de rochas ornamentais como factores agravantes da fome.
“Alguns fazendeiros
controlam grande parte das terras, que pouco as usam para a agricultura e mais
para a pecuária. Mas, os fazendeiros controlam apenas quatro porcento do gado,
enquanto os populares controlam 96 porcento da reserva ganadeira no município”,
disse o presbítero.
O Padre Pio
explicou que “os fazendeiros usam grande parte das terras para deixar crescer
capim e com este produzir feno de reserva, para a alimentação do gado”.
Enquanto isso, ainda de acordo com o religioso, os populares têm de usar pouca
terra, tanto para a agricultura de subsistência como para o pasto. Sobre a
exploração do granito, como actividade alternativa à agro-pecuária, o sacerdote
afirmou que a mesma ”não produz quaisquer benefícios para as comunidades
locais”.
Por sua vez, o
secretário da Associação de Criadores de Gado da Comunidade Ovatunga, Fernando
Tyhetekey, já registou a morte de cerca de cinquenta cabeças de gado nos
últimos meses, por falta de pasto.
As autoridades
provinciais, segundo a chefe de departamento para a assistência da direcção
provincial da Assistência e Reinserção Social, Francelina Tomás, estão a
realizar levantamentos sobre a situação de fome com vista a assistir os
populares.
O Município dos
Gambos situa-se a 127 quilómetros a Sul da cidade do Lubango, a capital da
província da Huíla, e faz fronteira com as províncias do Cunene e do Namibe. No
entanto, não há informação pública sobre a disponibilização das verbas e dos
programas implementados para minimizar os efeitos negativos da estiagem.
O sofrimento das
populações mais desfavorecidas e a alta taxa de mortalidade infantil, por
má-nutrição, contrasta com o facto de Angola registar um dos maiores
crescimentos económicos no mundo. Só para a campanha eleitoral, o MPLA, o
partido no poder, terá gasto perto de US $70 milhões, um valor de longe
superior ao fundo aprovado para combater os efeitos da seca em todo o país, e
cujo desembolso não é certificado.
Relacionado em Maka
Angola
Sem comentários:
Enviar um comentário