Deutsche Welle
As escolas públicas
da Guiné-Bissau estão paradas há mais de um mês com a greve dos professores,
que reivindicam salários atrasados. A DW África apurou que os alunos adquirem
"más práticas" nos bairros onde residem.
O governo de
transição, nomeado após o golpe de Estado militar de 12.04, não consegue
resolver o problema dos professores e os pais e encarregados da educação do
alunos admitem que o ensino público chegou no fundo do poço.
"Eles não merecem perder as suas aulas, mas a greve dos professores é legítima", disse um cidadão de Bissau aos microfones da DW África, nas ruas da capital. Outra cidadã constata que "há algumas crianças que têm a oportunidade de estudar porque os pais têm condições e outras estão em casa paradas – e não sabemos até quando. Para mim, isso é reflexo de um país desorganizado".
Um outro senhor afirmou que "os direitos das crianças não estão a ser cumpridos. Eles têm o tempo livre muito [mal] gasto", disse.
Os sindicatos dos professores estão a estender a paralisação do ensino público do país até dezembro e veem esta como a única forma exigir melhores condições laborais. Porém, observadores enxergam a greve como uma ação sem fim à vista.
"Eles não merecem perder as suas aulas, mas a greve dos professores é legítima", disse um cidadão de Bissau aos microfones da DW África, nas ruas da capital. Outra cidadã constata que "há algumas crianças que têm a oportunidade de estudar porque os pais têm condições e outras estão em casa paradas – e não sabemos até quando. Para mim, isso é reflexo de um país desorganizado".
Um outro senhor afirmou que "os direitos das crianças não estão a ser cumpridos. Eles têm o tempo livre muito [mal] gasto", disse.
Os sindicatos dos professores estão a estender a paralisação do ensino público do país até dezembro e veem esta como a única forma exigir melhores condições laborais. Porém, observadores enxergam a greve como uma ação sem fim à vista.
Falta de
escolaridade no governo
Os mais críticos
apontam como muito negativo o estado do ensino no país, com a constante
promoção do analfabetismo e a formação de praticamente todos os governos com a
inclusão de ministros sem muita escolaridade.
Aliás, muitos observadores notam que, talvez por isso, a educação na Guiné-Bissau tenha sido sempre relegada para o segundo plano. Esta posição é também confirmada pelo professor de geografia Carlitos N'baná, do liceu nacional Kwame Nkrumah: "[O estado do ensino na Guiné-Bissau é] miserável mesmo. O professor ganha um dinheiro que nem dá para viver. E também não recebe na altura certa, no momento certo. Isso é desencorajador, mesmo, para um professor", lamenta N'Baná, que explica ainda que os professores precisam de arranjar outra forma de ganhar dinheiro para completar o orçamento.
O professor acredita que o país não tem falta de quadros, mas o problema é que os incentivos são tão poucos que os melhores professores decidiram emigrar para trabalhar em Cabo Verde. Os que se formaram em Portugal, nomeadamente na área da Medicina, acabaram por ficar no país europeu.
"É lógico!", exclama N'Baná. "Mesmo na tabanca (aldeia), quando se vê que és professor, não tens o tratamento condigno de um ser humano. Um professor, em comparação com um funcionário de Finanças... não se vê nem que o professor é um ser humano", critica o educador.
Aliás, muitos observadores notam que, talvez por isso, a educação na Guiné-Bissau tenha sido sempre relegada para o segundo plano. Esta posição é também confirmada pelo professor de geografia Carlitos N'baná, do liceu nacional Kwame Nkrumah: "[O estado do ensino na Guiné-Bissau é] miserável mesmo. O professor ganha um dinheiro que nem dá para viver. E também não recebe na altura certa, no momento certo. Isso é desencorajador, mesmo, para um professor", lamenta N'Baná, que explica ainda que os professores precisam de arranjar outra forma de ganhar dinheiro para completar o orçamento.
O professor acredita que o país não tem falta de quadros, mas o problema é que os incentivos são tão poucos que os melhores professores decidiram emigrar para trabalhar em Cabo Verde. Os que se formaram em Portugal, nomeadamente na área da Medicina, acabaram por ficar no país europeu.
"É lógico!", exclama N'Baná. "Mesmo na tabanca (aldeia), quando se vê que és professor, não tens o tratamento condigno de um ser humano. Um professor, em comparação com um funcionário de Finanças... não se vê nem que o professor é um ser humano", critica o educador.
Pior momento da
história para o ensino público da Guiné-Bissau
Carlitos N'baná leciona no maior liceu da Guiné-Bissau e diz não acreditar no ensino público guineense. Daí que diz ter enviado a sua filha para estudar numa escola privada, por considerar as condições "muito melhores": "Nem penso que ela vai estudar em escola pública. Tem de estudar em escola privada. Isso vai ser uma luta. Nem sequer [sei como] vamos comer, mas ela vai para uma escola privada", afirma.
Pelo facto de o ensino público estar a atravessar um dos piores momentos da sua história, Evaldino Correia, estudante do décimo segundo ano, diz que a maioria dos alunos matriculou-se nas escolas privadas como alternativa, porque "não há condições favoráveis. Nós, que não temos condições de pagar as mensalidades nas escolas privadas, vamos ficar à espera da reabertura das aulas".
Aumento de delitos de jovens
Já o professor Carlitos N'baná afirma que, com as constantes paralisações, a delinquência juvenil tem aumentado nos bairros residenciais. N'baná acrescentou que com a maioria dos alunos da Guiné-Bissau em casa, os jovens vão "formando idéias" e "adquirindo comportamentos agressivos e condenáveis".
Carlitos N'baná leciona no maior liceu da Guiné-Bissau e diz não acreditar no ensino público guineense. Daí que diz ter enviado a sua filha para estudar numa escola privada, por considerar as condições "muito melhores": "Nem penso que ela vai estudar em escola pública. Tem de estudar em escola privada. Isso vai ser uma luta. Nem sequer [sei como] vamos comer, mas ela vai para uma escola privada", afirma.
Pelo facto de o ensino público estar a atravessar um dos piores momentos da sua história, Evaldino Correia, estudante do décimo segundo ano, diz que a maioria dos alunos matriculou-se nas escolas privadas como alternativa, porque "não há condições favoráveis. Nós, que não temos condições de pagar as mensalidades nas escolas privadas, vamos ficar à espera da reabertura das aulas".
Aumento de delitos de jovens
Já o professor Carlitos N'baná afirma que, com as constantes paralisações, a delinquência juvenil tem aumentado nos bairros residenciais. N'baná acrescentou que com a maioria dos alunos da Guiné-Bissau em casa, os jovens vão "formando idéias" e "adquirindo comportamentos agressivos e condenáveis".
"Obviamente
que está a aumentar o nível de delinquência no país", constata N'baná. "Os
jovens que não têm nada a fazer vão a criar estes grupos que se chama de
'bancadas' e desvalorizam aquele [comportamento] que é socialmente permitido. Ficam
a sentar-se na rua a beber Warga (chá) e mais outras coisas aí...",
enumera.
Nos últimos anos, os tribunais conhecem cada vez mais casos de furto, posse de armas e de drogas, agressões e abusos sexuais praticados por jovens que ainda não atingiram a idade adulta e não se encontram em condições financeiras para estudarem nas escolas privadas, já que dizem não esperar muito do Estado.
Autor: Braima Darame (Bissau) - Edição: Renate Krieger/António Rocha
Nos últimos anos, os tribunais conhecem cada vez mais casos de furto, posse de armas e de drogas, agressões e abusos sexuais praticados por jovens que ainda não atingiram a idade adulta e não se encontram em condições financeiras para estudarem nas escolas privadas, já que dizem não esperar muito do Estado.
Autor: Braima Darame (Bissau) - Edição: Renate Krieger/António Rocha
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